(per)Seguidores

terça-feira, 26 de junho de 2012

3 anos para agir e NADA! Num fim de semana TUDO?

Só uma união política pode salvar o euro e a UE e só o primeiro-ministro italiano pode dizer isso claramente e convencer a Alemanha, defende o colunista Wolfgang Münchau, em vésperas da cimeira da UE desta semana. Mas irá fazê-lo?
Imaginemos que, na noite desta quinta-feira, na cimeira do Conselho Europeu, que reúne os chefes de Estado da Europa, o primeiro-ministro italiano se levanta e diz: "Senhor Presidente, caros colegas. Estamos perante uma opção simples: hoje, podemos salvar o euro e lançar as bases de uma futura união política ou podemos desistir e não fazer nada disso. Todos nós sabemos o que é preciso fazer para salvar o euro. Pedimos uma união bancária para a Espanha, uma união orçamental para a Itália e uma união política para a Alemanha.
É claro que podemos estar em desacordo quanto aos pormenores, mas temos que resolver as divergências neste fim de semana e que tomar uma decisão sobre os passos que são necessários desde já. As nossas políticas com vista à resolução da crise têm falhado sucessivamente. Agora, precisamos de qualquer coisa que tenha resultados rápidos. Garanto-vos que, se falharmos, não posso continuar a fazer parte deste grupo e o meu país deixa de poder fazer parte deste projeto."
Antes de mais, devo dizer-vos que não espero, de facto, que Mario Monti diga tal coisa, nem que seja numa versão mais críptica. Monti é o chefe de um Governo técnico. A sua tarefa é resolver problemas. Enfrentar o protagonismo, como dirão alguns, da chanceler alemã e, menos ainda, pôr em risco o futuro da Itália não fazem parte das suas competências. Os partidos políticos italianos nomearam-no porque, depois do playboy, precisavam de um canalizador – não de um jogador. A última coisa que queriam era um líder.
Merkel não está a fazer bluff
Acho que se justifica uma certa margem de jogada calculada. Mas os seus riscos e benefícios devem ser inteiramente compreendidos. A questão não é tanto pagar para ver as cartas de Angela Merkel, como alguns dos meus amigos italianos e espanhóis têm recomendado. Apesar do facto de um desmembramento da zona euro ser claramente desastroso para a Alemanha, Angela Merkel não está a fazer bluff. O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Joschka Fischer, disse recentemente que, se permitisse o desmembramento da zona euro, a Alemanha estaria, pela 3ª vez num século, a causar a devastação total da Europa e de si própria.
Aqueles que defendem a estratégia de pagar para ver as cartas da Alemanha partem do princípio de que existe um grau de racionalidade, que está claramente ausente. Os alemães têm vindo a fazer uma estranha leitura da crise. Acompanhar o debate que se realiza no país, como eu faço habitualmente, dá-nos a sensação de entrarmos num universo paralelo. Veja-se, por exemplo, a negação de que os excedentes da balança de transações correntes seja, mesmo que remotamente, um fator [da crise]. Na leitura alemã, a economia é como um jogo de futebol, que a Alemanha está a ganhar. E a tarefa da chanceler é apoiar a equipa contra outra equipa – como fez em Gdansk, na passada sexta-feira, quando a Alemanha venceu a Grécia. A Alemanha, tal como a senhora Merkel, parece imparável.
Um pequeno número de funcionários inteligentes e a elite económica percebem o que está em jogo, mas estão dispostos a correr o risco de um acidente. A preservação do euro não é o seu objetivo principal. Ao rejeitar categoricamente qualquer forma de mutualização da dívida, como fez num artigo recente publicado num jornal, o antigo economista principal do Banco Central Europeu, Otmar Issing, não refere o que aconteceria se o Governo seguisse o seu conselho: a zona euro desmembrar-se-ia.
Três anos desperdiçados
Quando surge, a pressão no sentido do desmembramento vem de Itália. Na semana passada, Silvio Berlusconi disse ameaçadoramente que uma saída da Zona Euro não seria uma blasfémia. E apresentou um conjunto de opções simples: ou a Itália é resgatada, a Alemanha sai ou a Itália sai. Em meu entender, o senhor Berlusconi está a preparar o caminho para o seu partido se candidatar com uma plataforma eurocética às próximas eleições, para repelir o desafio da formação antieuro Movimento Cinco Estrelas e o seu líder, Beppe Grillo. Consta que Berlusconi estudou em pormenor os discursos e os textos deste. Aquilo a que estamos a assistir aqui é um processo, no qual a posição contra o euro pode vir a tornar-se predominante.
E, quando isso acontecer, pode ser já demasiado tarde para salvar o euro. Os dirigentes da zona euro tiveram mais de 3 anos para agir. E desperdiçaram-nos. A nível individual, podem ser pessoas inteligentes mas, como grupo, deram mostras de um espantoso grau de analfabetismo económico e financeiro. Lembram-se da hipótese da orientação orçamental expansionista? Ou da ideia tola de alavancagem do fundo de resgate? Ou da redução do valor da dívida (bail-in) de investidores privados, numa base voluntária? Acreditam mesmo que serão estas pessoas a fazer tudo o que está certo, num único dia, depois de terem feito tudo o que estava errado durante 3 anos?
A única esperança seria um dos iniciados desafiar Angela Merkel. Quem o fizesse teria que vetar o embuste que deverá ser proposto na quinta-feira. Que credibilidade terá uma união política, no futuro, se não conseguirmos salvar a zona euro, hoje? É este o nosso momento crucial.
Ninguém está em melhor posição para fazer frente a Merkel do que o primeiro-ministro italiano. Monti é um iniciado europeu decisivo. É inteligente e eloquente. O seu país está na primeira linha para ser atacado pelos mercados. A União Europeia não tem um plano B. Uma ameaça de demissão seria credível e assustaria muita gente. Além disso, que tem Monti a perder? Os seus índices de aprovação caíram e está também a perder o apoio da sua coligação. Monti só pode salvar o seu país, e o euro, dizendo a verdade aos que detêm o poder.

Sem comentários:

Enviar um comentário