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sábado, 30 de novembro de 2013

Estaremos a assistir à secularização da Igreja Católica?

O Papa Francisco atacou o capitalismo sem limites como “uma nova tirania” e advertiu que a desigualdade e a exclusão social "geram violência" no mundo e podem provocar "uma explosão", na sua primeira exortação apostólica, na qual traça o caminho para reformar a Igreja Católica, de forma a torná-la mais misericordiosa nestes tempos em que se ampliam as desigualdades e a secularização e a indiferença ganham terreno.
Este documento é como que o programa oficial do seu papado. Contém as posições que ele tem vindo a expressar nos seus sermões, discursos e entrevistas desde Março, quando o cardeal argentino Jorge Bergoglio se tornou o primeiro sumo pontífice não-europeu dos últimos 1.300 anos. Nele fala também da urgência da “conversão do papado”, para além da reforma da Igreja que dirige.
Por isso, nesta exortação, de título Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), o Papa diz estar “aberto a sugestões” para reformar o papado.
A luta contra a pobreza e o actual sistema económico é uma prioridade absoluta para o Papa Francisco, que atravessa todo o seu plano de acção. “Esta economia mata”. Faz prevalecer “a lei do mais forte, o mais poderoso come o mais fraco.” Esta cultura “do desperdício” criou “algo de novo: os excluídos não são explorados, são desperdícios, lixo”, critica o sumo pontífice. “É a nova tirania invisível”, de “mercado divinizado”, onde reinam a “especulação financeira”, a “corrupção ramificada” e a “evasão fiscal egoísta”.
Bergoglio quer que a sua igreja mude, mas reza também por políticos capazes de mudar esta situação. “Peço a Deus que aumente o número de políticos capazes de entrarem num autêntico diálogo orientado para sanar eficazmente as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo”. Os planos assistenciais, que se tornaram moda para disfarçar a miséria, apenas “fazem frente a algumas urgências, mas devem apenas considerar-se como respostas provisórias.”
Apelou aos políticos para que garantam a todos os cidadãos “trabalho digno, educação e cuidados de saúde”, e aos ricos para que partilhem a sua fortuna: “Tal como o mandamento ‘Não matarás’ impõe um limite claro para defender o valor da vida humana, hoje também temos de dizer ‘Tu não’ a uma economia de exclusão e desigualdade. Esta economia mata”, afirma Francisco na exortação apostólica.
Pedro d'Anunciação
No seu primeiro documento como Sumo Pontífice, a exortação apostólica Evangelii Gaudium, divulgado na imprensa de todo o Mundo, o Papa Francisco faz advertências muito mais duras do que Mário Soares sobre o perigo de violência que as actuais políticas liberais provocam. Passo a citar: "As várias formas de agressão e guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão". Todos os jornais citam também as suas palavras, dizendo que a desigualdade social “gera violência”. E sustenta também que o capitalismo evoluiu para uma forma em que já não explora os trabalhadores, mas os trata na Sociedade ‘como desperdício, como lixo’.
Palavras portanto muito mais duras do que as de Mário Soares, quando dizem que ele insta à violência. E eu, que sou católico, mas não soarista, compreendo a posição do líder histórico do PS, que sempre foi igual a si mesmo – quando lutou contra o antigo regime, ou contra o gonçalvismo, ou contra qualquer corrente que vá contra os seus valores. Acontece é que muitos dos que hoje o denunciam, já estiveram com ele no mesmo lado da barricada. E ao não estarem, não se dão bem com o seu espírito de luta, igual ao que sempre teve, e preferem chamar-lhe xexé (quem me dera chegar à idade dele assim xexé).

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