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sábado, 17 de setembro de 2011

"Ces Danois, ils sont fous!"

Após 10 anos de sucessivos governos de centro-direita, a oposição de esquerda chegou ao poder na Dinamarca. A social-democrata Helle Thorning-Schmidt, de 44 anos, torna-se a primeira mulher a governar o país.
Segundo os resultados oficiais, a oposição de esquerda - formada por uma aliança de 4 partidos (os sociais-democratas mais os sociais-liberais, socialistas e Lista Unida, extrema esquerda) - obteve 89 dos 179 assentos parlamentares, contra 86 do bloco de direita. As eleições tiveram uma participação de 87,7% - o resultado mais elevado dos últimos anos.
Os sociais-democratas já fizeram saber que vão adoptar uma política fiscal mais rigorosa neste contexto internacional de crise. Paralelamente, os sociais-democratas aspiram a combater a crise com investimentos públicos e reformas no mercado de trabalho.
No discurso de vitória, Helle Thorning-Schmidt agradeceu a vitória e prometeu um novo rumo para a Dinamarca e disse ir liderar um governo de centro-esquerda, mas prometeu ser acima de tudo a primeira-ministra de todos os dinamarqueses.
Transbordando de auto-confiança, a primeira-ministra eleita avisou que a Dinamarca tem pela frente enormes desafios, em especial o combate ao desemprego, que foi o tema principal da campanha eleitoral do SPD trabalhista.
Thorning-Schmidt disse também que o próximo executivo de centro-esquerda vai criar políticas mais generosas para os desfavorecidos, deficientes e refugiados, insistindo que as políticas de direita dos últimos 10 anos resultaram numa Dinamarca mais desigual, mais egoísta e mais oportunista.
Os nossos media nem anunciaram as eleições (na imprensa brasileira as notícias choveram antes, durante e depois) e só agora, poucos, noticiaram os resultados. Esquisito!
Mas, olhando agora para os ingredientes e para o produto, detetamos algumas curiosidades, que podem justificar este esbatimento e reparem:
1 – Durante 10 anos sucessivos, a Dinamarca foi governada pelo centro-direita, o que volta a acontecer em Portugal;
2 – Pelo que diz a vencedora, as políticas de direita resultaram numa Dinamarca mais desigual, mais egoísta e mais oportunista, e não convinha fazer eco destas blasfémias, agora que vamos percorrer os mesmos caminhos;
3 - Thorning-Schmidt, social democrata, para ganhar e mudar de políticas formou uma aliança com mais 3 partidos (sociais-liberais, socialistas e Lista Unida, da extrema esquerda), coisa que cá na terrinha ninguém teve a mesma coragem, nem PS, nem PCP, nem BE, nem será aconselhável que no futuro se pense em tal pecado mortal;
4 – A nova PM dinamarquesa promete uma política fiscal mais rigorosa, mais investimentos públicos, reformas no mercado de trabalho e combate ao desemprego, para combater a crisezinha, quando comparada com a dos países da Zona Euro, quase tudo ao contrário da receita que nos estão a aplicar;
5 – E promete que o próximo executivo de centro-esquerda vai criar políticas mais generosas para os desfavorecidos, deficientes e refugiados, ao contrário do nosso centro-direita, que faz caridade com os “mais desfavorecidos” para ganhar o reino dos céus e protege os banqueiros e capitalistas para ganhar o reino da terra.
Mas ainda há um qui pro quo, se chama Poul Thomsen, representante do FMI e chefe da troika que nos governa e perguntarão por quê. E eu respondo, porque é dinamarquês…
Sendo dinamarquês, foi naturalmente indigitado pelo governo agora derrotado pelo seu povo, pelas políticas erradas que gerou… Se os dinamarqueses rejeitaram essas políticas, por que havemos nós de as aceitar como corretas? Já não bastava que a troika não tivesse legitimidade democrática para cercear a nossa soberania, impondo-nos políticas que nos conduzirão a mais pobreza, para agora o seu chefe ter perdido legitimidade democrática, no seu próprio país, e ter o desplante de continuar a impor-nos as mesmas medidas, que não pode aplicar aos seus concidadãos.
E ao contrário do que se diz, que os partidos socialistas/sociais democratas estão a ser depostos do poder, pelas “virtudes” da direita, eis que a realidade supera a vontade dos agoirentos e beneficiários do sistema, só porque o povo e os seus dirigentes partidários tem a “coragem” de não ter medo do papão, provavelmente porque não vêem muita televisão.
Só a informação e a transparência nos podem elevar a outros estádios da democracia.
Esperemos que a partir de Janeiro, quando a Dinamarca assumir a presidência da União Europeia, algo mude, para melhor e a social democrata mostre à Europa e ao mundo o que é a social democracia...

2 comentários:

  1. Félix da Costa
    Isto vem contra a maré. Os países escandinavos estavam a virar para a direita e extrema direita, enquanto na Europa central e do sul para a direita, vai daí a notícia ter destaque, sobretudo pela aliança desde sociais democratas até à esquerda (radical).

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