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terça-feira, 12 de junho de 2012

As novelas das INTERVENÇÕES são todas “plágios”!

Primeiro os governos criaram-lhes as condições para que financiassem uma bolha de crédito sem precedentes e com o que ganharam dezenas de milhares de milhões de euros. Decretaram leis do solo para que os promotores lhes pedissem empréstimos que financiaram construções em todas as esquinas de Espanha, que iriam ficar vazias e sem vender, cada vez em maior número. Aumentaram as facilidades fiscais para promover as vendas e desincentivaram o aluguer e o consumo coletivo de serviços de ócio ou residência.
Só de 2000 a 2007, os bancos multiplicaram o crédito total destinado à atividade produtiva a 3,1%, o dirigido à indústria a 1,8%, o da construção a 3,6% e a 9% o dirigido à atividade imobiliária. E isso quando cada vez dispunham de menos depósitos para o gerar: em 2000 a banca espanhola recebia 1,43 euros em depósitos por cada euro que concedia a crédito, enquanto em 2007 apenas 0,76 euros.
Não contentes com os benefícios que lhes dava o negócio imobiliário que condenava à monocultura a economia nacional, impuseram políticas de baixas receitas e cortes salariais para que as famílias e pequenos empresários vivessem no fio da navalha e tivessem que endividar-se até aos cabelos.
Mas não contentes com obter benefícios normais, os bancos utilizaram os seus avaliadores para aumentar artificialmente os ativos sobre os quais iriam dar crédito, para assim gerar mais dívida e cobrar comissões mais suculentas e recorreram a todo o tipo de práticas comerciais predatórias para fomentar o consumo: manipulavam à sua vontade os índices de referência, incluíam a abusiva cláusula que autorizava o banco a vender o apartamento em leilão notarial se se produzisse o não-pagamento da dívida, reclamavam quantidades elevadíssimas por contas que pensavam canceladas, cobravam comissões leoninas (mais do que em qualquer outro lugar da Europa) por qualquer coisa, faziam girar uma e outra vez um recibo não atendido pelo cliente gerando múltiplos gastos de reclamação por uma mesma dívida, embargavam saldos em contas correntes sem respeitar o estabelecido na lei... são quatro as folhas que preenchem a lista de más práticas que compilei de associações de usuários, o que é impossível consigná-las todas aqui. E isto, para não falar das fraudes estrela, que permitiram supor um autêntico roubo entre 12.000 e 15.000 milhões de euros, se não mais, mediante as participações preferenciais, as cláusulas solo, etc.
Enquanto sucedia tudo isto, as autoridades deixaram fazer, consentiram as tropelias bancárias e permitiram que se enchesse a bolha sem parar, fazendo ouvidos surdos a todas as advertências.
O atual Ministro das Finanças, Cristóbal Montoro, dizia em 2003: "não existe uma 'bolha imobiliária' (...) o conceito de bolha imobiliária é uma especulação da oposição que fala insensatamente da economia de ladrilho e esquece que a construção é um setor fundamental para a economia do país e em que trabalham cerca de um milhão de pessoas" (El Mundo, 2  de outubro de 2003). E o mais tarde Ministro de Economia, Pedro Solbes, afirmaria que quem augurava o risco de recessão por causa disso "não sabem nada de economia" (El País, 11 de fevereiro de 2008).
Os dirigentes de um e de outro partido negavam o que fizera falta, por muito evidente que fosse para o resto dos espanhóis, deixando que os banqueiros e os grandes empresários da construção, literalmente, se forrassem à custa de todos os espanhóis.
O governador do Banco de Espanha que tinha colocado o PP, Caruana, passava pelo arco do triunfo a denúncia dos seus inspetores que em 2006 lhe lembravam formalmente que não se fazia nada diante de um endividamento crescente e muito perigoso da banca espanhola. Mas isso sim, não havia declaração sua ou mais tarde do seu sucessor, o socialista Férnandez, em que não reclamassem moderação salarial e cortes de gasto social.
Mas graças a tudo isso, os bancos espanhóis converteram-se nos mais rentáveis do universo, precisamente, isso sim, na mesma medida em que colocavam a nossa economia entre as mais vulneráveis.
Quando estourou a bolha e já não se podia dissimular o que se tinha passado, o imenso negócio que os bancos tinham feito à custa da dívida, todos consentiram em dissimular.
Permitiram que os bancos declarassem em balanço os ativos tóxicos a preços de aquisição sendo cúmplices assim de um engano descomunal que feriu de morte a credibilidade da nossa economia porque, por muito que Zapatero dissesse em setembro de 2008 -como lhe ditavam Botín y companhia- que o sistema financeiro espanhol era "o mais sólido do mundo", os investidores e os credores internacionais sabiam o que na verdade tinha feito a banca espanhola.
Os dois grandes partidos, a que se  somam os dos nacionalistas de direita da Catalunha e o País Basco, colocaram nas caixas de aforros os seus amigos e militantes e criaram uma rede de oligarquias provinciais que deu alento à especulação, estendeu a corrupção e que começou a levar ao desastre a grande  maioria das entidades, ao convertê-las em clones dos bancos privados, sem ter capacidade real nem natureza legal para o ser.
E para facilitar a recuperação dos bancos maiores e deixar-lhes todo o mercado consensualizaram a lei das caixas que as levava à sua bancarização forçada, para provocar quanto antes a sua queda e o reforço por essa via dos maiores bancos.
Claro que, em troca, esses mesmos partidos receberam centenas de milhões de empréstimos para ir ganhando as eleições, agora um depois outro, que não devolvem, e puderam colocar nos seus conselhos de administração, ou nos de empresas participadas, dezenas de ex-dirigentes ou sócios.
Logo, quando o sistema ia pelos ares porque aos alemães consumia-os a ânsia de cobrar os empréstimos que com a mesma compulsão tinham dado aos bancos espanhóis todos se conluiaram para negar que iriam pedir um resgate. Há 10 dias que o negava rotundamente o presidente Rajoy: "não vai haver nenhum resgate da banca espanhola" (EFE, 28 de maio).
E quando o pediram, negam o que efetivamente pediram: 100.000 milhões de euros para entregar à banca e que vamos pagar todos os espanhóis. Negam que vá ter efeito sobre o défice e o prémio de risco, quando será o Estado que terá que o devolver (¿como o fariam outras entidades que se capitalizam precisamente porque não tem dinheiro?) e tratam de fazer crer que é algo positivo e uma ajuda generosa: "As notícias que trazemos hoje são positivas", disse o Ministro, de Guindos, quando começava a conferência de imprensa que deu para anunciar o resgate.
Enganam-nos a todos quando dizem que vão resgatar Espanha quando o que vão fazer é afundá-la durante anos. Enganaram-nos os bancos, enganaram-nos os governos do PSOE e do PP. Enganaram-nos os dirigentes europeus que estão embriagados de ideologia neoliberal e não se dão conta de que as medidas que tomam levam ao desastre os países que as aplica (¿ou por acaso está melhor a economia de Portugal, para não falar dos cidadãos portugueses, desde que foi "resgatada"?). Enganou-nos o FMI que sacou da manga uma informação depressa e a correr só para justificar a decisão já tomada e em que calcula as necessidades de financiamento da banca espanhola numa faixa que se situa, nada mais, nada menos, entre 45.000 milhões e 119.000 milhões de euros. ¿Em que ficamos?
E enganaram-nos esta tarde o presidente Rajoy e o Príncipe Felipe se é que definitivamente foram ver o jogo de futebol quando gritem ¡Espanha, Espanha!, porque o que estão a demostrar é o contrário: Espanha, aos espanhóis de baixo, importamos-lhes um pepino. Eles e o resto dos políticos que permitiram o que acabo de assinalar, junto com os banqueiros e os grandes beneficiários da bolha e da crise, que teriam que viver 500 anos mais para disfrutar de tudo o que ganharam à custa dos espanhóis, são os responsáveis deste engano descomunal. Há que pedir-lhes contas a todos e expulsá-los para sempre.
Juan Torres López, Catedrático de Economia Aplicada na Universidade de Sevilha
Mudando-se os nomes dos artistas do elenco, reposto de país em país, verifica-se que o guião é o mesmo e ao contrário das novelas ou filmes de cowboys, no fim os maus sobrevivem e proliferam e quem morre são sempre os bons…
Aqui há mãozinhas invisíveis e um realizador de (in)sucessos…

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