Na conferência de imprensa de apresentação do Orçamento do Estado para 2013 na segunda-feira, Vítor Gaspar explicou a motivação para o seu trabalho como governante: “Pela minha parte, a participação no Governo tem por único propósito retribuir o enorme investimento que o país colocou na minha educação.”
Gaspar continuou descrevendo a sua educação como “extraordinariamente cara”: “Portugal investiu na minha educação de forma muito generosa durante algumas décadas. É minha obrigação estar disponível para retribuir essa dádiva que o país me deu.”
Em que é que consistiu então a educação do ministro? Gaspar, nascido em Lisboa em 1960, fez o liceu na escola secundária Padre António Vieira (freguesia de S. João de Brito).
Segundo um perfil publicado na revista Focus no ano passado, o antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes e o coordenador do Bloco de Esquerda Francisco Louçã (primo de Gaspar) frequentaram a mesma escola no mesmo período, embora sejam ambos 4 anos mais velhos. Nos rankings das escolas secundárias com base na média dos resultados dos exames nacionais, a Padre António Vieira ficou este ano em 427.º lugar, entre 608 escolas.
Gaspar fez a sua licenciatura na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica – uma universidade privada, que não recebe financiamentos directos do Orçamento do Estado. Segundo a sua biografia oficial, o actual ministro completou a licenciatura em 1982, um ano antes de o Governo do “Bloco Central” liderado por Mário Soares ter pedido ajuda financeira ao FMI.
O “enorme investimento” na educação de Gaspar prosseguiu na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, onde completou um mestrado, em 1985 e 3 anos depois, doutorou-se também na Nova, onde em 1992 fez a sua agregação.
Completa-se aí a educação formal de Vítor Gaspar em Portugal, a “dádiva” que, 20 anos depois, o ministro das Finanças afirmou querer retribuir.
Pelo que se depreende, o país só lhe deve o ensino obrigatório, o secundário, o mestrado e o doutoramento, já que a licenciatura deve ter sido a família que a aguentou. Se foi só isso, acho que já deve ter saldado o débito e devia sentir-se livre de qualquer ónus compensatório. E por isso, pode libertar-se da “letra”…
A confirmar-se a classificação profissional que lhe é atribuída pelos seus amigos e “apóstolos”, provaria que o Ensino Público em Portugal é do melhor que há ou oferece as melhores condições para quem as quer aproveitar. Só não se percebe por que este português, que reconhece e fica reconhecido por o país ter investido tanto na sua formação académica, tem o desplante de impor cortes na EDUCAÇÃO, impedindo assim, tantos outros portugueses como ele, provavelmente até com mais potencialidades de atingirem o nível de formação de que o país precisa. E ainda por cima quando com o Processo de Bolonha em marcha, o mestrado e o doutoramento são por conta dos interessados, o que fica mais barato para o Estado. Será pela deformação profissional e ideológica e pela aplicação da lei dos mercados e da (livre) concorrência, eliminando esta, como se vê em todas as áreas sociais?
Caro (mas com retorno) ministro, não se acanhe, porque a maioria do povo português dispensa-o de retribuir essa dádiva e está livre, desde já, para pagar apenas os impostos, as taxas e os confiscos com que nos prendou em 2011 e 2012 (com resultados desastrosos) e com que nos quer massacrar com uma overdose do mesmo e aos mesmos, para resultados mais desastrosos ainda e infindáveis, para bem de alguns…
Se a sua obsessão é a de ir ao MERCADO (para nos podermos endividar de novo) tenha em mente que os portuguesinhos só querem ir ao SUPERMERCADO comprar qualquer coisinha para matar a fome, por lhes estar a impor um “enorme desinvestimento”…
Esteja à vontade, que amanhã já é tarde!
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