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domingo, 7 de outubro de 2012

Os Europeus – 16

A Assembleia Nacional reunida na Igreja de São Paulo, em Frankfurt, fracassou na sua tentativa de estabelecer um Estado nacional alemão no centro da Europa.
Matthias von Hellfeld
Assembleia Nacional alemã, na Igreja de São Paulo
Em 18 de maio de 1848 a Assembleia Nacional alemã reuniu-se pela primeira vez. Os delegados, encarregados de elaborar uma Constituição e preparar as eleições, nomearam Heinrich von Gagern (1799-1880) presidente do grémio.
O arquiduque João da Áustria (1782-1859) foi incumbido da regência interina; até à realização de eleições livres, deteve o poder central na Confederação Germânica. A sua nomeação foi a primeira de uma série de decisões equivocadas. Para os radicais da Assembleia Nacional, ele era representante do antigo sistema a ser derrubado. Colaborar com ele era inimaginável para essa fação.
O próximo problema surgiu no verão de 1848, após o cessar-fogo de Malmö, que pôs fim a um conflito armado em Schleswig-Holstein. Nessa região, uma revolução contra o soberano dinamarquês, rei Frederico VII (1808-1863), fora reprimida, apesar da intervenção prussiana. A Assembleia Nacional teve que reconhecer que, sem um exército próprio, não podia defender os interesses de seus membros.
União de Estados
Além disso, os delegados não tardaram a perceber que um exército próprio não era a única coisa que faltava. Também se carecia de todos os outros ingredientes necessários para a fundação de um Estado: capital, instituições nacionais, leis comuns ou um consenso sobre que regiões deveriam integrar-se no reino alemão a ser fundado.
A maioria dos deputados, com formação académica, tinha a tendência de se estender em longas discussões. O precioso tempo das reuniões transcorria, por exemplo, com debates sobre os direitos dos cidadãos, sobre liberdade de imprensa e de opinião, enquanto os opositores da revolução ganhavam tempo para mobilizar as suas forças.
Mesmo quando Robert Blum (1807-1848), delegado da Assembleia Nacional alemã, foi executado durante um levantamento reprimido de forma sangrenta na Áustria, os deputados continuavam a discutir em Frankfurt. Até o fim de dezembro de 1848, ficaram a debater a lista de direitos fundamentais e humanos, sem se darem conta das relações reais de poder.
"Grande solução" ou "pequena solução"?
O ponto central dos debates era que estados deveriam integrar o reino alemão. Uns achavam que deveriam ser os membros da Confederação Germânica, a Prússia e a Áustria – esta era chamada a "grande solução alemã". Outros preferiam que a Áustria ficasse de fora, sugerindo com isso uma "pequena solução". Facto é que ambas as propostas eram impraticáveis.
Os defensores da "grande solução" sonhavam com uma Alemanha sob a coroa dos Habsburgos, tinham fascínio pelo antigo império medieval e revestiam as suas ideias com um toque de zeitgeist (espírito da época) liberal. Mas, no fundo, o que eles queriam era reavivar o Sacro Império Romano Germânico, derrubado em 1806 pela política hegemónica de poder de Napoleão.
O que ignoravam, no entanto, eram os vários milhões de não-alemães que seriam obrigados a viver no reino alemão. Considerando que esse plano necessariamente provocaria a cisão da Áustria, não é de admirar que o imperador austríaco Francisco José I (1830-1916) se tenha oposto veementemente à ideia.
Mas a "pequena solução", abrangendo a Confederação Germânica e a Prússia, sem a Áustria, também foi rejeitada pelo imperador austríaco, pois acarretaria perder a sua influência sobre a Alemanha. Além disso, essa solução também contrariava a meta de unir no novo reino "todas as pessoas de língua alemã".
Durante meses, ambas as fações se mostraram inconciliáveis, sobretudo porque também havia divergências quanto a uma outra questão: o novo reino deveria ser uma república ou uma monarquia constitucional?
Rei prussiano recusa
A votação foi no dia 27 de março de 1849. Uma maioria apertada votou a favor de uma monarquia constitucional com o rei prussiano à frente, como imperador alemão. Uma delegação foi enviada imediatamente a Berlim, a fim de oferecer a coroa a Frederico Guilherme IV (1795-1861). No entanto, o soberano rejeitou-a bruscamente. Para ele, a oferta da Assembleia Nacional mais significava uma "coleira de ferro". Como não pretendia deixar-se coroar pela "canalha", deu aos alemães a última chance de se agregarem num Estado nacional a partir de um movimento sustentado pelo povo.
Quando as últimas tropas capitularam um pouco depois, em Rastatt, a Revolução Alemã entrava em colapso. Os deputados tinham fracassado não só pela falta de uma base de poder, mas também por não terem solucionado a questão das fronteiras do Estado.
Uma exclusão da Prússia e da Áustria teria levado à solução insatisfatória de estabelecer um Estado alemão aleijado, incapaz – como a Confederação Germânica – de sobreviver de forma autónoma e dependente da boa vontade dos outros dois blocos germânicos. Por outro lado, a inclusão da Prússia e da Áustria teria levado necessariamente à cisão de ambos os Estados, pois grande parte de sua população não era alemã.
Prelúdio de uma era de instabilidade
Desta forma, acabou mantendo-se o status quo no centro da Europa. Os acontecimentos da Revolução Alemã, no entanto, deixaram claro que o perigo de uma desestabilização aumentara. Cerca de 22 anos depois, acabou por se fundar um reino alemão, mesmo que sem a participação do povo.
A cerimónia da fundação foi realizada no Salão de Espelhos de Versailles, em janeiro de 1871. Desta vez, o rei prussiano Guilherme I (1797-1888) não recusou.
Durante alguns anos, ainda foi possível manter a paz na Europa. Mas a política do novo imperador alemão Guilherme II (1859-1941) acabou por se tornar cada vez mais agressiva, provocando uma erupção de dimensões imprevistas.

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