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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Os Europeus – 19

Num mesmo dia – 9 de novembro de 1918 – a República Alemã era proclamada 2 vezes: primeiro, pelo social-democrata Philipp Scheidemann; logo depois, pelo comunista Karl Liebknecht.
Matthias von Hellfeld
O social-democrata Philipp
Scheidemann proclama a República
Foi um dia agitado em todo o país, com pessoas reunindo-se, tanto em Berlim, como noutras cidades, após terem ficado a saber da renúncia do imperador Guilherme II (1859-1941), anunciada pessoalmente pelo chanceler do Reich Príncipe Max von Baden (1967-1929).
Embora Guilherme II não tenha sido consultado previamente, acabou por acatar o seu próprio afastamento pouco depois, pondo fim, desta forma, ao Império Alemão. Em reação a esses acontecimentos, dizia-se na época, que os comunistas iriam proclamar a república.
Proclamação dupla da república
O deputado social-democrata Philipp Scheidemann, no entanto, antecipou-se ao Partido Comunista da Alemanha (KPD), proclamando a república de uma sacada do Reichstag, em Berlim, ao meio-dia do dia 9 de novembro de 1918 – mesmo que sem o apoio de todos os seus correligionários. "Acima de tudo, quem sai vencendo é o povo", declarou Scheidemann, ovacionado por uma multidão entusiasmada.
O comunista Karl Liebknecht no parque Tiergarten, em Berlim
Mas a República recém-proclamada enfrentava, já sem no seu primeiro dia, sérias dificuldades. Às 16 horas, uma multidão tão grande como aquela que aplaudia Scheidemann aglomerava-se no castelo de Berlim (Stadtschloss), onde Karl Liebknecht também proclamava a república.
O seu discurso culminou com a proclamação da "República livre e socialista da Alemanha", que poria um fim à hegemonia dos Hohenzollern. No lugar do odiado estandarte imperial, deveria ser desfraldada a "bandeira vermelha da República Livre Alemã".
A jovem República encontrava-se num dilema, numa sociedade dividida. Para alguns, a Revolução Russa de novembro de 1917 era o exemplo a ser seguido de uma sociedade socialista igualitária. Para outros, esse cenário não passava do prenúncio do declínio. Os dois lados confrontavam-se inconciliavelmente.
Tanto os partidos de direita como os de esquerda enviavam os seus contingentes às ruas, em combate aberto. A tentativa de iniciar uma nova era após a devastadora I Guerra Mundial não teve definitivamente êxito.
Para os soldados que retornavam da frente de combate, o quadro era de um caos no qual não conseguiam orientar-se. Muitos deles passaram a apoiar os extremistas de direita Freikorps.
Tumultos de Natal: 1918
No fim do ano, os tumultos tinham chegado a enormes proporções, levando o chanceler do Reich a tomar uma medida. Friedrich Ebert (1871-1925) ordenou que os chamados "tumultos de Natal" fossem reprimidos militarmente.
No dia 29 de dezembro de 1918, o governo de transição ("Conselho dos Representantes do Povo") desmoronou. A situação escalou. Ebert incumbiu Gustav Noske (1868-1946) de proteger a residência governamental.
Na condição de ministro, ele era responsável pelo comando dos militares. A sua conduta linha-dura não trouxe, contudo, paz para o país, muito pelo contrário: no início de 1919, os tumultos aumentaram ainda mais.
A aliança comunista Spartakusbund conclamou a população a atos que lembravam uma guerra civil, um conflito desencadeado pela demissão do chefe da polícia berlinense Emil Eichhorn (1863 – 1925). Eichhorn era membro do KPD, fundado no início daquele ano, uma facção derivada do Spartakusbund de Liebknecht. A negativa de Eichhorn de renunciar ao seu cargo levou à insurreição e causou tumultos em Berlim do dia 8 ao 10 de janeiro de 1919.
O Exército do Reich foi fortalecido pelos extremistas de direita do Freikorps, que perseguiam abertamente os membros do Partido Comunista. Após a derrota da insurreição do Spartakus, os Freikorps levaram adiante operações de "limpeza" na cidade. No contexto destas ações ilegais, foram mortos os dois ícones do KPD: Rosa Luxemburgo (nascida em 1871) e Karl Liebknecht. Os seus corpos foram atirados ao Landwehrkanal.
República de Weimar
Em função dos tumultos, o governo transferiu a sua sede para a vizinha Weimar. Por outro lado, a escolha desta cidade era também um sinal para a nova República democrática. Em Weimar, viveram e atuaram personalidades como Friedrich Schiller (1759-1805), Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) ou Johann Gottfried von Herder (1744-1803). A nova República não deveria ter nada em comum com o antigo Estado Imperial.
No dia 19 de novembro de 1919, a Assembleia Geral de Weimar reunia-se, a fim de elaborar uma Constituição democrática. Após 6 meses de intenso debate, a nova Constituição foi aprovada no dia 31 de julho, entrando em vigor logo depois.
Naquele momento, a Alemanha passava a ser uma democracia parlamentar, embora a Constituição contivesse muitas falhas. Principalmente o excesso de poderes do presidente do Reich, que, com a ajuda do que se chamava de "prescrição emergencial", podia governar sem e até mesmo contra o Parlamento, acabou tornando-se um problema extraordinário.

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