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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ecos de uma vitória e táticas para os próximos jogos…

A maioria dos jornais europeus saúda a vitória do candidato socialista nas eleições presidenciais francesas, mas sublinha que, entre os desafios que o esperam, o mais importante é o das relações com a Alemanha e a sua atitude em relação ao pacto orçamental decidido pelo seu antecessor, Nicolas Sarkozy, e pela chanceler Angela Merkel.
“’Um novo começo’. O Presidente Hollande compromete-se a mudar a direção seguida pela Europa”. Para o diário londrino The Guardian, o candidato socialista “obteve uma vitória brilhante, não só para si [...], não só para a França, mas também para a esquerda na Europa”.
Nicolas Sarkozy é o 11.º dirigente europeu a cair desde o início da crise financeira, e este resultado representa também uma reprimenda aos antigos aliados do Presidente cessante, Angela Merkel e David Cameron. A nova orientação da França é um golpe mortal no tratado orçamental que constituiu a resposta de Europa à crise.
“Já lá vou, senhora Merkel”, é a manchete do diário Frankfurter Rundschau. Desde a sua proclamação que o Presidente eleito anunciou que a sua primeira viagem ao estrangeiro será uma visita à chanceler alemã, que deveria habituar-se a este novo parceiro, apesar das diferenças ideológicas entre ambos:
Merkel não seria Merkel se não fosse capaz de mudar de azimute. Não tem problemas ideológicos com os social-democratas [governou com eles entre 2005 e 2009], mesmo quando se chamam socialistas. Hollande não vai proclamar a revolução. Terá de aprender a adaptar-se, como o fez Merkel na crise grega.
"Hollande vence, começa o desafio na Europa", titula o milanês Corriere della Sera, para quem o novo Presidente francês é "um dirigente normal em tempos excecionais".
A mensagem deste mês de maio francês, nestes tempos de crise, de declínio da cidadania e da anti política, está, portanto, cheia de esperança. Para a França e para a Europa que olha para a França. [... É] também uma opção de defesa contra a Europa dos sacrifícios sem equidade e do rigor sem crescimento. [...] A França de Hollande já não sonha com o socialismo num só país, mas com um pouco mais de socialismo em toda a Europa.
Para El Mundo, "a vitória de Hollande dá lugar à incerteza na Europa". O diário conservador preocupa-se com a forma que tomará a "nova era" que se inicia "para a França e para o resto do continente".
Nunca uma eleição presidencial em França teve tantas repercussões na Europa. [...] A vitória do candidato socialista dissipa a hegemonia do centro-direita da última década e suscita dúvidas quanto à coabitação com a chanceler Angela Merkel, com quem [o Presidente cessante Nicolas] Sarkozy decidiu o acordo de união orçamental e as políticas de austeridade [...].
"Um novo começo para a Europa", prevê De Morgen, que considera, no entanto, que "o socialista Hollande se encontra, desde logo, em rota de colisão com a Alemanha na questão da austeridade". Num editorial, o diário realça que
a questão de saber se Hollande poderá realizar esta viragem europeia [em direção às medidas de crescimento], permanece em aberto. Prevemos já a sua primeira viagem a Berlim, onde deverá concluir um compromisso histórico com uma Merkel rígida. Estas negociações irão desenvolver-se num ambiente perturbado, no seguimento das eleições parlamentares de ontem, que dividiram a paisagem política da Grécia. [...] A partir de ontem, a Europa ficou mais vermelha. Mas, ao mesmo tempo, as nuvens de tempestade sobre o continente ficaram mais escuras.
Em Estocolmo, o Dagens Nyheter constata que, embora na imigração e nas minorias, o novo Presidente tenha escolhido um caminho mais tolerante e aberto do que o de Nicolas Sarkozy, "levanta questões preocupantes em elação à política económica".
Se Hollande rejeitar o pacto orçamental, criará problemas sérios. A Europa precisa de crescimento, mas sem uma barreira eficaz contra os grandes défices orçamentais dos Estados membros, o euro terá dificuldade em sobreviver. Isto prejudicaria a união monetária e a sua capacidade de tomar decisões em conjunto. Portanto, parece difícil que Hollande queira verdadeiramente negociar o pacto. Provavelmente contentar-se-á em acrescentar um protocolo mais inocente sobre a importância do crescimento.
No diário Hospodářské noviny, de Praga, o editorialista Martin Ehl considera que deste "fim de semana eleitoral" saiu uma "nova Europa". As eleições presidenciais em França e legislativas na Grécia demonstram que o Velho Continente enfrenta "uma nova Revolução francesa", que abala o consenso em volta da integração europeia, que atravessa a crise mais profunda desde os anos 1950.
Os europeus esperam mais dos seus dirigentes do que limitarem-se aos cortes orçamentais. [...] Depois do pacto orçamental, a Europa precisa de pensar a economia de uma forma inovadora.
Os franceses devem ser malucos. Sarkozy avisou. Os sacrossantos "mercados" avisaram. Merkel avisou. E, no entanto, eles não os ouviram e votaram em François Hollande. Agora, está tudo nas suas mãos. Se der o dito na campanha por não dito e se limitar a ser um Sarkozy moderado, será o derradeiro coveiro dos partidos socialistas e social democratas europeus. Terão perdido a última oportunidade que lhes foi dada para mostrarem a sua utilidade política. Restar-lhes-á o caminho do PASOK grego. Se se limitar a uma retórica inconsequente sobre o relançamento do crescimento económico europeu será o coveiro da União.
Se, pelo contrário, François Hollande construir um novo eixo, que passe pelos grandes países em dificuldades - Espanha e Itália -, para um verdadeiro programa de crescimento e o reforço de medidas que salvem o euro da irresponsabilidade de Berlim e do BCE, terá direito a um lugar na história. E isso passa por fazer a EU regressar ao projeto europeu em que não há lugar para decisões a dois.
O comportamento idiota da senhora Merkel, ao apoiar Sarkozy e ao recusar-se a receber Hollande, antes das eleições (que apenas confirmou a sua mediocridade política), pode ter facilitado a vida ao futuro presidente francês. O primeiro passo é claro: travar o tratado contra as democracias europeias. Ou Hollande compreende que a França será irrelevante numa Europa de estilo imperial ou terá o mesmo fim que Sarkozy. Só dele depende a escolha que tem de fazer. O caminho é difícil. Mas o primeiro passo é bastante claro. Terá de confirmar a ideia que deu no debate com o seu adversário: que não é, como lhe chamavam alguns, Flanby. Um pudim sem firmeza ou coragem. De Atenas veio o recado para a Europa. Virá de Paris a solução?
A condição é não dar ouvidos aos que, tentando reduzir os danos de um fim de semana trágico para as teses austeritárias, lhe pedem para substituir Merkozy por Merkollande. Esses, já se sabe, consideram a democracia um pormenor e a soberania do povo um mero conceito teórico.
Daniel Oliveira

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