(per)Seguidores

domingo, 24 de junho de 2012

A receita pedagógica para o método da “amorização”

Qual seria o ponto de partida para uma boa prática pedagógica? Um trecho do texto de Rubem Alves fez como que a minha “máquina de pensar” fosse ligada.
Profª.Cíntia Borher Soares, Tutora do Sistema S.E.R. de Ensino
“Toda a experiência de aprendizagem inicia-se com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim "affetare", quer dizer "ir atrás". É o movimento da alma na busca do objeto da sua fome. É o Eros platónico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.” - Rubem Alves, do texto A ARTE DE PRODUZIR FOME.
O educador deve provocar a fome nos seus alunos, para que a aprendizagem ocorra da melhor forma possível e que o despertar da necessidade venha acompanhado pelo prazer de o saciar.
O aroma que vem antes do prato chegar à mesa, que invade o espaço e desperta o apetite é o melhor recurso que existe para uma boa refeição. O educador deve ficar atento aos gostos e preferências de seu público antes de servir o cardápio, pois alguns podem ter vivenciado experiências não muito positivas, o que pode trazer uma rejeição, antes mesmo da prova. Conhecer o aluno é um ponto importante para a realização de um bom trabalho.
Em seguida, deve-se apresentar um prato cheio de cores e sabores, pois antes de comer com a boca, comemos com os olhos. O educador deve oferecer aos seus alunos um bom material, contextualizado com a sua realidade e com estratégias que podem detalhar os conceitos mais complexos, simplificando assim o entendimento. É através do material disponibilizado que o aluno terá contacto com o conteúdo, por isso deve ser agradável e ao mesmo tempo eficaz.
O momento da prova do prato também deve ser cauteloso, pois a temperatura e o paladar diferenciam de pessoa para pessoa. O educador deve levar em consideração que cada um tem uma maneira própria de aprender e assimilar o conteúdo. Fazer generalizações pode comprometer o desenvolvimento do grupo!
Fazer provocações e despertar o interesse de provar o que, a princípio, não lhe agrada também é uma maneira de desenvolver nos alunos novas habilidades para que não corra o risco de apenas reforçar as aptidões que já foram desenvolvidas (novos conhecimentos). Pedro Demo diz que devemos estimular a produção de conhecimento pelo próprio aluno, através da pesquisa, para que o aluno se torne autónomo. Deixar com que cada um expresse a sua opinião sobre o prato apresentado, é uma forma de fazer com que o aluno interaja e coopere na construção e ressignificação do conteúdo. Vygotsky mostrou-nos que é a través da fala e da interação com o outro é que chegamos ao pensamento, e que são os próprios alunos que formam os seus conceitos sobre as coisas. O educador deve então, propiciar a negociação e a apropriação do significado, colocando o pensamento da turma em movimento.
A escolha do tempero (técnicas didáticas), a combinação dos ingredientes (domínio do conteúdo) e a temperatura ideal do prato (mobilização do grupo) são técnicas fundamentais para chamar a atenção para a degustação do prato (processo ensino-aprendizagem). Mas como nem sempre se pode passar pelas mesmas experiências dos alunos, deve-se tentar “colocar-se verdadeiramente no lugar do outro, de ver o mundo como ele o vê” (Rogers apud Capelo, 2000).
Fomentar o debate, auxiliar e estar presente nos momentos que se faz necessário, incentivar cada um a tornar-se responsável pelo seu desenvolvimento e pela motivação geral do grupo, estar atento e sensível às variações que podem acontecer durante a ação e principalmente estar consciente da mudança de paradigmas e condições do ambiente dos alunos. O educador deve estar completamente envolvido com a turma e com os conteúdos de forma que anteveja possíveis problemas e situações para que possa (junto com o aluno) driblá-las. Para isso a confeção de um planeamento flexível acompanhado de leituras pertinentes ao tema, pode somar aos bons momentos de aprendizagem.
A distância existente entre os participantes não pode ser uma limitação. Criar estratégias para que a distância diminua, gerando laços de afinidades e afetividade com o aluno é essencial para o envolvimento. Um convite para a degustação de um prato é uma boa oportunidade para os conhecer! E também uma ótima oportunidade de trocar receitas, pois com esse contacto descobrimos que por mais que estudamos temos sempre muitas coisas novas para aprender.
Cuidar para que essa distância não aumente no dia-a-dia também faz parte do papel do educador. Lembre-se que: “Tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Desejo um bom apetite a todos.

Sem comentários:

Enviar um comentário