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terça-feira, 12 de junho de 2012

De resgate em resgate até irmos todos ao fundo…

Desde há várias semanas, a imprensa europeia interroga-se não apenas sobre a eventualidade de um plano de ajuda ao setor bancário espanhol mas também sobre a dívida daquele país. A 9 de junho, o Governo pediu, finalmente, à UE para refinanciar os seus bancos, sobrecarregados com demasiados créditos imobiliários. Reações.
Na Holanda, De Volkskrant faz ironia com o número de países que precisaram de ajuda e escreve, na primeira página, que “O barco salva-vidas começa a estar superlotado”. O diário diz que a ajuda de 100 mil milhões de euros para ajudar os bancos espanhóis não pode ser comparado com os planos de resgate anteriores. Hoje, o desafio é muito mais importante:
Se ainda se pode olhar para a ajuda à Grécia, à Irlanda e a Portugal como um remédio para problemas menores e periféricos, o pedido de ajuda de Madrid é completamente diferente. Pela primeira vez, um dos grandes países da zona euro corre o risco de cair. […] A Europa não reage pouco e tarde à crise, mas generosamente e a tempo. […] Para mais, é positivo que as abordagens dos últimos dois anos no sentido de uma política económica comum comecem a dar frutos. […] No entanto, não é certo que a ajuda aos bancos também salve a Espanha. Há duas potenciais bombas ao retardador na zona euro. A primeira é a Grécia. […] A segunda é a Itália. […] Há cada vez mais pessoas dentro e à volta do barco salva-vidas. E a tempestade ainda não passou.
Em França, o jornal Les Echos congratula-se com o facto de “os instrumentos utilizados a nível europeu funcionarem para resolver uma urgência deste género”, graças à intervenção “de um dispositivo que não ainda há uns meses não existia” e que “permitirá evitar um desmoronamento geral do sistema financeiro do continente, o que seria muito mais oneroso”. Apesar de tudo, o diário económico interroga-se sobre “a aceitação pelas opiniões públicas” do plano de resgate espanhol, bem como dos anteriores: “Quantos cidadãos europeus têm consciência de que, de uma maneira ou de outra, a Europa mobilizou cerca de 500 mil milhões de euros para socorrer os Estados em dificuldades?”, pergunta. E escreve que, dentro em breve, os planos de resgate deixarão de superar a falta de um verdadeiro projeto para a zona euro:
Há três anos que gerimos urgências porque a própria conceção da zona euro é periclitante. Estes planos, sucessivos e onerosos, só serão aceitáveis se os europeus mostrarem que também têm um plano para fazerem uma zona euro viável e sustentável. Senão, inevitavelmente, as forças centrífugas prevalecerão e todos perderemos, para além de muito dinheiro, uma grande parte da nossa capacidade de ter peso nos assuntos do mundo.
Na Alemanha, é o diário de Berlim Die Welt que ganha o prémio do pessimismo, ao afirmar que cada novo resgate cria um fosso entre os países europeus:
Podemos desde já excluir a possibilidade de estes 100 mil milhões de euros trazerem uma mudança duradoura. Só seria esse o caso se o pudéssemos interpretar como um sinal da determinação europeia. Mas é o contrário. A gestão da crise no caso de Espanha revela ainda mais a profundidade dos fossos na Europa. De um lado, em Espanha, um Governo que oscila entre o egoísmo e o diletantismo e, do outro, uma comunidade de países que fazem uma pressão mais ou menos brutal e que não inspiram confiança. Como poderemos chegar a acordo sobre as regras necessárias dentro de uma futura união orçamental, quando dificilmente conseguem disfarçar o seu desacordo quando se trata simplesmente de salvar bancos pobres?
Junto dos seus vizinhos portugueses, as esperanças de que o pedido espanhol traga uma suavização do plano de ajuda a Portugal são descritas pelo Diário Económico. Este jornal escreve que
a Comissão Europeia vê como "muito difícil" que Portugal venha a beneficiar de uma renegociação das condições do empréstimo externo, na sequência da ajuda anunciada no sábado à banca espanhola. Esta dificuldade deverá estar na base da decisão do Governo português, que rejeitou tomar a iniciativa de pedir uma renegociação. [...] Isto porque "o resgate a Portugal foi com base em três vertentes (finanças públicas, recapitalização da banca e reformas estruturais). Aqui as condições são exclusivamente para o setor financeiro”.
No Corriere della Sera, o economista Federico Fubini mostra-se preocupado com a possibilidade da intervenção europeia não conseguir acalmar os mercados, ou que tenha mesmo os resultados opostos, porque o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que vai financiar a ajuda a Espanha, deverá ter prioridade de reembolso em relação aos outros credores. Assim, esses credores correm presentemente um enorme risco de não serem reembolsados. Além disso, escreve Fubini,
um empréstimo do MEE a Espanha poderá contribuir para fazer subir a dívida pública espanhola acima dos 100% do PIB durante os próximos cinco anos, causando ainda mais medo aos investidores privados. Não há um único banco internacional que não tenha já estudado este cenário. […] A intervenção nos bancos não pode ser senão o primeiro dos resgates de que Madrid precisará. […] A Itália é o único país em dificuldades que ainda não teve de pedir para ser resgatado. Pode continuar assim. Se as taxas espanholas estabilizarem após a concessão de auxílio aos bancos, as taxas italianas poderão baixar; até lá, um acordo europeu sobre o sistema bancário pode acalmar a situação. Caso contrário, a incerteza será muito grande e os olhares vão voltar-se para Itália com cada vez mais atenção.
A Alemanha não compreendeu o estado da crise na Europa, na sua dimensão histórica, advertem o historiador britânico Niall Ferguson e o economista norte-americano Nouriel Roubini. Num ensaio publicado pela revista Spiegel e pelo jornal Financial Times, os dois professores das universidades de Harvard e Nova Iorque recordam que, em 1933, foi uma crise bancária que conduziu à queda dos sistemas democráticos na Europa e pedem medidas concretas, para evitar o afundamento da UE:
Quanto mais a saída da Grécia da união monetária se torna provável, mais aumenta a pressão sobre os bancos espanhóis, o que poderá desencadear um bank-run [levantamento dos depósitos] tão grave que talvez faça vacilar o BCE. Está já em curso, no sistema financeiro da Europa, um processo importante de renacionalização, que poderá arrastar a União para uma desintegração completa.
Ferguson e Roubini consideram não haver alternativa à comunitarização da responsabilidade pela amortização da dívida, através da criação de um fundo temporário e propõem créditos diretos para recapitalização dos bancos. Segundo eles, a Alemanha em especial deveria também aceitar uma taxa de inflação mais elevada e renunciar à política de austeridade:
Para tal, é necessário relançar o crescimento na zona euro e renunciar a uma política de austeridade exagerada. O BCE deve moderar a sua política monetária, o euro deve desvalorizar-se e é preciso criar incentivos fiscais. São necessários programas de infraestruturas e um aumento dos salários nos países-chave, a fim de estimular o consumo.

2 comentários:

  1. Já de seguida vai o Chipre, amendoins, e a seguir a Itália? E depois... a França?

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    1. Anabela
      Nunca mais volta o escudo e o "Não Pagamos!" Isto é uma brincadeira sem graça, que nos dá cabo das vidas e de pensar o futuro, nas mãos de trogloditas coadjuvados pelos nossos "jotas" e séniores.
      Lê logo um artigo de um Professor de Economia espanhol, em que ele conta tim tim por tim tim como se chegou aqui e que é a papel químico o que aqui se passou.
      Enquanto não houver sangue... esperemos por domingo e conhecermos a estratégia escondida sobre a Grécia e o que fazem os restantes cidadãos "europeus".

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