Vencedor das eleições de 17 de junho, o conservador Antonis Samaras pode formar uma coligação favorável ao memorando. E a Grécia poderá ter futuro, se os partidos políticos derem provas de uma qualidade que lhes tem faltado até agora: responsabilidade.
Os pais e as mães de família que trabalham afincadamente e que pagam os seus impostos cumpriram o seu dever: a maior parte deles votou no partido da Nova Democracia, nas eleições gerais de ontem, pondo de lado as suas opiniões e dúvidas pessoais, ou apoiou o Pasok como parceiro de coligação responsável, enquanto alguns deles votavam em Fotis Kouvelis, da Esquerda Democrática.
Precisamos de políticos dispostos a fazer de “kamikazes” e não de políticos clássicos que tremem quando os seus bens políticos estão em causa e quando as pessoas reagem. E, francamente, os partidos políticos não estão a transbordar de pessoas corajosas ou especialmente talentosas.
Agora, evidentemente, cabe aos políticos do país mostrarem que estão à altura do desafio – que não será fácil. Os políticos gregos, incluindo Alexis Tsipras, líder do partido antirresgate, têm que exceder todas as expectativas e conduzir o país para longe dos grandes perigos que este tem pela frente.
Ninguém pode alegar desconhecimento do facto de que o país está numa terrível confusão. Ninguém pode dar-se ao luxo de ser irresponsável, só porque o eleitorado o relegou para a oposição. Estamos todos no mesmo barco.
Ganhámos algum tempo
Antonis Samaras, o líder do partido conservador Nova Democracia travou uma dura batalha e venceu-a, apesar das dificuldades. Tem consciência de que os resultados obtidos pelo seu partido nas eleições de ontem incluem os votos de milhares de eleitores que apoiaram os conservadores porque queriam evitar a saída do euro ou uma vitória de forças políticas extremistas.
Samaras deve recrutar as pessoas mais qualificadas de todos os setores e não ficar dependente dos membros da velha guarda política, que se apressaram a fazer fila atrás de si, em benefício dos fotógrafos, em Zappeio Hall [o parlamento grego].
A margem de manobra do próximo governo será extremamente limitada, porque está tudo no vermelho, a população está profundamente dividida e os nossos parceiros estão a perder rapidamente a paciência.
Poderemos ser bem sucedidos? Evidentemente que podemos. Várias vezes no passado, mostrámos que somos capazes de realizar quase milagres, no derradeiro minuto. Dito isto, iremos precisar da tolerância e do apoio dos nossos parceiros europeus e dos credores internacionais, que sabem o que está em jogo tanto para a Grécia como para a Europa.
Acima de tudo, ganhámos algum tempo para respirar fundo e não nos catapultámos para fora da zona euro. Esperemos que, quando se sentarem à mesa das negociações, no Palácio Presidencial, os nossos dirigentes pró-europeus consigam superar as suas limitações e exceder
Ponto da situação - Um país dividido em dois
“Um governo agora!”, exclama Ta Nea em primeira página. Mas as negociações para a formação de um executivo anunciam-se delicadas. Antonis Samaras apelou a todos os partidos que se juntem num “governo de resgate nacional”, mas o Syriza excluiu esta possibilidade e o Pasok está reticente a juntar-se, na ausência do Syriza.
De qualquer das formas, “a Grécia sai dividida em dois” deste escrutínio, constata o diário. E “um país dividido em dois é um país condenado, seja qual for o partido que predomine”. Esta nova “fratura nacional” é feita em três níveis, diferentes das habituais divisões entre direita e esquerda, ricos e pobres ou centro e periferia:
O primeiro nível é político. De um lado, Nova Democracia, Pasok, Esquerda Democrática e os pequenos partidos pró-europeus. De outro, Syriza, os gregos independentes, Amanhecer Dourado e os pequenos partidos extra parlamentares de extrema-esquerda. Estes dois clãs estão em igualdade.
O segundo nível é a Europa. Pela primeira vez, deixou de ser um dado adquirido.
No terceiro nível, o sistema de poder, no qual o Estado é colocado em causa pelo povo.
Entramos num período de turbulência, estima, portanto, Ta Nea. O ponto positivo é que o povo grego é ator. O ponto negativo é que estes confrontos nunca acabam com apenas um vencedor, mas com muitos derrotados…
Um dia após as eleições que marcam a vitória dos partidos “pró-memorando”, a imprensa europeia expressa o seu alívio: por agora, a hipótese de uma saída da Grécia da zona euro parece afastado. Mas a crise que atinge a moeda única está longe de acabar.
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