(per)Seguidores

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Federação de Estados-nações é um golpe de Estado?

As sondagens de opinião realizadas pela Comissão Europeia contam sempre com uma participação massiva dos europeus e parecem justificar os projetos de integração. Esta forma de agir seria anedótica, caso não contribuísse para o aumento do fosso entre os cidadãos, estima um colunista holandês.
Em Bruxelas, cruzei-me recentemente com uma das pessoas responsáveis pelo famoso Eurobarómetro. Um destes jovens europeus cheios de talento que abundam no bairro europeu de Bruxelas. Perguntei-lhe inesperadamente se me queria explicar por que motivo os resultados do Eurobarómetro são sempre a favor da Europa.
Os resultados do Eurobarómetro desempenham um papel importante. Sob a égide da Comissão Europeia, as tendências da opinião pública são avaliadas 2 vezes por ano em todos os Estados-membros da UE. Tanto em Bruxelas como nos seus arredores, não se para de falar disso. “Está a dizer-me que existe uma certa desilusão da Europa para com a Holanda, mas segundo o último Eurobarómetro, 65% dos holandeses são totalmente a favor da estratégia Europa 2020.” Vai ter de me explicar isto.
Projetos megalómanos
Em tom de brincadeira, já cheguei a dizer que Carlos Magno governaria a Europa com mais requinte do que os eurocratas no seu Olimpo em Bruxelas. Estes estão convencidos de que uma sondagem de opinião é suficiente para avaliar o apoio aos seus projetos megalómanos. Podem dizer o que quiserem de Carlos Magno, mas visitou todos os Estados-membros do seu império e nunca instalou o seu acampamento no mesmo sítio.
A minha interlocutora holandesa reconheceu, após várias cervejas, que os resultados do Eurobarómetro foram apresentados de forma mais vantajosa para a Europa. As diferentes Direções-gerais da Comissão transmitem, a ela e aos seus 5 colegas, questões já preparadas e a “Direção-Geral da Comunicação” garante que o tom, durante a apresentação do Eurobarómetro, seja eurófilo.
Voltei a pensar no Eurobarómetro quando tive na posse da recente alocução sobre o Estado da União, do presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso. Trata-se do discurso de política geral do nosso chefe de governo europeu sem coroa. Ao ver as suas propostas pensei: ou este homem está a ter um ataque de temeridade muito próximo da loucura, ou utiliza o Eurobarómetro como o único reflexo da opinião pública.
Como poderemos explicar de outra forma que José Manuel Durão Barroso reclama alto e bom som, no meio da maior crise que a Europa alguma vez viu, a formação de uma federação europeia. É preciso ter lata, num momento em que as populações têm todos os motivos para estar desiludidas com o Projeto Europeu – nomeadamente porque uma geração inteira de jovens se encontra sem emprego.
No seu discurso, Barroso aborda imediatamente o modelo de perfeição a seguir, isto é, uma Europa pós-nacional. Os Estados nacionais devem ser praticamente abolidos para “atingir a envergadura e a eficácia necessária para garantir à União uma posição de ator mundial. Num mundo em plena mutação, esta é única saída para salvaguardar os nossos valores… Não tenhamos medo das palavras: teremos de evoluir para uma federação de Estados-nações”.
O projeto de uma minoria
Este sonho humilde de Bruxelas não é nada mais nada menos do que um golpe de Estado. A ideia de uma federação europeia, ou ainda de uma união política europeia, não beneficia de qualquer apoio. Nem por parte das elites políticas nacionais – basta constatar o silêncio pesado em Haia quando se fala da “visão de Bruxelas”. E muito menos no seio da população, que não está de todo preparada para isso.
De facto, as pessoas não querem que a Holanda saia da União Europeia, uma proposta apresentada por Geert Wilders (líder do PVV, Partido Populista de extrema-direita). Um sentimento confirmado pelas últimas eleições. Mas também ninguém apoia uma autosupressão impassível da Holanda. Sem querer alarmar quem quer que seja, à questão da última sondagem de opinião realizada pelo Gabinete do Plano Social e Cultural da Holanda (SCP), “será bom o facto de a Holanda ser membro da UE?”, apenas 44% dos holandeses responderam Sim.
A repartição desta percentagem é dramática: 67% das pessoas com um nível de ensino superior apoiam a presença do país no seio da UE, contra 37% do grupo que inclui pessoas que concluíram o ensino secundário ou um curso profissional e 26% das pessoas com menos estudos.
Portanto, José Manuel Durão Barroso corre um enorme risco quando, no seu discurso, opõe “todas as forças pró-europeias” às forças “nacionalistas e populistas”. Desta forma, atacou intencionalmente as pessoas que na Europa têm um nível de educação baixo ou médio e fez da UE o “projeto de uma minoria” composta por licenciados do ensino superior.
A crise do euro é indevidamente utilizada em Bruxelas para prosseguir com a integração. No entanto, esta abordagem teve o efeito inverso, provocando a mais forte reação contra o Projeto Europeu. Viva a Europa!

Sem comentários:

Enviar um comentário