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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Nosso modelo, mas quer modelar-nos em baixo-relevo

“Após uma maratona negocial de 17 horas, a 27 de novembro, os líderes da União Democrata-cristã (CDU) e do Partido Social-democrata (SPD) anunciaram um acordo para a formação de uma grande coligação”, noticia Die Tageszeitung.
“Grokoal” (grande coligação) / “Para que os alemães se sintam melhor!” / “Leia as instruções, por favor”
O acordo inclui a introdução de um salário mínimo de 8,50 euros à hora, uma subida das reformas e maior facilidade na obtenção de dupla nacionalidade. No entanto, o SPD não conseguiu impor uma subida de impostos, escreve o TAZ.
O diário, o único a consagrar a primeira página à “Grosse Koalition”, ironiza este parto difícil depois de mais de 2 meses de negociações, que tem ainda de ser aprovado pelos militantes do SPD até 12 de dezembro:
Angela Merkel e Sigmar Gabriel congratulam-se com o nascimento do novo filho: mais uma grande coligação. Com quem se parecerá o petiz? Para sobreviver, vai precisar da aprovação das bases do SPD [o que faz dele] uma espécie ameaçada.
O acordo para uma nova grande coligação governamental entre os democratas-cristãos de Angela Merkel e os sociais-democratas, apresentado no dia 27 de novembro, não suscita grandes entusiasmos entre a imprensa alemã. Muito aguardado, é considerado demasiado generoso por alguns e pouco focado na Europa por outros.
O Frankfurter Allgmeine Zeitung não aprova de todo o acordo, nomeadamente por prever várias “vantagens sociais”, como o salário mínimo de 8,50 euros/hora ou a idade da reforma completa que passou de 67 para 63 anos, e que os sociais-democratas conseguiram impor à chanceler Angela Merkel. Para o jornal conservador trata-se de um “grande caldo”, que “cozeu demasiado tempo” e que “todos conseguem digerir facilmente”:
Uma grande coligação tem sempre um grande coração. Daí o povo a preferir em relação às pequenas coligações. Deste ponto de vista, esta 3.ª grande coligação [na história da RFA] não quer desiludir os alemães. Cada um dos 3 partidos mostra-se generoso com as pessoas mais necessitadas. Daí resulta um pacto que assegura imensas vantagens sociais ao país. Do salário mínimo à reforma para as mães [28 euros a mais por mês e por criança a partir de 2014] passando pela dupla nacionalidade, ficam todos bem servidos. […] [Mas] muitos alemães irão sentir os custos ocultos destes atos de bondade, mesmo que isso diga apenas respeito às gerações futuras.
Die Welt indigna-se pelos mesmos motivos: “esta coligação não tem a mínima ideia de si própria e do que pode exigir a este país” diz o jornal num tom alarmante, que considera que a Alemanha deixa de servir de modelo para a Europa ao reforçar o seu próprio Estado social:
Este acordo de coligação transparece um estatismo narcísico e pós-heroico. A liberdade de ação instaurada pelo antigo chanceler [social-democrata] Gerhard Schröder para fazer prosperar a economia nacional e lutar contra o desemprego maciço é sistematicamente posta de parte. O sinal transmitido à Europa é catastrófico. Defendemos a austeridade para os países em crise e reforçamos o nosso Estado social já bem composto, em vez de o por de dieta. A Alemanha já não pode servir de exemplo para a Europa.
“O novo Governo ignora a crise na Europa”, deplora Wolfgang Münchau no Spiegel Online. O editorialista lamenta que, relativamente ao tema da união bancária, só tenham sido executadas alterações mínimas ao acordo:
A ausência de alterações na política de crise significa que não vamos, de forma alguma, progredir num dos maiores projetos da política económica. Uma verdadeira união bancária com um fundo comum europeu para a dissolução dos bancos e uma garantia comum para a poupança contribuiria imenso para a resolução da crise. Mais importante ainda, seria criar uma política de anulação rápida da dívida. Com esta grande coligação, o SPD e Angela Merkel cometem o erro histórico de adiar a falência.
Die Tageszeitung realça, por sua vez, o facto de Angela Merkel ter imposto a sua vontade quanto à questão dos impostos que não aumentarão para os ricos, como o tinham exigido os sociais-democratas, e à forma como a crise do euro deve ser gerida. Em contrapartida, o diário de esquerda saúda a instauração do salário mínimo:
[São] melhores condições para os “working poor” [trabalhadores pobres]. Todo o país estará sujeito a um salário mínimo de 8,50 euros, mesmo que só entre em vigor a partir de 2017. Haverá uma melhor regulamentação dos empregos precários. O mote está dado: aquele que trabalha não deve ser explorado como acontecia outrora. […] Este acordo de coligação é uma espécie de manual de reparação para o tecido danificado da sociedade.

2 comentários:

  1. A Alemanha foi condenada pelos nossos queridos burocratas de Bruxelas por ter um superavit de 6%. Com este renascer dos direitos por decreto sochialista vamos assistir a erosão rapida do sinal de mais para menos, ficando então em linha com os paises solidarios do sul. Só que mais gordos e anafados, mas sem superavit comoquerem os nossos democratas.

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    1. Ainda bem que Merkel aceitou o reerguer o Estado (social), só que a inconsistência com o que impõe aos outros continua... O que é bom para eles, só é bom para eles?

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