Existe uma curiosa tendência neste país para acreditar no poder mágico das palavras. Basta passar à letra de forma as mais belas intenções para elas se materializarem e modificarem a realidade. Claro que esta forma de pensamento mágico só se mantém à custa de um persistente desinteresse das pessoas e das instituições em verificar se se passou das palavras aos atos. O controlo de execução seja lá do que for é coisa que dá muito trabalho e geralmente conduz a desavenças com quem é medido e avaliado no seu desempenho. É uma maçada a evitar - tanto quanto for possível...
Há um ano, precisamente a 16 de janeiro de 2012, 4 confederações patronais - agricultura, indústria, turismo e comércio e serviços -, uma sindical - a UGT -, mais o Governo assinaram o "Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego". É um documento de 53 páginas com capítulos dedicados às políticas económicas, às políticas ativas de emprego e formação profissional, para além de nova legislação laboral, do subsídio de desemprego e das relações laborais.
Das últimas tem-se falado muito: foram prontamente postas em prática, existindo mesmo algumas medidas, tais como as indemnizações por despedimento, que se pretende já rever muito para além do acordado. Mas o ponto essencial é este: passado um ano, vemos e ouvimos os dirigentes patronais queixar-se, em debate televisivo, que o grosso das medidas de apoio à economia e à criação de emprego nunca saíram da gaveta. E ninguém parece particularmente incomodado com isso. A pergunta impõe-se: passado um ano, em nome de um escrutínio sério e fundamentado da atividade governamental, empresarial e sindical não deveriam os partidos da oposição (já que os da maioria não tomam a dianteira nesta matéria) pedir para que se convoque uma série de audições dos parceiros sociais e do Governo na Comissão parlamentar de Economia, para que os signatários do acordo fundamentem em pormenor o que pensam do grau da sua concretização? Pela certa, assistindo a avaliações diferenciadas, ou mesmo contraditórias, tornar-se-ia mais claro aos legisladores o que falta fazer para inverter o ciclo descendente da produção e do emprego. E quem faltou, por ação ou omissão, aos compromissos assinados. Não valia a pena?
António Perez Metelo
Sem comentários:
Enviar um comentário