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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Quantas “portas de emergência” há para estas vidas?

Também eles, vítimas da crise e das suas consequências, os imigrantes vindos do Leste começaram a regressar aos seus países. Num centro, em Atenas, dão testemunho da sua amargura e do fracasso que representa o repatriamento.
“Vamos guardar apenas o melhor do vosso país. Vamos recordar os gregos que nos ajudaram e que não nos veem como inimigos. Mas partimos porque dificilmente encontraremos onde ganhar o pão aqui."
A OIM – Organização Internacional para as Migrações, a sul de Atenas, os imigrantes entregam os seus pedidos de repatriamento voluntário e fazem um breve balanço da sua estada na Grécia. A maioria diz ter vindo há vários anos, com medo e esperança. Voltam com medo, regressando a páginas antigas das suas vidas.
Nurulah Astoutik tem 23 anos e mostra-se impotente quando diz que vai trocar a Grécia pelo Iraque. Esta jovem indonésia viveu mais de 3 anos no nosso país, onde trabalhou como empregada doméstica. O noivo, Iahia Awantin, de 33 anos, é iraquiano. Chegou à Grécia, “país das maravilhas”, em 2004 e trabalhou na construção civil. Durante anos, tudo correu bem. Até ao dia em que os salários começaram a baixar e as autoridades rejeitaram o pedido de asilo que tinha apresentado.
Dezenas de imigrantes diariamente na OIM
Iahia e Nurulah são ambos muçulmanos. Casaram há poucos meses, numa das mesquitas não oficiais de Atenas. A sua união foi formalizada perante Deus e a comunidade muçulmana, mas não em documentos oficiais. “Não podemos ficar aqui porque não há trabalho e não conseguimos sequer documentos para nos casarmos normalmente”, conta Iahia. “Não, eu não queria sair da Grécia, mas não tenho escolha. Vamos para o Iraque e depois se vê.”
Todos os dias, dezenas de imigrantes aguardam na OIM pelo “passaporte” para a repatriação e cada um tem uma história para contar. “Os gregos são simpáticos e hospitaleiros. Mas a situação económica está tão má que as pessoas endurecem”, diz Navid Abbas, de 26 anos; chegou à Grécia vindo do Paquistão, depois de €4000 pagos “ao passador que me trouxe para cá”.
Fala bem inglês: “Sou licenciado em gestão de empresas e tenho uma vasta experiência na reparação de computadores”. Na Grécia, trabalhou principalmente em atividades agrícolas: “Vim hoje de Skala, no Peloponeso, para entregar a documentação e voltar para o meu país. Não há trabalho, já não sei o que fazer”, explica. Um compatriota vem chamá-lo para o ajudar a fazer-se entender às autoridades: “Conheci-o cá. Está a tentar voltar para a terra, mas não fala nem inglês nem grego”, diz Navid e acrescenta: “Nunca vou esquecer a Grécia, apesar das dificuldades e injustiças que vivi... Há poucos meses, fui atacado na praça Victoria, em Atenas. O meu pai suplica-me todos os dias que volte para casa. Está com muita idade. Pode morrer e tenho medo de não o voltar a ver.”
Nem um amigo grego em 5 anos
Sar Ibrahim, de 24 anos, vem de uma aldeia no Senegal, um país que a maioria dos gregos não sabe localizar no mapa. Conta que, em 5 anos que ali viveu, não fez um amigo grego. “Os únicos gregos que conheci eram os agricultores para quem trabalhava. Nem com eles tive grande contacto, porque os meus capatazes também eram estrangeiros”, conta. “Trabalhava na produção de azeitona. Estou sem dinheiro, porque tudo o que ganhei nos últimos anos gastei para viver quando deixei de ter trabalho.” Fala muito bem grego: “Tenho medo por mim, pelo meu futuro, pela minha família. Mas vou sair da Grécia.”
Na OIM, foram registados 14.000 pedidos, desde o final de 2010, de imigrantes que vivem na Grécia e querem voltar ao seu país; e todos os dias, sobretudo recentemente, atendem dezenas de pessoas.
Vítimas de ataques
Segundo as autoridades, as razões de quem quer ser repatriado prendem-se, principalmente, com o aumento do desemprego, e consequente impossibilidade de arranjar autorizações de residência, que também os impede de viajar para outros países, para além dos ataques de que são vítimas.
Em 2012, 6.324 pessoas saíram da Grécia através do programa de repatriamento da OIM, e cerca de 800 pessoas foram repatriadas com um apoio financeiro especial da Noruega. Eram principalmente oriundos do Afeganistão, Paquistão, Bangladeche e Iraque. Entre eles, cerca de 360 foram incluídos num programa de apoio à abertura de negócios ou de formação, criando incentivos para se instalarem no seu país.
Itália - Os emigrantes partem para o Norte da Europa
Também em Itália, milhares de imigrantes que perderam o emprego devido à crise económica abandonam o país. Alguns regressam aos seus países de origem, mas a maior parte deseja continuar na Europa e dirige-se para os países do Norte. É o que escreve o jornal La Repubblica, numa reportagem realizada em Treviso, no Nordeste de Itália. "São operários e também empresários, que contraíram empréstimos para pagar o alojamento e com projetos específicos", explica este diário:
O seu desejo era “ficar em Itália para sempre e voltar a Marrocos ou ao Bangladesh apenas de férias, para visitar a família e mostrar a todos que tinham sido bem sucedidos. […] muitos dos que perderam os empregos nas fábricas ou que fecharam a sua pequena empresa regressam a casa, depois de terem esgotado as poupanças de uma vida inteira, ou tentam a sorte no estrangeiro” explica um mediador cultural marroquino. “Em França, na Alemanha, na Holanda e na Bélgica, que ainda têm uma boa proteção social. Há ajudas sérias para arranjar casa e emprego.” Segundo um funcionário de uma instituição de solidariedade social, “o problema mais grave são as crianças e os adolescentes, que têm de abandonar as escolas, para irem para o país dos pais, que na maior parte dos casos nunca viram."

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