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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Os Europeus – 17

O atentado de extremistas sérvios contra o casal herdeiro da coroa austríaca desencadeou a chamada "Crise de Julho" na Europa. Um mês depois eclodiria a I Guerra Mundial. 
Matthias von Hellfeld
Ilustração do assassinato do Arquiduque Francisco
Fernando e da esposa, a Duquesa Sofia
O arquiduque Francisco Ferdinando (1863-1914) e a sua esposa Sofia (1868-1914) acabavam de chegar a Saraievo em 28 de junho de 1914, após uma visita ao imperador alemão Guilherme II (1859-1941). O seu objetivo era assistir ao encerramento de uma manobra das Forças Armadas austríacas na Bósnia. A caminho do centro da cidade, o seu comboio teve que manter marcha lenta, o que beneficiou o autor do atentado, que estava emboscado.
Primeira tentativa fracassou
A primeira tentativa de atentado fracassou por causa da presença de espírito do sucessor do trono austríaco. Com o canto dos olhos, notou algo preto a voar na sua direção e, protegendo-se com a mão, conseguiu assim desviar a granada que fora lançada contra o veículo, que explodiu diante do carro que vinha atrás, ferindo dois passageiros.
O criminoso tentou matar-se com cianeto de potássio, mas o veneno não fez efeito, provocando somente fortes acessos de vómitos. Foi detido por passantes à volta, enquanto o comboio do arquiduque acelerou para chegar rapidamente à Câmara Municipal. A viagem até ao local de manobra militar foi desviada para uma outra rota.
Logo após a partida para o local da manobra, o motorista de um dos veículos da frente notou que o comboio tinha seguido o caminho errado. Os carros tiveram que desacelerar e fazer marcha a trás. Nas imediações, 2 matadores à espreita, armados com uma pistola, aproveitaram o momento para balear Francisco Ferdinando duas vezes. Foi atingido na veia aorta e Sofia no abdómen.
Estes matadores também engoliram cápsulas de cianeto de potássio, mas novamente o veneno não fez efeito. Enquanto o segundo matador era detido pela multidão exaltada, Francisco Ferdinando e a sua esposa Sofia morriam dentro do veículo em decorrência dos ferimentos à bala.
Em interrogatório, ambos os assassinos revelaram ser adeptos do Movimento Paneslavo. Essa organização apoiada pela Rússia defendia a unificação de todos os povos eslavos num Estado. Como no Império Austro-Húngaro viviam muitos eslavos, o atentado contra o sucessor da coroa austríaca já vinha a ser planeado há um certo tempo.
Crise de Julho na Europa
O atentado não foi tratado como o que realmente era, ou seja, um incidente que comprometia as relações diplomáticas entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia, e possivelmente teria levado a conflitos políticos internos com algumas minorias. Como se só estivessem à espera dessa ocasião, as Forças Armadas austríacas pressionaram o imperador Francisco José I (1830-1916) a uma revanche militar imediata contra a Sérvia, além de conquistarem para tal o apoio do Estado Maior alemão.
O chanceler do Império, Theobald von Bethmann-Hollweg (1856-1921), enviou a Viena praticamente uma carta-branca por uma guerra contra a Sérvia. O comunicado dizia que Sua Majestade, o imperador alemão, se mantinha fiel e corajoso ao lado da Áustria, "em consonância com os seus deveres de aliado e com a sua velha amizade". Apesar dessa insinuação, Guilherme II ainda teria tido tempo suficiente para evitar um conflito generalizado na Europa. Mas a decisão dos governos foi outra.
Violência cega
No dia 23 de julho de 1914, Belgrado recebeu um ultimato da Áustria, com prazo de 48 horas para aceitar investigadores austríacos no inquérito sobre o atentado contra Francisco Ferdinando. Apesar de o governo sérvio ter cumprido esta e outras exigências, a resposta não satisfez o governo em Viena. Francisco José I também acabou decidindo-se por uma declaração de guerra contra a Sérvia. E assim não se pode mais deter a cadeia de reações diplomáticas e militares.
Em 28 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro declarou guerra contra a Sérvia. A Rússia reagiu um dia depois, mobilizando as suas forças de combate. Em 31 de julho, o Império Alemão deu um ultimato à França, exigindo que o país se mantivesse neutro no caso de uma guerra entre a Alemanha e a Rússia. Um outro ultimato a Moscovo exigia que o czar Nicolau II suspendesse a mobilização das tropas russas.
Quando esse prazo expirou, sem que o governo russo tivesse detido as suas tropas em avanço, as Forças Armadas alemãs pressionaram o imperador a declarar guerra contra a Rússia. No dia 1 de agosto, Guilherme II assinou a declaração de guerra.
Catástrofe originária do século 20
Nesse dia iniciava-se aquilo que o historiador norte-americano George F. Kennan (1904-2005) denominou a "catástrofe originária do século 20": a I Guerra Mundial.
Como que fora de si, os líderes políticos da Europa abriram mão – no verão de 1914 – de um relativo bem-estar, de circunstâncias políticas estáveis e da hegemonia cultural do continente sobre vastas regiões do mundo.
Por um motivo insignificante, se comparado com as suas consequências, os detentores das coroas europeias selaram um acordo quase tácito e transformaram o continente num campo de batalha de dimensões imprevistas. Estavam inebriados pela ideia de ampliar o seu poder ao término da guerra, ignorando, assim, as vozes que alertavam sobre o seu próprio declínio.

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