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sábado, 8 de fevereiro de 2014

Confirma-se(?) o adágio: “Quanto mais velho melhor”

Passamos muito tempo a discutir a idade mínima de reforma. Mas falamos pouco sobre o sistema de pensões expulsar do mercado de trabalho quem tem mais anos.
Ricardo Reis
Em Portugal, isto acontece de, pelo menos, 3 formas:
Primeiro, quem desconta para a Caixa Geral de Aposentações tem de se reformar compulsivamente aos 70 anos;
Segundo, aos 70 anos cessam as bonificações para as pensões de velhice, reduzindo significativamente o retorno financeiro de continuar a trabalhar;
Terceiro, porque as pensões são pagas só até à morte, cada ano a mais a trabalhar é um ano menos a receber, tomando como fixa a esperança de vida.
O principal argumento usado para forçar as pessoas a reformarem-se é que elas serão menos produtivas com a idade. Mas, não é nada claro que isto seja verdade. As capacidades motoras podem diminuir com a idade, mas a experiência aumenta. Por um lado, com as melhorias na saúde, e por outro lado com o crescimento do sector dos serviços em que conta mais a experiência e menos a força, em princípio é perfeitamente plausível que os mais velhos sejam mais produtivos.
Para atacar esta questão, 2 economistas alemães obtiveram os dados de uma fábrica de camiões da Mercedes no sul da Alemanha com trabalhadores de todas as idades. O trabalho na linha de montagem era feito por equipas e o produto era estandardizado, permitindo medir a produtividade pelo número de erros detetados no fim da linha pelos inspetores de qualidade, assim como a gravidade dos erros pelas estimativas do custo em corrigi-los. As equipas tinham entre 4 e 35 trabalhadores, dependendo da posição na linha, e a composição das 100 equipas mudava diariamente devido a flutuações nas encomendas, faltas, férias, entrada de trabalhadores temporários, ou mudanças na gestão. Nos 4 anos do estudo, cada trabalhador esteve numa equipa em que pelo menos 1 membro era diferente, em média 179 vezes. Os economistas usaram as flutuações no número e gravidade dos erros de dia para dia para medir a contribuição dos trabalhadores mais velhos.
Neste ambiente, que exige esforço físico, talvez fosse de esperar que a alegada inferioridade dos trabalhadores mais velhos se fizesse notar. No entanto, os resultados são muito claros: não há qualquer declínio de produtividade entre os 25 e os 65 anos. Pelo contrário, a produtividade parece aumentar ligeiramente a cada ano, entre os 25 e os 60 anos. Decompondo a produtividade entre o número de erros e a sua gravidade, os resultados tornam-se ainda mais interessantes. Com o avançar da idade, aumenta claramente o número de erros. Mas diminui, de forma ainda mais acentuada, a sua gravidade. Isto sugere que a vantagem dos trabalhadores mais velhos seja a sua experiência que lhes permite evitar grandes asneiras.
Se não é a produtividade que justifica as reformas compulsivas, então o que está por trás delas? A resposta fica para a semana, mas para já fica uma pista: os limites máximos de idade no trabalho são comuns na Europa, mas raros nos EUA.  

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