O escritor moçambicano, Mia Couto, esteve na Póvoa de Varzim no passado dia 4 de maio para apresentar o seu mais recente trabalho “A Confissão da Leoa”, romance que retrata a condição da mulher de uma comunidade do interior do seu país atacada por leões e que voltou a encantar os presentes com a sua voz doce e histórias que prendem da primeira à última palavra, apaixonando o público.
Um acontecimento real vivido pelo autor na aldeia de Kulumani, no Norte de Moçambique, onde as sucessivas mortes de pessoas, quase sempre mulheres, provocadas por ataques de leões é pretexto para Mia Couto escrever este surpreendente romance, não tanto sobre leões e caçadas, mas sobre homens e mulheres vivendo em condições extremas. Como afirma um dos personagens, “aqui não há polícia, não há governo, e mesmo Deus só há às vezes”.
“Começaram então a surgir ideias que, para mim, constituíam o desamparo total. As pessoas começavam a reconstruir antigos mitos para encontrarem defesas, como pensar que aqueles leões não se conseguiam matar com armas porque não eram deste mundo” explicou e continuou “Percebi que havia diferentes tipos de medo e uma condição desumana da mulher, que não é só coisa de África, é uma coisa do mundo. Por outro lado, percebi que em determinadas sociedades o homem tem receio de ser devorado por uma mulher que tenha poder, e o medo torna-os inseguros e violentos”. “Há mulheres que são devoradas pela vida antes de serem devoradas pelos leões. Esta história é apenas um pretexto para escrever sobre as mulheres”, confessou.
Sobre e contra este pano de fundo ergue-se uma extraordinária figura de mulher – Mariamar.
"...Há mulheres que são devoradas pela vida antes de serem devoradas pelos leões..."
ResponderEliminarÉ verdade.Fiquei sensiblizada com as palavras de Mia Couto.
Eu fui ao lançamento (vou a todos) porque o Mia é um doce como pessoa, um poeta de qualquer forma e lê-se como quem sonha.
EliminarQuem diz mulher, diz homem, mas em África o papel da mulher ainda está muito menorizado, apesar de ser uma sociedade muito matriarca.
Eu gostei do: “aqui não há polícia, não há governo, e mesmo Deus só há às vezes”. Como em tanto lado...