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terça-feira, 12 de agosto de 2014

”Os cavalos também se abatem” e os burros é que os carregam

O que o Governo tem de anunciar é o pedido dessa grande investigação ao Ministério Público, com a máxima urgência e garantindo-lhe todos os meios. E, se não o fizer, apenas poderemos concluir que receia ver-se envolvido ele próprio (leia-se PSD e CDS) nos negócios sob escrutínio.
O Banco de Portugal (BdP) emprestou 3.500 milhões de euros ao Banco Espírito Santo (BES) no dia 1 de agosto, 2 dias após a divulgação pública de um prejuízo naquela instituição de 3.600 milhões no 1.º semestre. Se o montante não for devolvido, será o BdP a arcar com os custos e, em última instância, o Estado, isto é, os contribuintes.
O BdP tinha, no final de 2013, capitais próprios de 1.500 milhões de euros e um resultado líquido de 253 milhões de euros, metade face ao ano anterior. Se tudo correr mal, quem paga é o contribuinte. Ou seja, o Estado poderá ter de ajudar o BdP caso este enfrente dificuldades devido ao incumprimento, neste caso por parte do BES.
O referido empréstimo não foi divulgado pelo governador do BdP a 3 de agosto, data em que Carlos Costa anunciou a criação do Novo Banco.
O Banco Central Europeu terá exigido ao BES que pagasse em apenas 3 dias um reembolso de 10.000 milhões de euros. A revelação consta da Acta do Banco de Portugal sobre os motivos que levaram à intervenção do BdP no BES, mas quem divulgou essa acta não foi o Banco de Portugal, mas um advogado.
O filho do ex-primeiro-ministro ‘laranja’ e ex-presidente da Comissão Europeia, de 31 anos, foi contratado, por convite, pela instituição de Carlos Costa, embora por padrão o Banco de Portugal costume abrir concurso.
No seu curriculum, Luís Durão Barroso conta com a licenciatura em Direito na Nova e o mestrado e doutoramentos, tirados na London School of Economics. Desde 2012 que é docente na Universidade Católica. Antes, profissionalmente, contava apenas com 2 estágios de verão nos escritórios de advocacia Linklaters e Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados.
Na análise à execução orçamental da administração central referente a 2013, é dito pelo Tribunal de Contas) TdC que os custos acumulados com a nacionalização do BPN ascenderam a 2.200 milhões de euros no final de 2013.
O TdC alertou hoje, em relatório, que poderão vir a surgir novos e "significativos" encargos para o Estado ainda decorrentes da nacionalização do BPN, vindos da sociedade-veículo Parparticipadas.
Chegados aqui, já não há dúvidas, até prova em contrário, de que o capitão Costa Concórdia e os outros “homens do leme” cometeram erros de pilotagem que têm que ser julgados… E com este mimo inoportuno do “job for the boy”, atingimos o limite da ética e as raias da moralidade… Um “ato falhado”, que demonstra o desprezo pelos cidadãos e um desafio aos limites da indignação.
Perante estes factos, já ninguém duvida de que o BPN (a ser verdadeiro o custo calculado pelo TdC) vai ser uma curta-metragem comparado com a cowboyada do BES.
No fim, às vezes, “Os cavalos também se abatem”, mas são sempre os burros que aguentam com a carga…
Não andaremos longe do mesmo END!
Se não quer viver numa sociedade onde os ricos têm todos os direitos e os pobres todas as culpas, exija justiça.
"Erros de gestão", "imprudência", "irregularidades", "risco de crédito", "falta de activos", "imparidades", "activos tóxicos", "incumprimento", "problemas de solvabilidade", "insuficiências de capital", "infidelidade", "gestão danosa", "abuso de informação privilegiada", "abuso de confiança". Há, no simples léxico usado pelo mundo político, pelo mundo financeiro e pelo mundo mediático para descrever o caso BES, narrativas implícitas que se impõem como explicações naturais para o descalabro do império Espírito Santo. Não são precisos verbos para descrever a acção quando se usam estes substantivos. Cada um deles conta a sua história própria, insinuando diferentes níveis de responsabilidade e respeitabilidade para cada um dos intervenientes.
A mais benévola dessas narrativas, hoje em perda, descreve uma organização liderada por gestores ousados e bem relacionados no país e no estrangeiro, que alargaram excessivamente as suas operações financeiras movidos por uma enorme ambição e com o apadrinhamento da liderança política, lançando-se numa trajectória de investimentos de alto risco que acabou mal devido à crise financeira nacional e internacional. É uma história de ambição e de cegueira, de ascensão e queda, uma saga de decadência. Outra narrativa descreve uma família habituada durante gerações a mandar nos destinos do país e que, mercê de uma complexa teia de favores financeiros e políticos, que distribuiu prodigamente, alargou a sua influência até um ponto em que a sua insuficiente competência e as rivalidades internas se combinaram para desagregar o império. É uma história de vaidades e infelicidades, de pobres diabos que por acaso são arrogantes milionários. Outra ainda descreve uma organização criminosa da alta finança, envolvida num esquema piramidal alimentado por uma reputação de poder e de influência que lhe garantiu a atracção de cada vez mais capital, capital esse cuja gestão foi descuidada e cujos investimentos produziram por isso cada vez menos rendimentos e que, também por isso, começou a ser crescentemente utilizado para comprar favores políticos que garantiram cada vez mais entradas de capital que foi descaradamente desviado para os bolsos dos líderes da organização e escondido em off-shores exóticas. É uma história de crime, de tráfico de influências e de chantagens, de ganância sem escrúpulos.
Conforme os narradores e os seus interlocutores, as narrativas cruzam-se, entretecem-se, tornam-se mais policiais e brutais ou mais palacianas e refinadas. A hesitação entre todas elas é uma prova da rede de influências que Ricardo Salgado espalhou pelo país e que ainda está por aí, em estado de vida latente, a ver para que lado caem as fichas. Ricardo Salgado poderá já não ser o "partido" com mais deputados na Assembleia da República, mas as notícias da sua morte podem estar a ser exageradas. Salgado negou ter 30 milhões de euros em Singapura, mas terá 300 milhões no Brasil? Ou mais? Até onde se estende ainda o império Espírito Santo? O caso BES vai ser o "escândalo BES" ou apenas a "crise BES"? Ricardo Salgado é um escroque ou um tolo? Cometeu erros ou cometeu crimes? O que o protegeu durante tanto tempo? Teve sorte ou teve cúmplices?
Apesar de se acumularem os sinais de "irregularidades" no BES (algumas denunciadas pela CMVM ao Ministério Público, ainda antes das suspeitas de insider trading dos últimos dias) a verdade é que a narrativa se arrisca a amornar, com a CMVM e o BdP e o Governo a lavarem as suas mãos e o contribuinte a pagar os luxos de que Ricardo Salgado fez beneficiar tantos amigos.
A prudência dos media é natural. Não se pode acusar alguém sem provas e não se pode dizer que alguém é um ladrão antes de a sentença transitar em julgado, o que pode não acontecer nunca, mesmo que o ladrão confesse o roubo e todos o tenhamos testemunhado. Mas é fundamental, em nome da sanidade da sociedade, da sanidade da justiça e da sanidade da política que haja uma investigação consolidada de todo o processo de falência do GES e do BES e não apenas investigações esparsas desta ou daquela "irregularidade", que irão concluir que um burocrata se esqueceu de carimbar um impresso.
O que o Governo tem de anunciar é o pedido dessa grande investigação ao Ministério Público, com a máxima urgência e garantindo-lhe todos os meios. E, se não o fizer, apenas poderemos concluir que receia ver-se envolvido ele próprio (leia-se PSD e CDS) nos negócios sob escrutínio. Recordam-se de Carlos Costa a garantir há um mês que nem o BES nem o GES tinham um problema de solvabilidade? E de Cavaco Silva? E de Passos Coelho? Que as responsabilidades políticas não sejam assumidas pelo Governo é algo a que estamos habituados, mas temos de exigir a responsabilização criminal de quem rouba de forma tão colossal e tão descarada. E a verdade é que falta dinheiro no BES e que nos vão pedir para tapar o buraco. Não chegará isso para exigir a investigação?

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