Não costumo concordar em quase nada com o que o ex-Presidente da República Mário Soares diz, manda dizer, dá a entender ou sequer acena. Não gosto do estilo, detesto os epítetos disparatados de "Pai da Nação", de grande "senador", etc. Acho patético. Até porque se assim é, se o senhor é efetivamente o pai deste cemitério social e económico em que vivemos só tem de se envergonhar por não ter interrompido a gravidez a tempo. Convenhamos que a situação a que chegámos é um aborto vivo. E Mário Soares é tão ou mais responsável do que todos os outros que lhe seguiram as pisadas. Não governou ele com o FMI em Portugal?
Apesar disto, acho que li pela primeira vez uma declaração deste senhor com a qual concordo em absoluto: "Romper com a troika". Rasgar o acordo assinado e que mais não é do que a sentença de morte lenta de um país e de um povo. A execução do memorando assinado com a troika é provavelmente o pior ato de gestão política de que há memória neste país. Não está em causa a intenção, mas o que esta execução (literalmente) acarreta. É suicídio político e assassinato económico-social.
O famigerado memorando tem funcionado não apenas como a subjugação pura e simples de um país aos desmandos de padrinhos alemães e franceses, mais do que expectável, mas como uma verdadeira carta branca para os Governos (PS e PSD-PP) poderem aplicar indiscriminadamente todo o tipo de medidas de austeridade que visam tapar no imediato o buraco que os mesmo escavaram durante décadas. Execráveis na atuação, os nossos políticos pensam no presente (deles) hipotecando o futuro (nosso). O habitual - nada de novo.
A crise está a ser usada para esconder a incompetência com que este país tem sido e continua a ser gerido. À passagem alienam-se direitos, rouba-se quem trabalha, atiram-se milhares de pessoas para o desemprego e levam-se centenas de milhares à miséria. Sem vergonha ou decoro continuam estes senhores a governarem-se às nossas custas fingindo que nos governam. A crise e a conjuntura parecem servir que nem uma luva à total desresponsabilização.
Este país é uma bomba-relógio e Mário Soares sabe disso perfeitamente. E quando estoirar ele quer estar do lado certo, como sempre. O velho ancião - dirão alguns. Os políticos que temos - digo eu.
Tiago Mesquita
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