Uma década depois do seu lançamento, a rede social transformou-se, pelo menos para os muitos que lá estão registados, num palco onde todos são estrelas, com audiência própria, mas também parte de uma corrente coletiva que nos ajuda a viver em comunidade. No Facebook, ninguém está virtualmente sozinho.
Se parece evidente dizer que a humanidade nunca se deu bem com a solidão, não é despropositado referi-lo esta terça-feira, o dia em que o Facebook comemora 10 anos.
Já se sabe, a rede social tem mais de 1.230 milhões de utilizadores em todo o mundo; a cada 20 minutos, são partilhados 1.000.000 de links, carregadas perto de 3.000.000 de fotos, escritos 10.000.000 de comentários ou aceites 2.000.000 de pedidos de amizade.
Tudo o que está relacionado com o Facebook é grande, enorme, até porque são muito poucos os que não vivem com o desejo de ser vistos ou reconhecidos. No mínimo, através de alguma coisa que nos diga, por cima das rotinas quotidianas que nos delapidam a individualidade, que somos também ponto de interesse para alguém. Nem que seja com um aceno de cabeça. "A transposição dessa necessidade para o Facebook é já um produto da experimentação desde o início da internet", lembra Gustavo Cardoso, professor do ISCTE, mas o Facebook encontrou uma espécie de ponto de rebuçado na mistura entre a tecnologia e a vontade que temos de existir em comunidade.
A rede social criada há 10 anos por um discreto estudante de Harvard é o zénite do fenómeno a que o reputado sociólogo Manuel Castells chama de "autocomunicação de massas". No Facebook, somos simultaneamente consumidores e produtores, leitores e escritores, espectadores e realizadores. Temos um palco pessoal, com audiência própria, da qual esperamos uma reação para nos sentirmos validados. O Facebook é por isso uma constelação de milhões de estrelas com igual capacidade, à partida, para brilhar.
"É um espaço de expressão das emoções", refere Gustavo Cardoso, acrescentando que, por isso, "é também um espaço onde a nossa vida acontece e onde temos que fazer a gestão das nossas relações". O aceno de cabeça faz-se agora com o botão de "gosto".
O resultado desta soma de vontades individuais é que usar o Facebook não é apenas expressarmo-nos individualmente. É também fazer parte de uma corrente que nos dá poder. "É um espaço público de afirmação democrática", diz Manuel Carlos Silva, que preencheu "uma necessidade das pessoas de serem ouvidas", sustenta o sociólogo da Universidade do Minho.
Em conjunto, a voz coletiva cria polémicas estéreis ou mostra preferências por entretenimento baixo, é certo, mas também luta por causas políticas ou sociais significativas, que ganham força relevante no espaço público tradicional. "O cidadão conseguiu ter uma porta de entrada para conseguir ter alguma influência", continua Manuel Carlos Silva, que, no entanto alerta para a possibilidade "de o indivíduo estar sujeito a manipulações de vária ordem". Para o especialista, no Facebook há também uma "colonização da vida privada feita pelas forças económicas do mercado e das forças políticas elas interligadas". Isto é, tudo o que deixamos registado no Facebook pode, e é, ser usado e explorado por interesses que não controlamos. "Não creio que as pessoas tenham consciência do aproveitamento que é feito", em benefício de vontades - privadas e públicas - pouco transparentes.
Nos últimas semanas tem-se discutido o futuro da empresa. Conseguirá Mark Zuckerberg manter os níveis de influência do Facebook? Estará a rede social, com as notícias de que o segmento jovem estará a abandonar o serviço, com o futuro ameaçado?
Durante 10 anos, estivemos a aprender a usar estas novas possibilidades que o Facebook nos trouxe. Mas daqui a outros 10, se o Facebook ainda existir, estaremos possivelmente melhores no uso que lhe damos. Ou pelo menos, será seguramente diferente.
Em Portugal, de acordo com a Facestore - plataforma que permite a empresas e particulares abrirem uma loja online dentro da sua página do Facebook e a venderem os seus produtos diretamente aos seus amigos, fãs e seguidores - estão contabilizados cerca de 4.700.000 de utilizadores.
Estarão os adolescentes a deixar o Facebook? Um estudo publicado pela "iStrategy", no mês passado, diz que sim. O número de utilizadores entre os 13 e os 17 anos caiu, apenas nos EUA, cerca de 25%.
Mas será que a queda reforça a tese dos investigadores da universidade norte-americana de Princeton que prevê o fim da rede criada por Mark Zuckerberg? Ninguém tem a resposta, mas um dado ganha consistência: os mais novos deixam o Facebook para os pais.
Certo é que hoje, José Duarte Paiva, um estudante de 15 anos, já não tem o mesmo entusiasmo pela rede que utiliza há 3 anos e explica que no Facebook "se perde o controlo do número de 'amigos', que realmente são nossos amigos". Mesmo assim, José Duarte confessa que, depois de ter cancelado há 2 semanas a conta no Facebook, teve uma recaída e voltou à rede porque sentiu falta do frenesim das mensagens.
Conheça 10 curiosidades:
1.º - Dados da companhia indicam que no final de 2013 o Facebook tinha 1.230 milhões de utilizadores activos por mês, quase 1/6 da população mundial. Cerca de 945 milhões de utilizadores acediam àquela rede social através de dispositivos móveis.
2.º - O maior mercado do Facebook provinha dos Estados Unidos, com 146.800.000 de utilizadores no final de 2013, de acordo com um estudo da empresa eMarketer. O 2.º mercado era a Índia (84.900.000), seguido do Brasil (61.200.000) e Indonésia (60.500.000).
3.º - O Facebook não divulga estatísticas detalhadas sobre os utilizadores, mas reportou que 81% dos seus usuários ativos estão localizados fora dos Estados Unidos e Canadá.
4.º - Em 2013, o Facebook era usado por 46,6% da população na América do Norte, por 35,7% na Europa Ocidental, 29,9% na América Latina, 24,9% na Europa Central e de Leste, 11% no Médio Oriente e África e 7,1% na região da Ásia-Pacífico, segundo a eMarketer.
5.º - O Facebook reportou que o seu lucro anual cresceu de 53 milhões de dólares (39 milhões de euros) em 2012 para 1.500 milhões de dólares (1.100 milhões de euros) em 2013, e que as receitas aumentaram para 7.870 milhões de dólares (5.820 milhões de euros) a partir de 5.100 milhões de dólares (3.770 milhões de euros). A maioria das receitas é derivada de publicidade online.
6.º - Mais de um milhão de "marketers" estavam ativos no Facebook em dezembro e a rede social tinha 25.000.000 de páginas de pequenas empresas em novembro, segundo dados da empresa.
7.º - O Facebook foi responsável por uma quota de 5,7% de todas as receitas de publicidade digital global no ano passado e por 18,44% dos gastos em publicidade móvel em todo o mundo, segundo a eMarketer.
8.º - A idade dos utilizadores do Facebook é vista como um fator chave. A consultora iStrategyLabs indicou que o Facebook perdeu 3.000.000 de adolescentes nos Estados Unidos desde 2011, enquanto o número acima dos 55 anos cresceu 80%. Outras consultoras desafiaram a ideia de o Facebook estar a perder adolescentes. Uma pesquisa do Pew Research Center concluiu que o Facebook é usado por 71% dos adultos online, ou por 57% dos adultos norte-americanos em 2013. Segundo o Pew Reserchj Center, 84% dos norte-americanos online na faixa etária compreendida entre os 18 e os 29 anos usa o Facebook, tal como 45% dos maiores de 65 anos.
9.º - Os milionários do Facebook incluem o cofundador Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e o seu primeiro presidente, Sean Parker. A sua diretora de operações Sheryl Sandberg também se tornou milionária com a subida das ações do Facebook em bolsa. Chris Hughes, 1 dos 4 cofundadores do Facebook, foi diretor da organização online para a campanha presidencial de Barack Obama em 2008 e mais tarde comprou a revista The New Republic
10.º - Em dezembro, o Facebook tinha 6.337 empregados. Alguns estudos sugerem que as empresas e aplicações relacionadas com o Facebook criaram muitos mais empregos e valor económico.
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