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domingo, 14 de outubro de 2012

Os Europeus – 23

Acelerada por um lapso de comunicação, a abertura da fronteira entre as Alemanhas foi o primeiro passo declarado no sentido da Reunificação.
Matthias von Hellfeld
"Trabant" - graffiti no muro de Berlim
Aquela entrevista coletiva de imprensa no horário nobre da televisão alemã conta entre as mais memoráveis do continente europeu. Günter Schabowski, porta-voz do governo da então Alemanha Oriental, acabara de anunciar a nova legislação sobre viagens do país. Devido a um mal-entendido, respondeu à pergunta de um jornalista italiano, a respeito do momento em que a lei entraria em vigor, com uma frase que se tornou famosa: "Pelo que sei, ela entra... já, imediatamente".
Como a entrevista era transmitida ao vivo e acompanhada tanto na Alemanha Ocidental como na Oriental, esse lapso de comunicação teve consequências abrangentes para a política mundial.
Pressão popular
Pois, logo em seguida, os cidadãos da República Democrática Alemã, de regime comunista, peregrinaram até à fronteira interna em Berlim. Durante 3 horas, os guardas de fronteira – que não tinham sido informados do novo regulamento – contiveram o afluxo humano.
O mais tardar, quando a "TV do Oeste" montou as suas câmaras e confirmou a sensacional notícia, ficou claro que naquela noite chegava ao fim a divisão da Alemanha, marcada pela construção do Muro de Berlim, em 21 de agosto de 1961.
Tarde da noite, naquele 9 de novembro de 1989, os agentes de segurança suspenderam a sua resistência, abriram as passagens de fronteira berlinenses e deixaram as pessoas passarem do Leste para o Oeste e vice-versa, sem que fossem controlados.
Inspiração de Gorbachev
Durante meses, milhares de cidadãos da Alemanha Oriental vinham realizar passeatas e a exigir com veemência reformas políticas. As "manifestações de segunda-feira", em especial, pelas ruas de Leipzig, já se tinham tornado famosas.
Os manifestantes gritavam: "Nós somos o povo!" e "Gorbil! Gorbil!", referindo-se ao secretário-geral do partido comunista russo, Mikhail Gorbatchev (1931), que desde 1985, vinha fazendo reformas na União Soviética, numa nova política que os habitantes da RDA também desejavam para si.
Porém, por total falta de espírito reformista, o governo de Erich Honecker (1912-1994) bloqueara as mudanças, precipitando, assim, o seu próprio fim.
Fruto da falta de confiança
A 18 de outubro de 1989, Honecker fora substituído por Egon Kreuz (1937) no cargo de secretário-geral do partido e presidente do Conselho de Estado. Porém, nem isso pôde conter a derrocada do governo comunista da RDA.
A 4 de novembro, cerca de meio milhão de pessoas tinham-se reunido na praça Alexanderplatz, em Berlim Oriental, para protestar em prol de uma reforma do Estado. A partir dessa poderosa manifestação ficou claro que o novo governo não contava com a confiança popular.
Cinco dias mais tarde era aberto o Muro. Ao mesmo tempo, tornavam-se cada vez mais fortes as exigências de que se fundissem os dois Estados da Alemanha.
Resistência inglesa e francesa
Algumas semanas após a queda do Muro de Berlim, e no meio do clamor crescente pela reunificação, iniciou-se, nas vésperas do Natal de 1989, um intenso tráfego diplomático na RDA.
A França e a Inglaterra, em especial, mostravam-se ressabiadas diante da perspetiva de uma Alemanha grande e economicamente forte, no centro do continente. Tentaram, se não impedir, pelo menos subordinar a certas condições políticas à união da República Federal da Alemanha e da República Democrática Alemã.
Entre o povo e as potências europeias
O chanceler federal da RFA, Helmut Kohl (1930), registou publicamente tais temores num discurso acompanhado pelo mundo inteiro, diante das ruínas da Igreja Frauenkirche, de Dresden, em 19 de dezembro.
Naquela noite, Kohl confirmou, por um lado, a intenção de respeitar a vontade da população da RDA, qualquer que ela fosse. Por outro lado, reconheceu que uma unidade alemã só seria possível "numa casa europeia". A unidade alemã e do continente eram, portanto, dois lados de uma mesma moeda.
Dessa forma, o chefe de governo rechaçava perentoriamente uma Alemanha reunificada neutra, num posicionamento que lhe valeu o aplauso frenético dos cidadãos da RDA presentes.
Ainda assim, dois dias mais tarde, o então presidente francês, François Mitterand (1916-1996), voou para a RDA a fim de evitar uma "anexação" desta à RFA. No início de 1990, o processo de unificação de ambos os Estados alemães foi integrado num processo internacional, o qual considerava tanto os interesses dos alemães como o das potências aliadas vencedoras da II Guerra Mundial.

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