O QUE É... PRODUTIVIDADE
É quando o funcionário reage a uma preocupação genuína da empresa para com ele.
Uma das lembranças mais vívidas que tenho do meu primeiro emprego era o grande escritório. Todo aberto, com um pé-direito enorme e paredes nuas. O ambiente era tão espartano, que a única coisa que podia ser vagamente chamada de "decoração", eram os dois pomposos retratos dos fundadores, pendurados na parede do fundo. E era ali, sob os retratos, que ficavam as mesas dos diretores, estrategicamente posicionadas para que eles tivessem uma visão total do local. De frente para a direção ficavam todas as outras, e a hierarquia funcionava por filas de mesas. Na primeira fila estavam situados os chefes, para que eles pudessem ir rapidamente até à mesa dos diretores quando fossem chamados. Na última fila, ficavam os supervisores. E no meio, observados o tempo todo, tanto pela frente como pela retaguarda, ficávamos nós, o resto dos funcionários. Cada funcionário tinha a sua mesa, e só.
Mesmo os cestos de lixo ficavam junto às mesas dos supervisores, para que eles pudessem conferir tudo o que estava a ser descartado.
Um dia, apareceu na empresa um pessoal estranho, bem vestido e bem falante. Definiam-se como "atualizados com as tendências da administração moderna", algo que nós ali nem desconfiávamos que pudesse existir. Este povo tinha sido contratado com o objetivo de mudar a mentalidade já meio ultrapassada da empresa, e começou a alterar o layout: construíram salas para os gerentes, salinhas para os supervisores e minisalões para cada departamento. Como tudo isso requeria espaço, o escritório teve de ser ampliado. E aí, aproveitando o embalo, foram inseridos vários itens, digamos, mais atualizados com as tendências da administração moderna, como vasos com flores, reproduções de pinturas clássicas e persianas coloridas nas janelas.
O efeito foi incrível. A produtividade geral dobrou da noite para o dia. E, para nós, tudo pareceu óbvio: quando se dá ao ser humano mais espaço e mais tranquilidade, ele funciona melhor. O escritório tinha deixado de ter aquele aspecto de estádio de futebol para se transformar num ambiente que privilegiava a individualidade. E o agradecimento resumiu-se numa palavra que qualquer empresa entende e aprecia: produtividade.
Há um mês, encontrei-me com um funcionário de uma grande instituição financeira e ele contou-me, todo entusiasmado, a grande mudança pela qual o escritório acabara de passar.
Dezenas de salas e salinhas tinham sido colocadas abaixo e o local tinha sido transformado num imenso salão, onde todo mundo podia ver todo mundo. E o resultado tinha sido positivo, em todos os sentidos: de repente, passou a haver mais espaço, mais luminosidade, mais contacto humano e, principalmente, muito mais produtividade!
"Isto é o Século XXI!", disse-me ele. E eu, tentando não o melindrar, expliquei que aquilo, a bem da verdade, era o Século IXX. Grandes escritórios abertos, sem paredes, divisórias ou baias, foram o início de toda a história, lá pela época da Revolução Industrial. O facto de a produtividade melhorar quando a empresa constrói ou derruba salas, tanto faz, é resultado não da arquitetura, mas da mensagem que a empresa está a passar: estamos a mudar para oferecer melhores condições de trabalho. E, quando o funcionário sente que existe uma preocupação genuína com ele, fica mais produtivo. Até no escuro.
Artigo escrito por Max Gehringer publicado na Revista VOCE SA.
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