A maioria
dos europeus (60%) considera que o uso do euro tem sido mau para as economias.
Ainda assim, prefere manter-se no euro a voltar às moedas anteriores.
Não obstante a
duplicação dos cidadãos que acham mau pertencer à UE, a maioria (57%) ainda vê
vantagens nisso para as economias nacionais.
A crise é quem mais ordena e o último inquérito internacional Transatlantic Trends demonstra-o: 90% dos portugueses dizem sentir-se pessoalmente afetados pela crise económica, sendo a percentagem mais alta entre os países europeus estudados. A título de comparação, a média europeia é de 65% e a dos americanos 75%.
A título ilustrativo, os portugueses são dos que mais desaprovam a gestão da crise pela líder alemã Angela Merkel (65%), enquanto a média europeia de desaprovação é de 42%. Os números variam muito consoante os países, sendo que é naqueles mais afetados pela crise que mais se faz sentir essa desaprovação.
Mais portugueses consideram também agora que o euro tem sido mau para a economia (65% - mais 10% do que em 2012), embora 55% o queiram manter. A nível europeu, a média em desfavor do euro é de 60%, a favor 30%.
Os portugueses são aliás aqueles que, depois dos italianos, pensam que o sistema económico é mais injusto e só beneficia alguns (92%). Só 15% dos europeus, 25% dos americanos e 23% dos turcos estimam que o sistema funciona de forma justa para todos.
Por estes dias, já muitos portugueses perderam as ilusões quanto à mudança que acreditavam poder acontecer na Europa após as eleições alemãs. O embaixador da Alemanha em Lisboa não podia ser mais claro: “De todos os modos, teremos sempre no governo um leque de partidos pró-europeus e apoiantes dos programas de assistência, como o que está em curso em Portugal” (“Jornal de Negócios”, 16 Set. 2013).
Jorge Bateira
À medida que nos aproximamos de mais uma ronda de negociações com a troika, torna-se evidente que o essencial da austeridade não é negociável. Salta à vista que, pelo menos no caso da Comissão Europeia e do BCE, a troika está determinada a impor uma reconfiguração do Estado social para que este deixe de ser o eixo de uma sociedade que aspira a níveis mais elevados de justiça social. O princípio neoliberal da “livre escolha”, na saúde e na educação, é agora abertamente defendido pelo governo e os países onde esta matriz ideológica alcançou o poder são apontados como os bons exemplos que deveríamos seguir.
De facto, a chamada “assistência financeira” ao país não visa colmatar um problema temporário de tesouraria. Tendo constatado os sintomas de um impasse no modelo de desenvolvimento do país, sobretudo desde que se integrou na UEM (défice externo persistente, acumulação da dívida externa, desindustrialização, desemprego elevado), o Memorando impôs-nos uma mudança inspirada nos princípios do Consenso de Washington e no ordoliberalismo alemão. Ao contrário das anteriores ajudas do FMI, esta intervenção da troika atropela a Constituição da República Portuguesa porque condiciona o financiamento à consagração de um modelo social e político de matriz neoliberal que, na sua institucionalização, viola princípios constitucionais basilares.
Ou seja, do ponto de vista do eixo Berlim-Frankfurt, Portugal ainda pode ser um caso de sucesso. Apenas precisa de colocar na Constituição o Tratado Orçamental para impedir políticas orçamentais contracíclicas, reconverter o Estado social num pobre Estado para pobres, destruir a classe média e os mecanismos de ascensão social que a mantêm, reduzir ainda mais 30% aos salários do sector privado (excluindo gestores e administradores), fazer da emigração uma válvula de escape das tensões sociais e, sobretudo, impregnar a sociedade portuguesa de uma sensação difusa, misto de culpabilidade e inevitabilidade. Quando tivermos chegado aí, a economia entrará numa estagnação duradoura, alternando pequenas recessões com períodos de crescimento sem criação de emprego. Portugal será então um país simpático e (ainda mais) barato para os reformados da Europa rica. Não terá dinheiro para manter as infraestruturas públicas em todo o país, mas cuidará das zonas de acolhimento dos turistas, como se faz em Cuba.
Se continuarmos à espera dos resultados das eleições alemãs, ou das que virão a seguir para o Parlamento Europeu, é este o futuro que nos espera. Um futuro que trai miseravelmente o esforço de sangue, suor e lágrimas das gerações que nos precederam e tornaram Portugal uma comunidade, um Estado-nação com uma cultura de que nos orgulhamos e que enriqueceu a Europa e o mundo. Após décadas de ditadura, o país ainda anda à procura do seu modelo de desenvolvimento, talvez mesmo da sua identidade, possivelmente a de ser um elo de confiança entre a Europa e outros continentes, mas é um país profundamente solidário. Apesar de traído pelas suas elites, europeístas a qualquer preço, talvez Portugal ainda encontre energia para recusar tornar-se numa Detroit do extremo ocidental da Europa. Talvez sejamos capazes de recusar o estatuto de autarquia local europeia que nos preparam, um território empobrecido e sem instrumentos relevantes de política económica. Talvez sejamos capazes de construir uma alternativa política que nos devolva a esperança. Talvez.
para quem possa analisar o que se comenta por cá e o que se diz(sobre nós) nos locais onde se decide a nossa vida, nota um desfasamento que por vezes até se detecta quem serve. Para se ser avisado seria bom que cada um assumisse que dar opinião sobre assuntos que não domina é o mesmo que eleger o melhor cantor por um juri que não percebe nada de musica. por sorte até pode acertar. Mas será ajuizado governar com palpites da maya? a democracia pode ser uma quimera bem cara como já sabemos o que nos tem custado as loucuras passadas = apesar dos 240 mil milhoes que já recebemos de Bruxelas estamos falidos
ResponderEliminarPois... Mas quem cá pôs os 240 mil milhões (não tenho confirmação) com certeza que já levou muiiiiito mais. Não há almoços grátis...
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