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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Eu não sabia que havia o efeito “nocebo”… Sabia?

Ler o folheto informativo dos remédios ou pesquisar sintomas na internet pode levar ao perigoso efeito nocebo. Excesso de informação faz com que o paciente, inconscientemente, desenvolva doenças por medo, alerta neurologista.
Marlis Schaum
"A expectativa determina o desenvolvimento de doenças", afirma o neurologista Magnus Heier, também jornalista científico, que estuda a influência do subconsciente nos seres humanos. O que esperamos tem grande influência sobre o desenvolvimento das doenças, diz o especialista. Segundo Heier, podemos criar sintomas ou fazê-los desaparecer.
Quem lê um artigo que diz que as radiações eletromagnéticas das antenas de telemóveis provocam doenças pode sentir dor de cabeça mesmo que a antena esteja desligada, afirma o neurologista.
Um paciente com cancro pode morrer muito mais rápido caso esteja convencido de que lhe restam apenas poucos meses de vida, mesmo que, de acordo com o diagnóstico, o tumor não já não esteja a crescer. Este é o chamado efeito "nocebo", sobre o qual Heier escreveu um livro.
O medo provoca stress, e o stress causa doenças
"O efeito [nocebo] ocorre sobretudo quando se tem medo de uma doença ou do tratamento a ser enfrentado. Os efeitos colaterais ficam, então, muito mais fortes", diz Heier. "Os pacientes com cancro começam a sentir-se mal quando entram na sala de quimioterapia, porque inconscientemente esperam sentir náusea após a sessão."
Medo significa stress para o corpo e pode debilitar o sistema imunológico. Assim, o corpo fica mais suscetível a infeções, e surgem dores que não deveriam existir, explica o especialista.
Outros estudos confirmam tal fenómeno, como os realizados por médicos das clínicas universitárias de Regensburg e Tübingen. Winfried Häuser, Emil Jansen e Paul Enck publicaram estudos sobre o efeito “nocebo” entre 1960 e 2011 em todo o mundo, tendo verificado e compilado os resultados obtidos.
Nocebo e placebo
O termo “nocebo”, em latim, significa “fazer mal”, enquanto placebo significa "agradar". Trata-se basicamente do mesmo efeito, só que um é negativo e o outro, positivo. Ambos afetam as pessoas no ponto que elas menos podem controlar: o subconsciente.
Um placebo gera a convicção de que o paciente será ajudado. Muitas vezes, um medicamento que não contém nenhuma substância ativa, como uma simples solução de água com açúcar, tem o mesmo efeito que um medicamento de verdade.
O efeito placebo foi estudado a fundo. Ao ser pesquisado na biblioteca virtual do Ministério de Saúde dos EUA, o termo aparece quase 160.000 vezes. Já “nocebo” aparece apenas 180 vezes. Na Alemanha, o efeito negativo começou a receber atenção apenas nos últimos anos.
Muita informação
"Se deteto num paciente um leve estreitamento da artéria carótida – nada relevante, apenas um pequeno estreitamento – e faço o diagnóstico, sempre que o paciente tiver uma tontura, vai associá-la ao problema. Toda a gente sente tonturas de vez em quando, mas o paciente fica com aquilo na cabeça, o diagnóstico fica ancorado no seu subconsciente”, afirma Heier.
Quando alguém tem medo de desenvolver um tumor, talvez não o desenvolva, mas o stress pode deixar o paciente suscetível a outra doença. O efeito “nocebo” geralmente ocorre quando recebemos muita informação e não conseguimos ordená-las corretamente, especialmente ao procurar na internet, doenças e sintomas.
Já o folheto informativo dos remédios lista todos os possíveis efeitos colaterais, mesmo que alguns raramente se manifestem, ou seja, em algo como 1 em cada 10.000 pacientes. As empresas farmacêuticas são, porém, obrigadas a detalhar todas as possibilidades.
Comunicação eficiente
Quem ficar preocupado ou tiver medo dos efeitos colaterais não deve simplesmente deitar o remédio ao lixo ou autodiagnosticar-se na internet. O melhor a fazer é consultar um médico, alerta Heier.
No entanto, até mesmo a comunicação médico-paciente pode desencadear medos no paciente, se o médico não for cuidadoso. "Uma conversa pode ter muita influência", afirma Sasa Sopka, anestesista e diretor do centro de treino em educação médica da Universidade de Aachen.
O assunto, que já é tema de estudo dos estudantes de Medicina dos EUA há 30 anos, começou a fazer parte do currículo das universidades alemãs só nos últimos anos. A disciplina Comunicação com pacientes é obrigatória na Universidade de Aachen desde 2005. "Nas aulas, fica claro que se pode alterar ou até influenciar negativamente os pacientes, caso a conversa não prossiga da forma adequada", diz Sopka.
Não ouvir com atenção, não fazer contacto visual, não levar o paciente a sério ou intimidá-lo pode ser nocivo. O médico também tem que ter cuidado para não usar um tom negativo e criar desconforto. Tudo isto pode ocorrer devido à falta de tempo, à pressão no trabalho ou porque os médicos querem ser transparentes sobre os possíveis riscos de um tratamento ou operação.
Caso se sinta alguma dor, deve-se procurar um médico, enfatiza Heier. Exames preventivos também são indicados. Todo o resto deve ser feito com cautela, pois não se pode subestimar o efeito de folhetos informativos de remédios ou diagnósticos médicos na internet sobre o subconsciente.
Colaborando com o Secretário de Estado Adjunto da Saúde, que apelava há dias para que os portugueses deviam prevenir doenças para ajudar o SNS, não com a mesma intenção (a prevenção faz parte do SNS), mas para alertar quem nos lê, de que não deve ler os papéis que acompanham os medicamentos, muito menos fazer buscas na internet sobre doenças e remédios, para não gravar no subconsciente o que de negativo lá conste… como prevenção.

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