Passos Coelho falou em 15 minutos de austeridade para os próximos dois anos. Discurso para alemão ver, ou um simples tiro no pé?
Pedro Passos Coelho revelou aos portugueses, em cerca de 15 minutos, o que não queriam ouvir. E mostrou, num discurso eloquente, calculista e fabricado com precisão germânica, como de boas intenções está o Inferno cheio. Ou como das boas palavras o homem pode tirar as piores acções.
O primeiro-ministro português revelou que o sector privado terá “luz verde” para aumentar os horários de trabalho em 30 minutos por dia. Em nome de quê? “Para contrariar o risco da deterioração económica”, explicou Passos Coelho.
O chefe de Governo garantiu a partir do Palácio de São Bento que a sua equipa “não se limita a pedir sacrifícios e a impor limites” e quer “resolver os nossos problemas com mais trabalho, mais ideias, mais espírito de entreajuda e cooperação entre todos”. Mas desde já promete que em 2012 não há subsídios de Natal e de férias para os funcionários públicos com salários acima dos mil euros. Porquê? “Temos de salvaguardar o emprego”, argumentou.
Mais: “No orçamento para 2012 haverá cortes muito substanciais nos sectores da Saúde e da Educação”, afirmou Pedro Passos Coelho. Perdão… Como disse? “É preciso evitar também o colapso da estrutura básica do Estado social”, ouvimos do mesmíssimo primeiro-ministro.
A comunicação de Passos Coelho aos portugueses traduzir-se-á em reacções diferentes pelo país fora. Desespero para os mais pobres, com um poder de compra cada vez mais espartilhado. Triunfalismo liberal entre os mais ricos, a quem não faltarão paraísos fiscais para se refugiarem da fúria de cobrança do Ministério das Finanças.
Mas acima de tudo, o que o primeiro-ministro lê, com ar grave e pose de estadista, é a prova da desorientação. De um governar para alemão ver. A aprovação, em catadupa, de pacotes de austeridade é uma receita com todos os ingredientes para implodir o país.
A ruína de uma nação que, como bem disse Passos Coelho, acumulou “tantos erros” nos últimos anos, está latente. E o primeiro-ministro está a jogar uma roleta russa, que pode acabar, a qualquer instante, com a esperança de construir um país mais justo e desenvolvido.
Mais do que dar aos portugueses bons motivos para correrem à farmácia a comprar anti-depressivos, Passos Coelho aponta a Portugal a porta de um suicídio colectivo. A subida do IVA na restauração de 13% para 23% promete afastar ainda mais os portugueses dos cafés e restaurantes (que têm frequentado cada vez menos), pondo em risco milhares de empregos neste negócio.
O corte dos subsídios de Natal e férias para funcionários públicos deixará o comércio, dos maiores retalhistas aos mais pequenos comerciantes de rua, à míngua. Adivinham-se falências e lojas vazias. E mais desemprego.
Com menos despesa na saúde e na educação (assim promete Passos Coelho), o Governo vai destruindo os alicerces do desenvolvimento. Aponta o país para um futuro sombrio, de gente mal educada e doente. Passos Coelho esforçou-se por trazer para Portugal disciplina financeira e pulso firme e rápido. Mas o país merecia melhor.
Jorge Horta
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