Soares preocupado com medidas de austeridade
Mário Soares está preocupado com as medidas de austeridade anunciadas pelo governo. O antigo presidente da República teme que as políticas conduzam ao desespero das pessoas. Soares chega a dizer que se os mercados financeiros continuarem a mandar no país, pode ocorrer outra revolução.
Mário Soares confessa-se “relativamente preocupado” com a linha de austeridade seguida pelo Governo de Pedro Passos Coelho e dá nota negativa ao ministro das Finanças, que classifica de “político ocasional”. Inquieto com o que entende ser uma excessiva valorização do “dinheiro”, em prejuízo das “pessoas”, o antigo Presidente da República não exclui uma “revolução a sério”. Isto “se os mercados continuarem a mandar”.
O atual ministro das Finanças poderá ser “um grande técnico da economia”. Mas “é um político ocasional”. É assim que Mário Soares avalia o desempenho de Vítor Gaspar. Reparos que o antigo Chefe de Estado quis partilhar numa tertúlia no Casino da Figueira da Foz.
Num comentário à última entrevista de Vítor Gaspar ao jornal Público, o fundador do PS admitiu que ficou sem perceber o rumo que o Executivo quer prosseguir para o acerto das contas públicas do país: “Para dizer a verdade, não percebi. Acho que é confusa. Acho que não sou destituído. Tenho provado que não sou completamente destituído. Portanto, li aquilo com atenção mas realmente não percebi. Não sei onde é que ele quer chegar, nem onde vai e o que pretende”.
O ministro das Finanças, insistiu Mário Soares, “é um bom técnico” de economia. Contudo, sustentou o antigo Presidente, “é preciso que estejam políticos a dirigir isto e não técnicos, porque os técnicos só veem números”.
Soares defendeu que as medidas de austeridade devem ter “alguns limites”. A começar pelo Serviço Nacional de Saúde, que “não se pode entregar a um bom contabilista”. “Um bom contabilista é que diz agora vamos cortar, cortar, cortar. E a saúde dos doentes? E os transplantes? Então as pessoas vão morrer, vão deixar-se morrer? Não pode ser”, afirmou.
“Uma revolução a sério”
Mário Soares, que participou nas Tertúlias do Casino a par de Teresa de Sousa, coautora do livro “Portugal tem Saída”, não hesita em situar a raiz da crise económica e financeira nos mercados. E faz uma advertência: “Se esses mercados continuarem a mandar, nós vamos para o fundo e então tem que haver outra revolução, mas uma revolução a sério”.
“Nós temos que valorizar, em primeiro lugar, as pessoas e só depois o dinheiro. Ora, se nós considerarmos o dinheiro como o único valor, evidentemente que depois não nos admiremos que toda a gente vá assaltar ourivesarias e roube de lá o ouro e outras coisas, porque estão desesperados, não têm dinheiro”, disse Soares.
Parte das críticas do antigo Presidente da República recai sobre a troika do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia. Sobretudo no que diz respeito à avaliação da banca. Para Mário Soares, trata-se de “subserviência”. “Quer dizer, então eles agora vêm aqui escrutinar tudo e eles é que são os donos do país? Como é que é isso? Porquê? Quem são aqueles senhores?”, questionou-se.
Falta “audácia” à Zona Euro
Soares fez também uma leitura do atual momento do projeto europeu, argumentando que é “fundamental” manter o euro e a abertura de fronteiras consagrada no Acordo de Schengen. “Demos dois grandes pulos, que foram a moeda única e o espaço Schengen, que nos tirou as fronteiras. O que nos resta de contacto? Como nos vamos entender uns com os outros?”, perguntou.
“Devemos tentar tudo para defender o euro e não deixar que o projeto europeu vá abaixo. Isto para mim é fundamental”, frisou Mário Soares, que defenderia ainda uma via de desvalorização da moeda única, embora para tal fosse “preciso audácia”.
O antigo inquilino de Belém alertou também para o que considerou ser o perigo de um recrudescimento dos movimentos nacionalistas, “que pode chegar até uma terceira guerra mundial”.
Boa tarde Miguel:
ResponderEliminarPeço desculpa por não ser versado nas novas tecnologias e ainda me custar um pouco trabalhar com a informática.
Comentei:
Mario Soares quando esteve no governo meteu o socialismo na gaveta. Agora parece-me mais socialista.
O PS depois do tufão Sócrates esteve quase a bater no fundo, espero que se recomponha depressa.
Este governo do PPD (PSD deve ser outra coisa) além de não poder fazer muito, quando a "Troika" diz mata vão logo a correr esfolar-nos. Penso que estão zangados com os portugueses por terem andado tanto tempo a vota no PS.
Gabriel Garcia Marquez na obra "A Aventura de Miguel Littin Clandestino no Chile" considera que o então presidente Salvador Allende se mostrava muito preocupado com os mais desfavorecidos. Numa viagem presidencial pelo Chile encontrou um apoiante que empunhava um cartaz que dizia: "ESTE É UM GOVERNO DE MERDA, MAS É O MEU GOVERNO". Allende cumprimentou o homem e aplaudiu-o.
Há tempos pensava o mesmo, mas agora também já deve andar muita gente a pensar dessa maneira.
Um abraço.
Agostinho Ramada
Raposa velha este Soares...E gosta dos holofotes...
ResponderEliminarO inginheiro filósofo deve estar roído de inveja por não estar no lugar do Seguro.Rei morto rei posto.
maria
Agostinho Ramada
ResponderEliminarBoa análise, ou sou eu é que estou de acordo com ela.
Tenho o palpite que anda cada vez mais gente a pensar que este governo(e o anterior) é uma merda, tenho dúvidas que haja mais gente a dizer que "é o meu"...
maria
ResponderEliminarÉ raposa velha e gosta de mimos, mas o que ele diz é a pura verdade. Todos os tecnocratas falam na definição dos objetivos, nas estratégias, na avaliação e na política não é a mesma coisa?
Quais são os OBJETIVOS deste governo (e do anterior), o dinheiro, ou as pessoas? Só depois é que se podem definir as estratégias. A avaliação do que tem sido feita, é óbvia e continuando a linguagem do comentário anterior, é uma merda. Logo, é preciso mudar tudo!
Bfs