Max Weber (1864-1920), que foi um grande sociólogo alemão afirma que não há como pensarmos numa história com base no “se”. Contudo, apenas a título de especulação esse escrito foi feito. Como de facto seria a nossa realidade se não houvesse a religião? O que lerá a partir de agora são apenas algumas aproximações.
Em tempos convulsivos como os que vivemos, onde há relativismo e nevoeiros ideológicos, as grandes forças culturais do passado (especialmente as religiões tradicionais) já não conseguem impor-se como referência. Não só as religiões, mas também a família, o Estado, as artes de um modo geral, parecem ter esgotado a capacidade de influir e determinar valores de vida, princípios morais ou regras de comportamento. Aliás, isso só foi possível anteriormente, em muitas ocasiões, de forma extremamente autoritária.
O fenómeno religioso tem existência garantida no seio das diferentes culturas, porque se buscarmos na própria palavra religião, que vem do latim: RELIGIO formado pelo prefixo RE (outra vez, de novo) e o verbo LIGARE (ligar, unir, vincular), perceberemos que a religião deste modo é um vínculo entre o mundo profano e o mundo sagrado. No fundo é a busca de conectar o homem ao transcendente. De um modo geral, as religiões tem por finalidade a tarefa de tornar o homem mais humano.
Como é notório, um dos papéis da religião é mostrar ao mundo o sagrado, dando-lhe o seu significado. A partir deste pressuposto ela proporciona o respeito às normas, às regras e aos valores sob o aspeto da moralidade. A sua importância é defendida por Émile Durkheim (1858-1917), que segundo ele é fundamental para manter o tecido social agregado.
Nas mais diferentes religiões o que se vê é a procura contínua em demonstrar as suas verdades. Para isso, lançam mão dos dogmas, estes por sua vez caracterizam-se por serem os princípios fundamentais e indiscutíveis de uma determinada doutrina e ou teoria.
Em geral, elas procuram apresentar explicações para a ordem, a forma, a vida e a morte dos seres, oferecendo aos humanos a esperança de vida após a morte.
É importante destacar que ao longo do tempo na história ocidental, a religião através da sua vinculação com a política, foi considerada por muitos como o ópio do povo. O edifício teológico-político, como bem enfatizou Espinosa (1632-1677), transformou-se num poder tirânico. Contribuiu e contribui até hoje para o processo de alienação e perpetuação da injustiça social no mundo.
Destaco que Karl Marx (1818-1883) deixou também a sua contribuição no tocante a esse tema. Ele escreve a partir da leitura de Espinosa. Marilena Chauí diz-nos que o conceito de alienação e de ideologia em Marx foi na verdade um prolongamento do pensamento de Espinosa. Isso está no livro Espinosa uma Filosofia da Liberdade.
Na procura contínua em mostrar as ilusões necessárias para suportar uma realidade que por si só não basta, as religiões utilizaram-se, muitas vezes, da credulidade popular para oprimir e escravizar, manter privilégios e explorar, recorrendo a mentiras, a falsificações, a oportunismos, a alianças mais abjetas com os poderosos. Inclusive a violência e a crueldade. Tudo isso para assegurar benefícios materiais em detrimento da miséria, da ignorância e do sofrimento dos crédulos.
Como a melhor forma de se perder um argumento é generalizá-lo, não estamos a afirmar que todos os líderes religiosos agem conforme a nossa afirmação acima, apenas estamos a evidenciar que essa é uma realidade ainda hoje. Vide os empresários da fé que estão por quase toda parte.
A história das grandes religiões, portanto, comprova quanto o conteúdo ideológico manipula, quase sempre de forma perversa, consciências e valores, para satisfação de interesses e privilégios que contradizem o que se apregoa como valor de vida. Mas no meio destas perversidades, a existência das religiões no mundo também edificam, civilizam, educam e glorificam a espécie humana. Quem conhece a história dos reis de Roma, certamente, confirmará isso que afirmamos neste parágrafo. O cristianismo contribuiu e contribui até hoje para o processo de humanização do homem. Certamente nas demais religiões também há uma intencionalidade semelhante ao cristianismo
Observe que é a contradição que faz do fenómeno religioso um mistério a exigir permanente estudo. Portanto, se o mundo com religião é ruim e difícil, imagine sem religião! A existência teria outro significado.
A questão que deixamos para reflexão é a seguinte: como o mundo ocidental, é na sua grande maioria cristão, será que é possível pensarmos muma sociedade constituída por cristãos sem igreja? Como seria o mundo? Melhor ou pior do que é hoje?
Geancarlos Farinon Flores de Matias, formado em filosofia, especialista em MBA Gestão de Pessoas e Diretor do Colégio imaculada Conceição em Videira – SC.
Ivo José Triches, formado em filosofia, escritor e Diretor das Faculdades Itecne de Cascavel.
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