Só sei que nada sei. A frase atribuída a Sócrates – o filósofo ateniense e não o político português de recente e péssima memória – parece ter sido adoptada como lema do Governo. Ao recusar-se a "especular" sobre a eventualidade de novas medidas de austeridade, Passos Coelho abre a porta a todas as incertezas.
A anunciada derrapagem orçamental é, em primeiro lugar, um duro golpe na credibilidade do ministro das Finanças, mas atinge também o primeiro-ministro – e, com Passos, todo o Governo.
Com mais ou menos protestos, a maioria dos portugueses aceitou os sacrifícios em nome de um contrato de confiança, que ameaça ser quebrado: se as metas orçamentais impostas pela União Europeia não forem cumpridas no final do ano é porque o Estado não soube apertar devidamente o cinto.
A conclusão que muitos vão retirar é óbvia: se não podemos confiar nas contas do ministro Vítor Gaspar, em quem é que nos resta acreditar? Está a chegar a altura em que, ao contrário do célebre discurso de Kennedy, os portugueses terão de começar a perguntar o que pode este Governo fazer por nós.
Paulo Pinto Mascarenhas
O Governo deve adoptar novas medidas de austeridade para cumprir os objectivos de redução do défice público em 2012 ou deve pedir mais tempo e mais dinheiro à ‘troika’?
Às duas questões, que ganharam uma nova actualidade por causa dos números da execução orçamental, a resposta deve ser negativa. Nem mais austeridade, nem mais tempo, nem mais dinheiro. E é tudo compatível.
Ainda assim, se o Governo conseguir manter a despesa sob controlo, em especial a que pesa, a despesa com pessoal, como parece ter feito nos meses em análise, estará em condições políticas de não acrescentar mais austeridade à austeridade. A despesa é a variável mais relevante em matéria de execução orçamental, é verdadeiramente a que está nas mãos do Governo, excepção feita à relativa aos subsídios de desemprego, e, por isso, é que deve merecer atenção da equipa das finanças. O sucesso da execução mede-se, sobretudo, pela despesa.
Pedro Passos Coelho disse, ainda este fim-de-semana, que ainda é cedo para falar de novas medidas de austeridade. O primeiro-ministro não pode dizer outra coisa, assumiu um compromisso de redução do défice para 4,5% em 2012, mas sabe que mais austeridade teria resultados desastrosos. Mesmo com a actual, a que está em vigor, já sabemos que o ajustamento é um eufemismo, necessário, mas um eufemismo. Portugal está a empobrecer e vai continuar a empobrecer nos próximos dois anos. E nem o recente anúncio da recapitalização da banca vai mudar de forma significativa esta realidade, como bem evidencia Vítor Bento, neste jornal.
O Diário Económico ouviu um conjunto alargado de ex-ministros e empresários, de vários quadrantes, e todos assinam uma espécie de manifesto: Mais austeridade, nem pensar! Portugal precisa de mais tempo.
Ora, se o Governo mantiver o controlo da despesa, será a ‘troika' a conceder mais tempo e/ou mais dinheiro a Portugal, porque também precisa de mostrar que este caminho é possível e dá resultados. Somos o bom aluno, porque Passos quer e porque a ‘troika' precisa.
A Comissão Europeia já deu uma folga a Espanha, olha para os pedidos do novo Governo de uma Grécia intervencionada acabará por alinhar os outros programas de intervenção, como o irlandês, à luz do apoio à banca espanhola, e o português. Será flexível no objectivo do défice em 2012 e 2013 e financiará Portugal a partir de Setembro do próximo ano, quando não for possível ao País regressar aos mercados e financiar-se.
Pedro Passos Coelho tem de ter a paciência que elogiou aos portugueses e esperar que a ‘troika' peça uma revisão do programa de austeridade.
António Costa, Director
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