Fundado em 1472, o banco Monte dei Paschi contribuiu para elevar Siena à vanguarda em termos de qualidade de vida e governação. Mas o escândalo político e económico que eclodiu em torno do “MPS” pode marcar o fim de um sistema e de uma época.
“Siena está rubra, mas de vergonha”: comenta um observador atento dos assuntos de Siena, durante uma pausa para café, sobre as mais recentes revelações sobre as enormes perdas do banco. Há que dizer que há quase 700 anos que os habitantes de Siena têm diante dos olhos a melhor representação do estado
de espírito da sua cidade. A Alegoria dos Efeitos da Boa e Má Governação, o conjunto de frescos de Ambrogio Lorenzetti [que adorna o Palazzo Pubblico, hoje sede da Câmara Municipal], mostra a cidade em ruínas e os campos abandonados, quando deixados nas mãos da “má governação”.
Roberto Barzanti, figura respeitada da esquerda local, grande presidente da Câmara do Partido Comunista (PCI) na altura em que o Monte dei Paschi comemorou o 500.º aniversário da sua fundação, atribui os males de hoje ao “espírito supersticioso de Siena”, responsável pelo abraço ininterrupto entre responsáveis do banco e da vida política local.
“A transformação, em 1995, da antiga instituição de direito público numa sociedade por ações teve aqui repercussões mais perturbadoras do que em qualquer outro lugar”, afirma o ex-deputado europeu. “Os habitantes de Siena tiveram muita dificuldade em compreender a diferença entre as atividades filantrópicas do 'Monte' e as do banco propriamente dito, que deveriam concretizar-se, as primeiras como fundação e as outras como banco cotado na Bolsa. Quando esse passo foi finalmente dado, as coisas realmente mudaram, mas foi feito de tudo para que realmente nada mudasse.”
Vaca leiteira
Daí nasceu aquele “emaranhado harmonioso”, que mantinha a velha Democracia Cristã e o antigo Partido Comunista, a Igreja e a Maçonaria, sindicalistas e banqueiros. As nomeações para o banco eram decididas em reuniões dos partidos, as do município no banco – nos últimos 25 anos, todos os presidentes de Câmara de Siena começaram as suas carreiras no Monte dei Paschi, à exceção do último, Franco Ceccuzzi, que permaneceu no cargo pouco mais de um ano e foi também ele oprimido pela crise do “Monte”. O “Pai Monte”, como é chamado. Ou a “vaca leiteira”, segundo as más-línguas, no sentido de que todos os que por lá passaram não se coibiram de a ordenhar.
E pode-se dizer que havia leite em abundância, e para todos: de 1995 a 2010, a Fundação distribuiu, só por si, “no território” quase 2 mil milhões de euros. Estradas, recuperação de património, clubes desportivos e associações de voluntários, seguindo uma distribuição rígida que fez com que ninguém, independentemente da sua cor política, se pudesse queixar com razão.
Sistema feito em pedaços
Há 1 ano, o jogo acabou, quando a Fundação descobriu que estava à beira do abismo. A partir daí, tudo se precipitou. O Partido Democrata [herdeiro do PCI] local perdeu força quando uma parte (a do partido da Margarida) se recusou a dar um voto de confiança ao presidente da Câmara, Franco Ceccuzzi, aquando da apresentação do orçamento, por discordar da distribuição dos subsídios atribuídos pela Fundação.
Enquanto o mundo político local se vê dilacerado perante os destroços do “sistema de Siena”, hoje feito em pedaços, a sociedade civil vê incerto o seu futuro. A austeridade imposta pelas contas no vermelho levou, nos últimos dias, a cortes drásticos em financiamentos e patrocínios. O primeiro a sofrer cortes foi o clube de futebol, o Siena Calcio, cujos subsídios foram brutalmente reduzidos, segundo consta, de 4 para 2 milhões de euros, e a equipa de basquete, o Mens Sana, a grande paixão desportiva dos cidadãos de Siena, que viu os patrocínios baixarem de 12 para 4 milhões de euros. Mas não ficou por aqui. Os subsídios do famoso palio [o hipódromo de Siena] também sofreram um corte de 250.000 euros, ou seja, 15.000 a menos por cada contrada [bairro] participante. Parece pouco, mas tem grande valor simbólico.
“Paradoxalmente, o fim dos apoios financeiros pode ter pelo menos um aspeto positivo. Nesta altura já todos compreenderam que uma determinada época acabou, para sempre”, escreve no seu blogue o “Herético de Siena”, um comentador precioso sobre diversos acontecimentos da vida de Siena.
O atual presidente do BCE, Mario Draghi, viu-se envolvido numa polémica em Itália, devido à revelação de mais de 700 milhões de euros em perdas ocultadas no Banco Monte dei Paschi.
Hoje, os acionistas do banco de Siena, fundado em 1472, aprovaram um aumento de capital no total de 6.500 milhões de euros, necessário para receber um 2.º resgate do governo italiano, uma semana depois de ter sido revelado pela Bloomberg que foram utilizados produtos derivados com o Deutsche Bank para mascarar perdas em 2008.
O presidente do BCE era, na altura, governador do Banco de Itália, responsável pela supervisão do setor financeiro, o que tem levado a que figuras como o atual ministro da Economia, Vittorio Grilli, tenham sugerido que houve uma falha de regulação.
Por seu lado, o atual governador do Banco de Itália, Ignazio Visco, veio responder, que o papel do banco central não é “policiar”, mas sim “supervisionar”.
O antigo ministro das Finanças Giulio Tremonti disse também, que compete ao Banco de Itália informar o Ministério Público e não o contrário: “Penso que era tudo muito bem conhecido nalguns círculos”.
Os acionistas do Banco Monte dei Paschi di Siena (BMPS) foram hoje recebidos com gritos de "vergonha", junto à sede da instituição em Siena, onde se reuniram para analisar as respostas ao escândalo financeiro.
Mas onde é que já ouvimos esta conversa sobre o Banco Central ter como Missão “policiar” ou “supervisionar” os bancos e que era tudo muito bem conhecido nalguns círculos?
Coincidência (ou não) este é o Presidente do BCE e o outro Vice…
E é o BCE que vai supervisionar os 200 maiores bancos da Europa... Ah! Ah! Ah!
As malhas que o império (das finanças) tece…
Sem comentários:
Enviar um comentário