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sábado, 30 de junho de 2012

Quem concordava com ELA, agora discordará?

Martim Moniz, o entalado
Será que podemos ter sempre razão contra toda a gente? Manifestamente não, como Angela Merkel pôde constatar na desagradável experiência na noite de 28 para 29 de junho. Confrontada com a rebelião surpresa de Mario Monti e Mariano Rajoy, foi obrigada a ceder em dois pontos: o Mecanismo Europeu de Estabilização (MEE), ou seja, o fundo de resgate europeu permanente que será utilizado em breve vai poder entregar dinheiro diretamente aos bancos espanhóis e comprar a dívida italiana sem exigir um programa de rigor.
Para Madrid (e talvez para Dublin, se a decisão fizer jurisprudência), isto significa que o resgate dos bancos não voltará a integrar as contas do Estado. Para Roma (e talvez para Paris, considerada muitas vezes a próxima peça do dominó da crise), isto significa que o Estado poderá financiar-se sem ficar submetido à pressão dos mercados que impõem taxas de juro exorbitantes. Questão de bom senso diz a maior parte dos dirigentes europeus e dos observadores.
Mas para a chanceler alemã, esta decisão noturna do Conselho Europeu é um duplo fracasso. Por um lado, pela primeira vez desde o início da crise, deixou de ser Angela Merkel a controlar os debates. Mesmo quando dizia sim depois de ter dito não, Angela Merkel fazia-o ao seu próprio ritmo, apoiada por Nicolas Sarkozy. Hoje, mostra ter perdido o apoio dos principais países europeus.
Agora que se dispôs a aceitar – concessão tática – o pacto de crescimento reclamado por François Hollande, eis que é obrigada a ceder em duas questões estratégicas. Consequentemente, abriu-se uma brecha na sua linha de defesa contra as obrigações europeias. Ao declarar que recusava esta opção “enquanto fosse viva”, deu garantias ao seu partido e aos seus eleitores, mas ficou sem alternativa ao ver-se obrigada a tentar ainda ter razão contra todos, ou a desdizer-se.
A História dirá que, depois de anos de negligência nas despesas públicas e falta de controlo das finanças, o rigor e a vigilância da UE, propostas por Berlim, constituem a melhor resposta à crise. A verdade é que, depois da noite de 28 para 29 de junho, a relação de forças mudou na Europa.
A chanceler alemã, Angela Merkel, assegurou hoje que não haverá nenhuma troika para a Itália ou para a Espanha se pedirem a intervenção dos fundos de resgate nos mercados de dívida ou a recapitalização direta da banca. As únicas instituições implicadas nessas operações são a Comissão Europeia e o BCE.
O primeiro-ministro sublinhou que o Conselho apenas abriu a porta a uma ideia que será agora desenvolvida até à próxima reunião de ministros das Finanças do Eurogrupo, de 09 de julho, pelo que não se quis alongar em comentários, mas apontou que essa “porta aberta não está aberta apenas para Espanha”, tendo ficado “muito claro que casos similares terão tratamento idêntico”, como de resto foi já referido relativamente à Irlanda.
Já é líquido que as teorias ortodoxas de Merkel caíram por terra, só porque a realidade tem muita força e pelos vistos uma análise meramente técnica (posição de Monti) mostrou que as teorias “experimentais” impostas eram realmente POLÍTICAS e por serem políticas foram aprovadas por 2/3 do Parlamento alemão, incluindo a oposição à “dona da verdade”!
Quem deve estar de cara à banda devem ser os políticos, opinadores, comentadores e economistas, que colavam Hollande a D. Quixote, ridicularizando as suas propostas, aconselhando-o e prevendo que se desfizesse das suas “utopias”…
E por política entenda-se também a desigualdade de tratamento para diferentes países-membros, que oferecem condições mais vantajosas a Espanha e Itália, contra as condições suicidas oferecidas à Grécia, à Irlanda e a Portugal.
Ou há troika e austeridade para todos, ou não há para ninguém!
Órfãos e desorientados devem ter ficado o “nosso” PM e o técnico e ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que queriam enriquecer o seu currículo, à nossa custa e à custa da subserviência a tudo quanto saía da mente e da boca da sua chanceler.
Devem estar agora um bocado à rasca para acompanharem a reviravolta “técnica” da sua mentora e protetora, para conseguirem defender o contrário do que antes achavam inevitável e eficaz…
E por muito paleio que tenham e dissertem vagarosamente para as TVs, será difícil arranjarem argumentos para a pirueta necessária, porque até os ignorantes não os entenderão, embora haja um grupo grande de deputados (inteligentes) e administradores nomeados (competentes), que os acolitarão, dizendo no fim de cada frase, AMEN!
Fica-lhes apenas como alento a “parábola” da “PORTA ABERTA”, para o que não contribuíram com qualquer esforço, mesmo quando está(va)mos entalados…
Já vai longe o tempo de Martim Moniz e dos Alcaides de Faria…
Mas na prática o que muda no quotidiano dos cidadãos?

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