Christine Lagarde parece ter uma receita infalível para espevitar a competitividade na deprimida economia europeia. Uma vez que as políticas monetárias dos seus governantes já pouco ou nada fazem pelo euro ou pelas taxas de câmbio, resta uma via para restaurar a preciosa competitividade: forçar uma queda nos preços das exportações.
Helena Cristina Coelho
Como? Reduzindo os custos de produção, o que passa, inevitavelmente, por cortar salários. Isto porque, como defendeu a directora do FMI, ao diminuir o preço dos factores de produção, em especial o custo do trabalho, o país torna-se mais competitivo e interessante para os investidores estrangeiros. Algo que, aliás, já está a ser feito por gregos, espanhóis e portugueses, realçou com especial entusiasmo.
Esta fórmula proposta pelo FMI aos países do sul da Europa é fácil de explicar: ou se tornam competitivos pela via da moeda ou só lá chegam cortando custos de produção e, claro, salários. Uma segunda via que gregos e portugueses, os exemplos aplaudidos por Lagarde, conhecem bem: diz que se chama austeridade. Algo que, desde que entrou nas suas vidas, já devorou parte dos rendimentos e ainda aumentou a carga fiscal sobre a parte que sobra. E agora, o país está mais competitivo?
As contas de muitas empresas vão dizer que sim, que ao reduzir os seus custos de produção conseguem reagir à crise. As exportações também vão dizer que sim, que estão a crescer e a conquistar novos mercados. Mas quando a taxa de desemprego e a galopante redução de salários levam os melhores talentos a trocar Portugal por outros países, quando um licenciado tem de esconder as suas melhores qualificações para garantir um emprego por um vencimento mínimo e ao lado das suas qualificações, quando famílias de orçamentos depenados saem à rua a pedir alternativas, onde fica a competitividade? Como pode uma empresa inovar sem os melhores profissionais? Como vai um empresário motivar as suas equipas dando um golpe nos seus salários? Como pode uma economia crescer com as ruas a ferro e fogo?
O FMI pode alegar a necessidade de ajustamento - sim, algum dia ele teria de ser feito para corrigir excessos e recuperar competitividade. Mas o próprio FMI reconheceu agora que a sua fórmula não é mágica, tem erros - sim, por cada euro de austeridade a economia não cai 0,5 euros, mas sim entre 0,9 e 1,7 euros. O que significa, afinal, que existe um limite para o ajustamento. E que os portugueses já estão a pagar acima do devido (e do justo) por isso. Agora só falta Christine Lagarde (que, ironicamente, até ganha mais 11% que o seu antecessor no FMI) responder a uma questão: a quem é que os portugueses pedem o reembolso por aquilo que estão a pagar a mais pela ambicionada competitividade?
Christine Lagarde alertou para a ameaça que representam as elevadas taxas de desemprego e a criação insuficiente de emprego, especialmente no caso dos mais jovens.
Christine Lagarde afirmou hoje que a Grécia necessita de 2 anos suplementares, até 2016, para reduzir o défice em linha com as exigências dos credores internacionais. "Em vez de uma redução frontal e massiva (...), é por vezes preferível ter um pouco mais de tempo", disse a responsável pelo FMI.
A directora do FMI, Christine Lagarde, recomendou que perante a exigência de redução drástica do défice, "Às vezes é preferível dispor de um pouco mais de tempo" e "É isso que preconizamos para Portugal, Espanha e também para a Grécia", disse.
Partindo do princípio de que a qualificação é uma catapulta para a competitividade e a concorrência e que os mais jovens e mais qualificados seriam a resposta, é desolador constatar que madame Lagarde, apesar de reconhecer as elevadas taxas de desemprego e sobretudo nos jovens (com culpas no cartório), se esqueça de propor e por em prática medidas para o crescimento, que terão que passar por menos austeridade e/ou mais investimento…
Assim sendo, a fórmula deixa de ser mágica e ela passa a ser uma cartomante, como tantos ou todos os responsáveis pela procura das soluções, não as implementando (tendo consciência das causas) por não quererem…
E para confirmar a falta de vontade de “apanhar o touro pelos cornos”, propõe a solução que qualquer merceeiro faria (e bem) de dar mais tempo para recuperar o fiado, o que permitiria diminuir a austeridade, que reconheceu que teve efeitos não previstos(?), mas que deviam ser acompanhados por juros mais baixos para que a dívida não continue a crescer, se é que querem ajudar, mesmo.
Só não se entende por que sugere mais 2 anos para a Grécia e mais 1 ano para Portugal, porque já nos foi concedido 1 ano e somando-o ao que ela propõe dá os mesmos 2 anos que para os gregos. Quererá isto dizer que Lagarde nos iguala, cada vez mais, à Grécia?
E quando diz que este prolongamento tem a ver com a exigência de redução drástica do défice, não se está a esquecer que é também o FMI que está a fazer essa exigência (através da troika) de se pagar rapidamente o que nos fiaram durante tantos anos?
Finalmente, uma questão já recorrente: por que Lagarde não foi capaz de implementar todas estas medidas no seu país (a França) enquanto ministra das Finanças, não se opôs a Merkozy e deixou as finanças francesas pelas ruas da amargura, limitando parte do programa de Hollande, de quem era adversária política?
Terá sido uma varinha de condão que a iluminou (e que dizem que não existe) ou as contradições e “erros” que agora publicita se somam às contradições e “erros” de todos os restantes regentes-mor do planeta, em proveito de poucos e austeridade de muitos?
Será a concretização, a curto prazo, da consolidação da riqueza em 1% da população à custa do abaixamento dos salários dos restantes 99%, por expropriação das mais valias do trabalho?
Alguma coisa é, mas não pode ser boa para a maioria dos cidadãos do mundo e por isso as bocas da madame deveriam ser mais recatadas e sobretudo mais consistentes.Não nos esqueçamos que a sra. é advogada…
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