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segunda-feira, 19 de março de 2012

“Pela boca morre o peixe...” COERÊNCIA!

“O maior capital deste mundo: as palavras e o conteúdo delas. As palavras são e formam conhecimentos que nos permitem manter, respeitar e transformar este mundo”. Fabio Savatin
Avançamos muito na qualificação das nossas relações sociais e interpessoais. Aprendemos, com muito esforço e dedicação, a relacionarmo-nos de forma mais democrática e mais dialógica, mas ainda convivemos com práticas que tentam impedir que, de forma autêntica e autónoma, as pessoas possam decidir, falar e viver a partir das suas escolhas, das suas possibilidades de autodeterminação. Por isso mesmo, ainda temos muito a aprender na perspectiva do respeito e consideração de uns para com os outros, tendo em vista uma sociedade mais democrática. Como sujeitos sociais, vamos fazendo parte do mundo, pelas relações de autonomia e interdependência.
O nosso maior capital social são as palavras. As palavras expressam a nossa forma de ver, crer, encarar e viver a vida pessoal, como também a vida comunitária. Como sempre expressam conceitos, as palavras precisam de vigilância social para que não reforcem preconceitos ou ideários que não colaboram com a qualidade da vida social que queremos ou desejamos. Porque vivemos em permanente conflito e tensão pela hegemonia das ideias, corremos sempre riscos com as armadilhas da instrumentalização, como escreve Rosa Clara Franzoi, no artigo Decidir com Liberdade (Rev. Missões, Ano XXXIX, Jan/Fev 2012): “Hoje o ser humano é incrivelmente instrumentalizado. A pessoa é usada e levada a agir com a cabeça dos outros. Na instrumentalização a pessoa é vista como uma peça que se descarta quando perde a utilidade. Se isto acontece com todos, as maiores vítimas são os jovens”.
A coerência entre o que falamos e vivemos é sempre o nosso maior trunfo para sermos respeitados diante dos demais. Manter a coerência é um dos maiores desafios da vida social, diante das inúmeras situações que estão sempre a exigir-nos posicionamentos, por vezes em situações muito adversas. Por isso mesmo, quanto maior for a nossa incidência na vida social, seja como líderes ou representantes de categorias ou instituições ou como representantes eleitos, mais seremos observados e cobrados pelo exercício da coerência. Aqueles ou aquelas que não compreenderem esta condição terão muitas dificuldades em exercer liderança.
Para ser sujeito social precisamos de uma condição essencial: a liberdade de comunicar. Por isso mesmo, a comunicação precisa ser democratizada em todos os sentidos, meios e possibilidades, sobretudo para aqueles e aquelas que não tem voz, portanto, impedidos de falar. Não há razões para temer os que de forma autêntica e autónoma, decidem falar e viver a partir das suas escolhas, das suas possibilidades de autodeterminação.
Todos nós, ao tornarmos as nossas posições públicas, assumimos o risco de sermos cobrados pela nossa coerência. Todos nós, ao respeitarmos as ideias e ideários dos outros, estaremos a colaborar para a sua emancipação pessoal e social. Todos nós, ao confrontarmo-nos com os diferentes pensamentos, estamos a aperfeiçoar a nossa condição de sujeito social. Cada um, a seu modo e a seu tempo, deve ter a oportunidade de se dizer e, ao se dizer, ter a oportunidade de viver de forma autêntica, autónoma e cidadã.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos

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