Há alguns anos, eu tinha consultas regulares com um neurologista que me tratava as dores de cabeça crónicas. Numa dessas consultas, o médico abandonou a sua habitual atitude lacónica e fez-me algumas perguntas sobre o meu dia-a-dia. Expliquei-lhe que, como muitas pessoas na casa dos 40, tinha uma agenda preenchida. Trabalhava a tempo inteiro, tinha 3 filhos e um marido que viajava bastante. E, já agora, o meu pai sofria de demência e ficaria comigo, enquanto a minha mãe recuperasse de uma cirurgia à anca.
Jody Gastfriend
- “Hum", murmurou o médico, reprovador. "Isso é demasiado."
- "Bem, é a minha vida", respondi, defensiva. "Não é diferente da vida de muitas outras mulheres." - "Talvez", respondeu. "Mas o seu corpo está a dizer-lhe que é mais do que pode razoavelmente fazer."
Aborrecida, achei que ele não percebia nada. Porém, com o tempo, a sua mensagem começou a fazer sentido. Como muitas pessoas que prestam cuidados a outros, eu estava no mercado de trabalho e ensanduichada entre as necessidades dos meus filhos e as dos meus pais idosos. Fazia parte do largo contingente de 65.700.000 de norte-americanos que fornecem 80% dos cuidados a longo prazo no país. Em geral, nem sequer nos identificamos como cuidadores, mas apenas como bons filhos, bons pais ou boas mães, tentando fazer o nosso melhor e sentindo constantemente que não estamos a cumprir em lado nenhum.
A pressão de ser a geração que presta cuidados a ascendentes e descendentes pode ter um custo elevado, tanto a nível emocional como financeiro. À escala individual, cuidar de um elemento sénior da família pode custar, nos EUA, mais de 5.000 dólares por ano. Se acrescentarmos os nossos filhos (os meus eram adolescentes que, na altura, precisavam da minha atenção, embora fizessem de conta que não), o total da fatura é significativo e é pago por quem presta cuidados, mas também pelos seus empregadores.
Em média, os prestadores de cuidados faltam ao trabalho 6,6 dias por ano. A produtividade perdida representa um grande custo para as empresas - entre 17.000 e 33.000 milhões de dólares anuais. Uma vez que livrar-se dos pais ou dos filhos não é opção, deixar o emprego é, muitas vezes, o último recurso do prestador de cuidados, exausto.
Embora, nos EUA, o FMLA (Family Medical Leave Act) permita aos prestadores de cuidados empregados uma licença até 3 meses, a maioria das pessoas não é paga durante esse período. Para os que deixam o emprego inteiramente por causa das suas responsabilidades de prestação de cuidados, estima-se que a perda total de salários ande à volta dos 324.000 dólares para as mulheres (incluindo a Segurança Social que teriam ganho) e apenas um pouco menos para os homens.
Que aconteceria, porém, se o seu empego pudesse aliviar o fardo? Algumas empresas estão a facilitar a permanência dos prestadores de cuidados no trabalho e estes, que outrora receavam falar disso, estão agora a dar voz às realidades com que têm de lidar: quando o telemóvel toca com uma chamada inesperada, não se pode esconder o facto de que a auxiliar de saúde da mãe não apareceu e teremos de faltar à importantíssima reunião de gestão para a levar ao médico.
A primeira e principal forma de as empresas apoiarem estes empregados é permitindo-lhes flexibilidade. Muitos prestadores de cuidados contaram-me que não podiam sair do trabalho mais cedo ou chegar mais tarde, embora tivessem um plano para compensar o tempo. As empresas arriscam-se a processos por discriminação no local de trabalho e, além disso, as notícias correm depressa e a concorrência pelo talento é feroz.
Um estudo nacional de empregadores, realizado em 2012 pelo Instituto das Famílias e do Trabalho e pela Sociedade para a Gestão de Recursos Humanos apoia esta ideia: "As organizações que podem oferecer mais flexibilidade, como tempo reduzido, licenças para prestação de cuidados e carreiras flexíveis, terão uma vantagem competitiva no recrutamento e retenção de empregados, à medida que a força de trabalho envelhece e o empenho dual nas vidas pessoais e profissionais dos mais jovens se tornam determinantes cada vez mais fortes no mercado de trabalho." Ser conhecido por ter uma cultura de trabalho flexível e compreensiva é boa gestão e, além disso, faz sentido em termos de negócio.
Contudo, os empregados precisam muitas vezes de mais do que flexibilidade - precisam de ajuda. De acordo com um estudo recente da ReAct ("Respect a Caregiver"s Time", Respeite o Tempo de um Cuidador) e da Aliança Nacional para a Prestação de Cuidados, as melhores práticas nos cuidados aos mais velhos no local de trabalho incluem o acesso a informação em rede, programas de recursos e referências, apoio domiciliário com desconto e tempo de folga pago.
As empresas começam muitas vezes por supervisionar os empregados para determinarem áreas de maiores necessidades. Uma organização oferece seminários sobre tópicos relacionados com a prestação de cuidados, tais como, "Será que o pai ainda deve conduzir?" e "Cuidar de um familiar com demência". Quando os seminários esgotam as inscrições, torna-se claro que há empregados com problemas enquanto cuidadores. A organização avança então com um programa de recursos e referências e com grupos de apoio no local.
Os empregados de empresas que oferecem benefícios aos cuidados dos idosos têm mais capacidade em procurar ajuda e, em resultado, mais probabilidade de se manter no emprego.
Vejamos o exemplo de Nancy; uma mãe solteira de 48 anos, que trabalha a tempo inteiro como assistente administrativa numa universidade. A sua mãe, de 85 anos, vivia sozinha e começava a mostrar sinais de demência. Quando Nancy soube que a sua organização oferecia um benefício chamado "Planeamento de Cuidados a Seniores", sentiu-se aliviada. Através deste programa, Nancy trabalhou com um assistente social que a ajudou a elaborar um plano. O assistente social encontrou uma agência de cuidados domiciliários, também subsidiada pela universidade, que podia fornecer à mãe de Nancy apoio ao nível de transporte básico e recados - tarefas que, de outra forma, Nancy teria de fazer sozinha.
Para terminar, o assistente social identificou uma comunidade de ajuda que poderia suprir as necessidades da mãe a longo prazo. "Sem dúvida que isto tornou tudo mais fácil. É quase preciso ter um curso superior neste género de coisas para o fazer! Foi uma bênção", afirma Nancy. Para muitos dos que estão a tentar resolver tudo sozinhos, este género de ajuda especializada pode salvar-lhes a vida. Se passarmos todo o nosso tempo de prestadores de cuidados, nervosos e a desvendar logísticas, podemos perder a parte boa - e isso inclui estar empenhado no trabalho e ao mesmo tempo dispor de horas preciosas junto da família.
Os meus 3 filhos cresceram. A minha casa está mais calma e a minha vida menos frenética. Desde a morte do meu pai, tenho muito mais consciência de como pode ser fugaz a vida na sanduíche da prestação de cuidados. Embora tivesse havido alguns momentos calamitosos - cheguei a levar o meu pai para o trabalho um dia em que o seu auxiliar não apareceu - não me arrependo do caminho que escolhi. E sei que o tempo passado a cuidar do meu pai e filhos, apesar de todo o stresse e incertezas, teve momentos de alegria e de mágoa, temperados com muita gratidão.
Porém, quando falo com prestadores de cuidados por todo o país, e apesar dos progressos que algumas empresas estão a fazer, ainda encontro semelhanças com a minha própria experiência como mãe trabalhadora de 3 filhos e filha adulta de pais envelhecidos: o secretismo, os telefonemas frenéticos para arranjar ajuda no último minuto e a frustração e o medo a crescerem por tentar fazê-lo sem que o meu patrão me visse suar - ou, mais provavelmente, em lágrimas. Enquanto cuidadores, não podemos fazer tudo sozinhos.
Programas de apoio, serviços de recursos e referências e orientação especializada podem fornecer soluções reais, mas apenas podem ser eficazes se o ambiente de trabalho for amigável para os prestadores de cuidados. Em última análise, estamos todos juntos nisto, pois a certa altura das nossas vidas todos prestaremos cuidados - ou precisaremos deles.
Jody Gastfriend, vice-presidente da Senior Care Services, é assistente licenciada de clínica social e com mais de 25 anos de experiência no campo dos cuidados à terceira idade
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