Quando os portugueses leram ontem a versão final do Orçamento apresentado por Vítor Gaspar foram fazer aquele jogo do ‘descubra as diferenças’ face à versão preliminar conhecida no final da semana passada e que tanta indignação provocou.
Pedro Sousa Carvalho
Depois de, nos últimos dias, o Governo e os partidos da coligação terem dado sinais de querer recuar nalgumas medidas de austeridade, como a sobretaxa de 4% ou os escalões de IRS, eis que ontem chegou a versão final do Orçamento, que não tira uma única vírgula à austeridade. Muito pelo contrário. Acrescenta austeridade à austeridade.
Parece que Vítor Gaspar anda a jogar à malha com os portugueses. É só malhar. E ontem ficamos a saber que nem os jogos da Santa Casa vão escapar ao brutal aumento de impostos: Euromilhões, Totobola, Totoloto e até a inofensiva Raspadinha vão ser taxados a 20%. Todas as terças e sextas Gaspar vai-se transformar num excêntrico milionário, engordando o Estado, à custa dos portugueses, tenham eles sorte ou azar.
O facto de Vítor Gaspar não ter recuado um milímetro na austeridade mostra que o ministro das Finanças é actualmente, e de longe, o mais poderoso deste Governo e nem as preces de Paulo Macedo, Paula Teixeira da Cruz, Miguel Macedo e companhia o conseguiram demover de um caminho que já foi trilhado pela Grécia e que termina num precipício. E Gaspar não arrepia caminho. Na coligação, o PSD e o CDS continuam a jogar ao jogo do gato e do rato e ninguém quer assumir a paternidade das novas medidas de austeridade. Tal como no jogo do Galo vão perder os dois porque o jogo não vai chegar ao fim.
Se não leu o Orçamento do Estado, que são muitas páginas, não se preocupe. Espere pela estreia do filme em 2013. Vai ser dramático. Vítor Gaspar escolheu um caminho perigoso que vai esfrangalhar a classe média e levar milhares de portugueses à miséria. E mesmo sabendo que está a perder, Vítor Gaspar continua a jogar e a fazer ‘bluff', fazendo de conta que está a ganhar. Não tem um único trunfo, mas é incapaz de pestanejar. O ministro das Finanças parece um jogador de Sudoku que se enganou a colocar um número mas que vai continuar a jogar para nos provar que não se enganou, mesmo sabendo que as contas no final nunca vão bater certo.
E o mais hilariante disto tudo é que a austeridade sempre nos foi vendida como um caminho que nos vai levar de regresso aos mercados em Setembro de 2013. E quem se der ao trabalho de ler o Orçamento irá constatar, e com certeza com grande espanto, que no capítulo sobre o financiamento do Estado para 2013 não está previsto o regresso aos mercados. Pasme-se. O Governo assume que não vai emitir uma única Obrigação do Tesouro no próximo ano, nem mesmo para pagar os 5,8 mil milhões que vai ter de reembolsar em Setembro de 2013. O cheque da ‘troika' tratará do assunto. Tanta austeridade em nome do regresso aos mercados e afinal não vamos regressar aos mercados.
Há uns tempos, Paulo Macedo, na altura ainda era Director Geral do Fisco, mandou encomendar uma missa para ele e para os trabalhadores dos impostos. Paulo Macedo, agora ministro, e que tem assumido nos bastidores a sua oposição à austeridade cega de Vítor Gaspar, deveria voltar a encomendar outra missa. Um dia alguém escreveu que Deus joga aos dados. É sempre melhor do que ver Gaspar a jogar à roleta russa com os portugueses.
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