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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Todas as ferramentas servem para o desenrascanço…

Quando 10 homens atacaram o hotel Taj Mahal em Mumbai, em novembro de 2008, executaram um dos atentados terroristas mais bem orquestrados e tecnologicamente mais avançados da história. Antes do ataque, recorreram ao Google Earth para explorar modelos 3-D do alvo e determinar os melhores percursos de entrada e de saída, posições defensivas e postos de segurança.
Durante o tumulto, usaram BlackBerrys, telefones por satélite e auriculares GSM para coordenarem operações com o seu centro de comando no Paquistão, que supervisionou os noticiários e a Internet e forneceu informação e orientações táticas em tempo real. Quando um transeunte publicou no Twitter a fotografia de comandos a descer de um helicóptero para o telhado de um dos edifícios, o centro alertou os atacantes, que montaram uma emboscada num vão de escada. As autoridades demoraram 3 dias a matar 9 dos terroristas e prender o 10.º, cuja confissão forneceu pormenores da operação, que resultou em 163 mortos e centenas de feridos.
Atrocidades como esta são um exemplo extremo, mas o facto é que a tecnologia é cada vez mais usada para fins perversos. Consumidores e empresas têm de lidar com os resultados, desde os pequenos aborrecimentos, quase ridículos, como os e-mails falsos a pedirem dinheiro em nome de conhecidos que “estão retidos em Inglaterra”, até à apropriação de dados de cartões de crédito. Durante os 25 anos em que fui agente de autoridade, primeiro como polícia, depois como consultor de contra terrorismo e, na última década, como especialista de risco cibernético e espionagem – a tendência mais notável a que assisti foi à sofisticação crescente das organizações criminosas e terroristas globais (acredita-se que as primeiras realizem 2.000 milhões de dólares por ano).
Alguns aspetos desta tendência não são recentes: os cartéis de droga colombianos, por exemplo, são tecnologicamente avançados desde os dias do Miami Vice. Porém, grupos criminosos internacionais mais recentes, incluindo a Rede de Negócios Russa, a Superzonda sul-americana e a internacional ShadowCrew, tornaram-se especialmente adeptos da expropriação de táticas legítimas de negócio para criar equipas globais altamente eficientes e estabelecer boas práticas de estratégia adaptativa na gestão de cadeias de abastecimento, uso de incentivos e colaboração global, entre outras.
Eis 5 lições que as empresas podem aprender com as atividades desses grupos:
Notícias para criar oportunidades - Os grupos criminosos transformaram numa arte a observação do que acontece para, com recurso rápido à tecnologia, capitalizarem o que descobrem. Horas depois do terramoto no Haiti em 2010, por exemplo, já circulavam e-mails pedindo o envio de dinheiro para a Cruz Vermelha Britânica através da Western Union. A causa parecia nobre, mas a Cruz Vermelha Britânica não aceita doações através da Western Union. Os criminosos, sempre com grande capacidade de adaptação, estão também a criar números de telefone fraudulentos, alegadamente doando 10 cêntimos por chamada para zonas de calamidade.
Os ladrões estão também a explorar tendências tecnológicas de longo prazo. Enquanto as corporações se debatem para transformar em dinheiro os seus seguidores nas redes sociais, os criminosos não tardaram em perceber que os tweets e as atualizações do Facebook eram ferramentas valiosas para planear assaltos a casas, e que os dados expostos nas redes sociais podiam facilitar a usurpação de identidade.
A lição: siga as notícias, aja rapidamente e tente adiantar-se às tendências.
Recurso a especialistas - O crime moderno organizado abandonou a pesada hierarquia de comando composta por dons e capos, que ficou famosa em O Padrinho. A maior parte dos gangues atuais, assim como a Al Qaeda e outros grupos terroristas, são redes cooperativas pouco rígidas, que recrutam tanto web designers e hackers como mafiosos e mercenários. Recorrem habitualmente a nichos de mercado em busca de conhecimentos especializados. (O Dubai, por exemplo, oferece os melhores talentos na lavagem de dinheiro.) Estabelecem redes de contactos para desenvolver fontes com as aptidões especiais de que precisam, tal como os estúdios de Hollywood procuram talentos para protagonizar determinado filme.
Por exemplo, os especialistas em roubo de identidade sabem onde encontrar artistas capazes de reproduzir os hologramas dos bilhetes de identidade e dos cartões de crédito, e recorrem a um call center na Rússia cujos empregados, que falam várias línguas, trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana e são peritos em fazer telefonemas fraudulentos para bancos, fazendo-se passar por qualquer pessoa, desde uma dona de casa italiana abonada a um médico brasileiro.
A lição: não se limite aos talentos domésticos. Cultive contactos com prestadores de serviços que lhe possam fornecer as aptidões específicas que o seu projeto exige.
O dinheiro não é o único incentivo - As organizações criminosas pagam bem, para compensar os riscos legais envolvidos e porque as suas elevadas margens de lucro lho permitem. Mas compreendem que os membros da equipa, em geral, não se envolvem só por causa do dinheiro. Muitos gostam da sensação de desafiar a lei. Outros, em particular os hackers, também são motivados pelos desafios representados pelos sistemas sofisticados de segurança e pela possibilidade de se gabarem quando os violam.
Embora as organizações criminosas ainda empreguem a sua parte de arruaceiros vários, estão cada vez mais a atrair pessoas com alto nível de instrução, que procuram autonomia e estímulo intelectual, não muito diferentes das pessoas atraídas pelo risco e pelo ambiente de trabalho exigente de uma start-up.
A lição: as empresas orientadas socialmente não são as únicas que podem aproveitar como força motivadora o desejo dos trabalhadores de encontrarem sentido no trabalho. Descubra uma forma de satisfazer as necessidades de reconhecimento, desafio e pertença dos seus empregados.
Exploração dos efeitos a longo prazo - Até ao aparecimento da Internet, muitos criminosos seguiam uma abordagem de “blockbuster”: estavam sempre à procura de um grande feito, por exemplo, o assalto a um banco, que lhes permitisse um lucro avultado. Os terroristas ainda procuram ataques espetaculares, no intuito de maximizarem o choque e a perturbação da sociedade. Mas os criminosos globais aprenderam que podem arrebatar grandes lucros executando várias operações de menor dimensão – uma estratégia que lhes permite eficiência de ganhos, desenvolvimento contínuo e riscos reduzidos.
Se alguma vez foi vítima de uma fraude com o seu cartão de crédito, notou provavelmente uma série de compras de valor médio, normalmente realizadas online; estas podem ser concretizadas por pessoas que nem percebem que estão a participar num esquema ilícito (normalmente são informadas pelas organizações criminosas de que fazem parte de uma operação de import-export.) As compras feitas não excedem os 1.000 dólares por cartão. Contudo, o valor multiplicado por milhares de transações resulta num lucro enorme.
Quem comete fraudes pequenas mas de elevado lucro também conduz continuamente experiências a fim de melhorar os resultados. Podem usar diferentes “assuntos” no mesmo e mail fraudulento, para compararem as taxas de resposta e aperfeiçoarem a linguagem no ataque seguinte.
A lição: um modelo de negócio que tenha por objetivo muitas pequenas transações em vez de uma única em grande escala pode resultar em maiores lucros a longo prazo e fornece numerosas oportunidades de aumentar a eficiência ao longo do tempo.
Colaboração internacional - Vários grupos islâmicos radicais trabalham agora com a Al Qaeda, embora as entidades permaneçam distintas. O mesmo acontece com o crime organizado: As Tríades de Hong Kong e a Yakuza japonesa uniram forças para comercializar drogas sintéticas e os cartéis colombianos cooperam com as máfias russas e da Europa de Leste para expandir o alcance dos seus produtos.
Apesar de a globalização ter sido uma forma importante de as empresas aumentarem as oportunidades de mercado, a estratégia oferece um benefício adicional ao crime organizado: pode criar obstáculos legais aos agentes da autoridade, que normalmente não são tão adeptos da colaboração internacional como os criminosos que perseguem.
A lição: não olhe para os seus concorrentes como simples rivais. Considere os benefícios mútuos das parcerias.
Comparar as práticas das organizações criminosas e terroristas com as das corporações é, por definição, um exercício imperfeito. Apesar da sua sofisticação e perícia de gestão, os grupos criminosos não se preocupam com os custos humanos e sociais dos seus atos; permanecerão implacáveis, por mais cientistas informáticos que empreguem. Mas também é verdade que, à medida que o crime organizado começou a depender mais da tecnologia para obter vantagem competitiva, desenvolveu grandes semelhanças com as atividades legais das empresas. Em alguns casos, as empresas criminosas são agora as que empurram as fronteiras do conhecimento e da inovação.
Dada a elevada rendibilidade das redes de cibercrime global e a ameaça limitada que enfrentam por parte das autoridades, as empresas legítimas tornar-se-ão, sem dúvida, alvos mais frequentes. Os gestores precisam de prestar muita atenção às táticas que estão a ser usadas contra eles – e, quem sabe, aprender como tirar partido de alguns insights dos criminosos globais.
Harvard Business Review/Marc Goodman é senior adviser da Interpol e fundador do Future Crimes Institute
Alguns governos (democráticos) e instituições nacionais e internacionais (de renome) já adotaram estas e outras medidas e até menos organizados…

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