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sexta-feira, 23 de março de 2012

O nosso modelo: Um país, dois critérios (ou mais)…


"Dominio del hombre", Victor Cauduro Rojas 
Na denominada locomotiva da União Europeia (UE), a Alemanha, a pobreza expande-se, enquanto as suas vítimas mais trágicas são as crianças. Um estudo do Instituto Bertelsmann revela que o estado de Renania do Norte-Westfalia regista a trágica "primazia" de ser o estado confederado da Alemanha com o mais alto índice de crianças pobres, 22,7% das crianças com idade inferior a três anos (isto é, quase uma em cada quatro) sobrevivem abaixo do nível de pobreza absoluta.
Entretanto, o Instituto Bertelsmann, junto com estes, extremamente preocupantes números, oferece um "calmante", ao sustentar que "o índice total de pobreza infantil tem recuado ligeiramente". No específico estado confederado de Renania do Norte-Westfalia foi reduzido em 0,3 ponto percentual desde 2008. Este "recuo" não impressiona nada e, seguramente, não constitui razão para comemorações, considerando que a realidade não é muito diferente.
Seguramente existem muito mais crianças sobrevivendo na pobreza, pelos números que sustenta o Instituto Bertelsmann, isto porque o Instituto identifica como "crianças pobres" aquelas cujos pais recebem, ainda, o muito reduzido salário-desemprego da lei Hartz-IV, em vigor desde 2004. Mas também famílias que não recebem este auxílio estão a cair abaixo do nível de pobreza absoluta, em consequência dos violentos cortes que sofreram os seus rendimentos.
Números manipulados
O problema da pobreza infantil fez parte da programação da XVIII Conferência da Associação dos Pediatras e Médicos para Adolescentes (BVKJ) da Alemanha, realizada na cidade de Weimar. As percentagens apresentados pelo Serviço Federal do Trabalho, de acordo com os quais a pobreza em crianças abaixo de 15 anos tem sido reduzida em 13% desde setembro de 2006, foram recebidos pelos pediatras e demais médicos para adolescentes com grande reserva, considerando que, no mesmo período, recuou também o número de crianças e adolescentes, conforme contestou o presidente da Associação. "Ao que tudo indica, os números foram devidamente manipulados pelo Serviço Federal do Trabalho", sentenciou o Dr. Hartman. "Porque", prosseguiu, "de acordo com cálculos de entidades sociais alemãs, 1 em cada 7 crianças deverá ser considerada pobre na Alemanha". E explicou que "atrás dos números oficiais está escondido um número negro, considerando que foram incluídos, só os pais que ainda recebem o salário-desemprego da lei Hartz-IV. Não estão incluídas as crianças daquelas famílias que, por causa dos baixos rendimentos, estão obrigadas a sobreviver com menos recursos, ainda".
As consequências destas situações desastrosas são enfrentadas diariamente pelos médicos alemães. Por exemplo, ouvem por ocasião do preenchimento de uma receita que deverá pagar o beneficiado pela Hartz-IV: "Seja lá como for, minha mãe não poderá pagar isto", enquanto, outras crianças pedem licença médica enquanto durar uma excursão escolar, porque suas famílias não podem pagar a despesa e as crianças ficam com vergonha de contar a verdade na escola. 
Cresce a exploração
O Instituto de Trabalho e Especialização da Universidade de Dulburg-Essen, em relatório especial, calculou que 11% dos trabalhadores alemães recebem menos de 7 euros por hora de trabalho. Quase 8.000.000 de trabalhadores alemães recebem menos de 9,15 euros por hora de trabalho, 1.400.000 recebem menos de 5 euros, enquanto 800.000 trabalhadores contratados em regime de ocupação plena recebem pagamentos mensais indefinidos, inferiores a 1.000 euros.
Segundo o relatório, os 9,15 euros por hora de trabalho definem o salário "baixo", isto é, aquele que é menor do que 2/3 do salário médio no país, enquanto o número dos trabalhadores remunerados com baixos pagamentos por hora de trabalho aumentou no período 1995-2010 em mais de 2.300.000 de pessoas, de acordo com o relatório, número que corresponde a cerca de 23% - quase 1/4 do total da mão-de-obra do país - e, apesar da ligeira curva nos últimos quatro anos, mantém-se estável.
Ainda, segundo o relatório, a escala dos "remunerados com baixos salários" conformou-se assim: 4.100.000 de trabalhadores receberam em 2010, em média, 6,68 euros por hora de trabalho na Alemanha Ocidental, e 6,52 euros por hora de trabalho, os da Alemanha Oriental.
O relatório comprova, também, que os milhões de empregados que hoje trabalham nos denominados "minijobs" correm o alto risco de trabalhar por menos do que o limite geral aceite de 9,15 euros por hora de trabalho, enquanto existem outros grupos, igualmente de alto risco. São os trabalhadores com idade inferior a 25 anos, os ocupados provisoriamente, ou os ocupados no interior do país, as categorias de trabalhadores que não concluíram ainda os programas de especialização profissional e, naturalmente, os estrangeiros e os imigrantes.
Talvez o mais revelador e importante "achado" do relatório é que o programa corretivo Agenda 2010 do governo social-democrata-verde do ex-chanceler Gerhard Schröder conseguiu apagar as diferenças salariais entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental. Para baixo, naturalmente. 
O número de trabalhadores com baixos salários aumentou na Alemanha Ocidental em 68% e apenas 3% na Alemanha Oriental. O pequeno aumento na Alemanha Oriental é devido ao facto de desde o início, após a queda do socialismo na República Democrática, a esmagadora maior dos trabalhadores ser remunerada com salários baixos.
Nota – Embora na Alemanha não haja Salário Mínimo Nacional, o “salário baixo" deve ter a mesma leitura do nosso (e de outros países) SMN.
Alguns sublinhados sobre o retrato da pobreza e dos salários na Alemanha, que nos querem apresentar e impor como modelo (sublime) numa e noutra área, mas em que são os próprios alemães (provavelmente da esquerda radical, embora técnicos), que denunciam e desmontam as estatísticas oficiais. Os números, por outro lado, expõem várias discriminações, não só entre os “verdadeiros alemães” mas também entre imigrantes.
A “fábrica de fazer pobres” é uma máquina recente e aplicada eficazmente em todos os países desenvolvidos, naturalmente para que sejamos todos nivelados por baixo.
As primeiras e mais inocentes vítimas desta política/ideologia são, também transversalmente, as crianças.
O Salário Mínimo Nacional ou equivalente, tende a ser mais baixo do que o indicador de pobreza (2/3 da média salarial do país), método eficaz para que a “máquina de fazer pobres” funcione bem oleada.
O “mileurismo” e a precariedade laboral são a garantia de que a “máquina de fazer pobres” não pare mais e o futuro seja a instabilidade.
A manipulação estatística é o remédio encontrado para iludir a (des)esperança.
A discriminação salarial funciona, mesmo, como discriminação social.
O assistencialismo estatal é cada vez mais temporário e a melhor arma para os cidadãos irem aceitando as medidas e práticas anteriormente sublinhadas.
Exploração é mesmo o nome que se deve dar a toda esta máquina maquiavélica, que isola mais concidadãos e os amarra às máquinas de fazer dinheiro, para cada vez menos “gente”.
E é este o modelo ideal que nos prometem, de que já vamos vendo algumas aplicações e muitas tentativas de explicações…
Retórica, mentiras e retrocesso!

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