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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Resumindo: pode-se reduzir a ração aos PIIGS…

Apesar dos alertas de que o eleitorado europeu, frustrado pelo declínio económico e a austeridade, irá cair nos braços de eurofóbicos, extremistas anti-imigrantes, este continua a apoiar uma política moderada.
A economia europeia e a sua ordem geopolítica estão em crise. O desemprego, a austeridade e a tensão entre estados levou muitos observadores a alegarem que as condições políticas no Continente fazem relembrar os anos 30. Uma alegação errada.
Até aqui, o centro político predominou em quase todo o lado. Não é o aumento do extremismo que é notável, mas o facto de ser tão raro, dada a dimensão e a duração da crise.
Nunca o receio do aumento do extremismo foi tão grande como em França. Em abril, durante a primeira volta das eleições presidenciais os partidos radicais obtiveram muitos votos. Mas tal como nunca houve a possibilidade de alguém, além dos dois candidatos principais, se tornar Presidente, a votação dos extremistas nessas eleições não teve qualquer consequência.
Nas eleições parlamentares de junho a situação foi diferente. Se os extremistas tivessem votado da mesma forma que na primeira volta das eleições presidenciais, teriam invadido a Assembleia Nacional de Paris, num número sem precedente. Mas os eleitores não o fizeram quando chegou a hora decisiva. A Frente Nacional reacionária de Marine Le Pen ganhou apenas dois lugares dos 577 lugares da câmara baixa. A política de centro-esquerda e os blocos de centro-direita obtiveram, juntos, 560 lugares.
A Sul também reina a moderação
As condições económicas são muito piores no sul dos Pirenéus do que em França. Em Espanha, 1 em cada 4 pessoas está desempregada e são anunciadas novas medidas de austeridade quase todos os meses. Ainda que as últimas eleições legislativas em novembro tenham gerado uma mudança direta do centro-direita para o centro-esquerda. À exceção do aumento do apoio (de 4 a 7%) ao partido Esquerda Unida, de linha dura, os extremistas não obtiveram qualquer aumento dos votos nas eleições de 2007.
O segundo Estado Ibérico, Portugal, teve o crescimento económico mais lento da Europa Ocidental durante mais de uma década. As últimas eleições foram realizadas há 15 meses, altura em que o país foi forçado a pedir ajuda à UE-FMI. O partido centro-esquerda no poder perdeu 9 pontos percentuais em comparação às eleições anteriores. O partido centro-direita, que venceu as eleições, obteve mais 10 pontos percentuais. Os portugueses não demonstraram qualquer desejo de voltar ao velho regime autoritário, nem se verificou qualquer aumento no apoio aos extremistas.
A Itália, ao contrário dos outros países mediterrâneos, evitou até à data pedir apoio externo. Mas, tal como Portugal, tem vindo, desde de 2008, a sofrer um declínio económico progressivo. Hoje, esta economia fraca projetou os países para um estado de recessão. Porém, o principal efeito político desta crise económica foi a emergência de movimentos antipolíticos. O Movimento 5 Estrelas do ciberativista Beppe Grillo surgiu do nada nas eleições autárquicas de maio, e é impossível posicioná-lo no espetro político. Mas apesar de Grillo defender opções económicas extremas – a saída do euro e o incumprimento das dívidas do Estado – nada indica que este, assim como o seu movimento, se opõe aos princípios básicos da democracia.
Até na Grécia, onde se verificou um maior fracasso económico e político, tem havido menos violência do que o se antecipava, tendo em conta a dimensão da crise atual. Embora o país tenha sofrido muitos atos de terrorismo no passado, nenhum político foi assassinado. Além disso, apesar de ter havido protestos nas ruas, não foram mais violentos do que os tumultos que ocorreram no ano que antecedeu esta crise.
Mais piratas do que fascistas
Na Alemanha, onde os efeitos da crise passaram quase despercebidos e a taxa de desemprego atingiu o valor mais baixo das últimas décadas, existe um profundo sentimento de descontentamento nacional relativamente aos custos de resgate das economias da zona euro. Apesar disto, nenhum dos 3 partidos da oposição no Parlamento Federal Alemão contestou os resgates financeiros do Governo, nem assumiu uma posição que poderia ser favorável do ponto de vista eleitoral.
A oposição extraparlamentar, constituída por empresários e economistas que pretendem suprimir os resgates, está a crescer. Mas não há sinais de novos movimentos contra o euro ou os resgates financeiros para combater as próximas eleições federais do próximo ano. Tal como na Itália, a maior mudança política na Alemanha foi de ordem antipolítica – foi criado o Partido Pirata.
A Finlândia é um dos poucos exemplos onde o centro perdeu muito terreno. O partido isolacionista, Verdadeiros Finlandeses, quase quintuplicou o seu apoio nas eleições legislativas realizadas há 15 meses. Mas ainda que os Verdadeiros Finlandeses tenham uma mentalidade estreita com tendências xenófobas, o seu isolacionismo tem pouco de antidemocrático.
Como nos anos 90, não os 30
Fora da zona euro, o cenário é quase o mesmo, à exceção da Hungria, onde as regras democráticas estão a ser colocadas em causa e, potencialmente, da Roménia mais recentemente. Mas até mesmo estes países têm um longo caminho pela frente até que se assemelhem à autocracia dos anos 30.
Para compreender o que está acontecer agora, não são os anos 30 que nos fornecem um histórico paralelo mais relevante, mas sim os anos 90. No início dessa década pós-comunista, as democracias na Europa central e oriental sofreram choques enormes à medida que se mudaram de economias geridas pelo estado para economias com base no mercado. Muitas indústrias que tinham sido apoiadas durante a experiência comunista colapsaram. A qualidade de vida colapsou e, como consequência, o desemprego disparou.
A reação política mais importante não foi uma onda estilo anos 30 em apoio aos extremistas, mas uma mudança poderosa, uma oscilação quase universal antipoder. Em dezenas de eleições nos países em transição ao longo dos anos 90, quase nenhum governo foi reeleito.
É isto que está a acontecer na Europa neste momento. Os eleitores estão a rejeitar os atuais governantes, não a democracia ou os seus valores. Seria necessária uma depressão muito mais profunda e prolongada para que a mudança fosse para pior; o que infelizmente, é possível.
Contraponto - Budapeste e Bucareste, os contraexemplos
“Hungria, Roménia: e se a verdadeira crise da Europa estiver a Leste?”, pergunta o sítio de notícias Mediapart, no dia seguinte ao referendo sobre a destituição do Presidente romeno Traian Băsescu.
O sítio de informação francês escreve que:
o endurecimento do regime romeno parece ilustrar como também, de uma outra maneira, a Hungria de Viktor Orbán, o colapso democrático dos países da União mais duramente atingidos pela crise.
É que, apesar de as semelhanças entre as experiências húngara e romena serem limitadas, o Mediapart explica, relatando as observações de um geógrafo, que nesses dois países, “a entrada na União não foi acompanhada do corolário esperado: mais bem-estar”. Apesar de “funcionarem em registos muito diferentes”, o primeiro-ministro romeno Victor Ponta e o seu homólogo húngaro “serão, de facto, o produto desse desencanto”.
 “Alguns observadores veem nas atuais crises da Roménia e da Hungria a prova de que o alargamento da União aos países da Europa de Leste foi feito depressa de mais”, escreve o Mediapart, que acrescenta, no entanto, que
se hoje existe uma responsabilidade da Europa, é sobretudo na sua quase impotência em contrariar estes desvios autoritários, que pode apenas condenar nos seus discursos.

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