Draghi, Merkel, Hollande e Juncker bem podem ostentar unidade para salvar o euro, mas a moeda única já não faz sentido, considera o jornal "Welt am Sonntag". Porque os países membros são demasiado diferentes para a moeda comum poder continuar a funcionar.
Logo a partir da terceira frase da declaração, tornou-se claro que os países membros da zona euro, Alemanha e França incluídas, já não partilhavam a mesma abordagem relativamente à crise. Os Estados, "cada um segundo as suas prerrogativas, devem cumprir as suas obrigações para esse fim". O que pode também ser interpretado como uma capitulação: cada um que resolva as coisas como puder.
A ascensão das forças centrífugas
Eis portanto alguns dos últimos sobressaltos da diplomacia comum na zona euro. O consenso não passa de uma fachada. Sob a superfície, estão em ação, e adquirem amplitude, forças centrífugas poderosas. Num dia, o patrão do Banco Central Europeu, Mario Draghi, dá a entender que vai haver novas ajudas em favor dos Estados em falência; no dia seguinte, é desmentido pelo ministro das Finanças [alemão], Wolfgang Schäuble. A Grécia pede mais tempo, apesar de, dia após dia, nos chegarem novas informações sobre transgressões do Governo de Atenas e de os responsáveis políticos alemães exigirem abertamente a expulsão do país da zona euro.
Em vez de falar dos problemas do seu país, o ministro dos Assuntos Europeus espanhol prefere apelar ao reforço das ajudas provenientes da Alemanha. Quanto às soluções a pôr em prática –compra direta ou indireta de obrigações, resgate dos bancos, programas de austeridade –ninguém está de acordo.
O euro morre a Sul
Além disso, o Governo alemão só está em posição minoritária no Conselho do BCE. Se incluirmos os Estados-Membros de Leste, a situação torna-se muito diferente. O Norte e o Sul estão separados por um fosso profundo. Mais cedo ou mais tarde, seremos obrigados a olhar-nos nos olhos e a confessar que as coisas já não estão bem.
Longe de se aproximarem, as zonas económicas do Norte e do Sul da Europa afastaram-se, nos 11 anos de existência do euro. Nestas condições, a moeda única não faz sentido.
Visto de varsóvia - “Cenário mais negro torna-se realidade”
“É mesmo o fim da zona euro?” é a pergunta veemente do Rzeczpospolita depois de o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, ter rejeitado a ideia de um financiamento adicional de 300 mil milhões de euros à Espanha, por Berlim. O diário conservador de Varsóvia nota que “a zona euro não tem dinheiro para resgatar Espanha” e é provável que o custo desta operação ultrapasse os 300 mil milhões de euros e fique entre os 450 e os 650 mil milhões, segundo as previsões dos especialistas do Open Europe, um grupo de reflexão londrino.
Num editorial, o Rzeczpospolita observa que “a UE não tem dinheiro para resgatar Espanha. Ao contrário da Grécia, de Portugal, ou da Irlanda, Espanha é demasiado grande”. Assim, espera-se que
os 300 mil milhões de euros do plano de financiamento apresentado por Madrid sejam apenas uma base de negociação e que os espanhóis se contentem com 100 mil milhões [montante já aprovado para o financiamento dos bancos em dificuldades]. Mas se se chegar à conclusão de que a situação é realmente muito má, a existência da zona euro fica seriamente comprometida.
O jornal acredita que a crise atual revela “a verdadeira utopia de uma confederação de estados com uma moeda comum e um sistema político, social e económico diferente” e augura “o início do fim do atual modelo de união monetária”. A questão do financiamento de Espanha talvez possa ser resolvida com
a impressão de dinheiro sem valor pelo Banco Central Europeu. Mas isto não será suficiente para acabar com a farsa… [...] Não tardará a que um qualquer [país] colapse e a pirâmide de empréstimos mútuos desabe. Por isso, a menos que a zona euro mude, não adianta gastar dinheiro a adiar a execução.
O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, entende que a Alemanha está por detrás do agravamento da crise e acusou o governo liderado por Angela Merkel de tratar a Zona Euro como uma “filial” e lamentou ainda que tenham vindo à tona antigos ressentimentos nacionais.
Juncker criticou o facto de a Alemanha permitir que se faça política interna em torno da moeda única e, sem referir em nomes, considerou que há “políticos alemães” que começaram a falar numa eventual saída da Grécia do euro. Juncker lembrou que a Alemanha diz que é preciso esperar pelo relatório da troika, mas explica o que deve constar nesse relatório.
O também primeiro-ministro luxemburguês defende que é preciso ter mais cuidado com o que se diz e lembra que uma saída da Grécia da moeda única não resolve a atual crise, mas afeta a reputação dos países da Zona Euro em todo o mundo.
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