A cátedra de Estudos Portugueses Fernando Pessoa acaba de ser criada na Universidade dos Andes, em Bogotá, através de um protocolo entre a instituição de ensino colombiana e o Instituto Camões, disse o investigador Jerónimo Pizarro.
O titular da cátedra, o colombiano pessoano Jerónimo Pizarro - coordenador da coleção "Obras de Fernando Pessoa", publicada pela Ática (Babel), e responsável pelo projeto de digitalização da biblioteca particular do poeta - indicou à Lusa que a cátedra "ficou oficialmente criada a 29 de agosto de 2011, após a Semana de Portugal" que se realizou na universidade andina.
"Esta cátedra - a primeira na Colômbia e a quarta em toda a América Latina - foi possível graças a um protocolo de cooperação entre a Universidade dos Andes e o Instituto Camões através do qual se estabeleceu a colaboração das duas instituições na promoção de atividades educativas e culturais, na Universidade dos Andes, dedicadas às múltiplas manifestações que conformam a idiossincrasia portuguesa no mundo", escreveu o novo catedrático no site:
http://catedrapessoa.uniandes.edu.co/index.html.
http://catedrapessoa.uniandes.edu.co/index.html.
Embora ainda em construção, pode já encontrar-se no site da cátedra bastante informação sobre a língua e a cultura portuguesas.
É notório o interesse crescente de outros países de outras línguas pela língua portuguesa, pelas mais variadas motivações, que vão da perspetiva puramente cultural ao interesse pragmaticamente económico e como testemunho, ficam aqui dois exemplos.
Do outro lado da moeda, devemos perguntar-nos o que faz, mesmo com a crise, o nosso país pela divulgação da língua e pela utilização da mesma nos labirintos da economia, que leva a China a um investimento continuado e persistente.
Se vier a acontecer a eventual privatização da RTP, em que ainda não acreditamos, exatamente por ser um dos poucos elos da lusofonia, terminará uma das melhores ferramentas de aprendizagem da língua e de divulgação das várias culturas que falam português, problema que o grupo de estudo sobre o Serviço Público da RTP terá que colocar num dos pratos da balança.
E se a nossa pátria é a língua portuguesa, estaremos a reduzi-la ainda mais, empobrecendo simultaneamente todos os que gostam mais dela do que nós…
Há cinco décadas que a China aprende português. Se no início os alunos eram poucos, hoje são cada vez mais. O ‘boom’ dos países lusófonos tornou a língua mais atractiva, principalmente no mundo empresarial.
O desenvolvimento económico do Brasil e de Angola está na origem do crescente interesse pela língua portuguesa na China. Esta foi uma das conclusões do fórum internacional que ontem reuniu, no Instituto Politécnico de Macau (IPM), 8 professores do idioma, vindos de Portugal e da China.
A conferência surgiu no âmbito das celebrações do 50º aniversário da criação do curso de Português na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim (BSFU, na sigla inglesa), o primeiro a leccionar esta língua no Continente.
Ye Zhiliang, professor associado do Departamento de Português da BFSU, explicou que a universidade – “o berço da diplomacia da República”, tendo formado mais de 400 embaixadores – se orgulha do seu departamento de português, que em 50 anos formou mais de 400 alunos. Actualmente estão inscritos 90 estudantes de licenciatura e 3 de mestrado, para 6 docentes.
Num português fluente e adocicado, Ye Zhiliang elaborou sobre os “desafios do século XXI”, onde as “relações económico-comerciais com países lusófonos, com destaque para Angola e Brasil, estão a criar uma necessidade de intérpretes para o mundo empresarial”. Tendo em conta essa realidade, o curso passou a integrar, em 2001, uma disciplina de Temas Económico-comerciais em português.
O professor universitário diz que agora é necessário apostar na vertente jurídica. “Pôr os alunos a ler a Lei Básica de Macau, por exemplo,” sugeriu.
As relações com outros países lusófonos, que não apenas Portugal, também obrigaram a uma adaptação dos currículos. Actualmente é comum que os alunos chineses sejam enviados para zonas do interior de Angola ou do Brasil e para isso precisam de aprender sobre “a geografia e hábitos” dessas zonas. Da mesma forma, passaram a ser introduzidos textos de autores de outros países de língua portuguesa, para facilitar o entendimento dos estudantes, que estavam apenas habituados à sonoridade e grafia portuguesas.
Choi Wai Hao, director da Escola Superior de Línguas e Tradução do IPM e um dos oradores da conferência, disse que o ensino do Português é “de primordial importância” na instituição, e que ao longo dos anos tem tentado – e conseguido – atrair alunos do interior da China para Macau. Apesar de estarem em menor proporção, os números têm vindo a crescer. “De 2000 a 2010, o IPM formou 159 tradutores e intérpretes. Destes, 18 eram da China, 141 locais.”
Choi disse que “a procura de pessoas que falem português depende muito das relações económicas e comerciais entre a China e os países de língua portuguesa” e que não interessa só a Macau saber português, mas a todo o país. “Agora estamos no auge dessas relações e para aproximar os povos chineses e os povos lusófonos é preciso ter uma ponte – os tradutores e os intérpretes.”
Rumo a Coimbra
O interesse no português tem levado cada vez mais chineses a Portugal, para estudarem e aperfeiçoarem o idioma in loco. Uma das universidades que mais acolhe estes estudantes é a de Coimbra, onde já estão inscritos 72 alunos para 2012. O director da Faculdade de Letras de Coimbra, Carlos Ascenso André, explica que a universidade oferece uma multiplicidade de cursos de Português, que se adaptam às necessidades dos alunos: de férias, intensivos, específicos (para determinados grupos profissionais, por exemplo) e anuais – os preferidos pelos alunos de cá.
Apesar do programa Erasmus ter trazido muitos estudantes europeus, é da China que vem a maioria dos frequentadores dos cursos de Português, seguidos dos japoneses, timorenses e sul-coreanos.
Confiante no potencial do Oriente no que toca ao português, Ascenso André salienta a importância da RAEM: “A posição geoestratégica de Macau permite-lhe ser o centro de um projecto de aprendizagem de português no Oriente”.
Intrigado com a capacidade de atracção de Coimbra – uma cidade relativamente pequena – o director da Faculdade de Letras sugere dois possíveis motivos: o prestígio da universidade e o ambiente da cidade estudantil. “O facto de Coimbra ser pequena e menos cosmopolita obriga os alunos a falar português”, diz Ascenso André. Além disso, o facto de os estudantes chineses ficarem alojados em casa de famílias portuguesas facilita a integração e a absorção da língua e costumes.
Acordo sem discussão
Numa altura em que o inglês ganha terreno como língua internacional e o espanhol se afirma como idioma a aprender no âmbito europeu, o português pode não surgir como uma escolha óbvia. Mas Carlos Ascenso André salienta que as línguas não estão “em guerra” e há espaço para todas. “Seria utópico e disparatado tentar entrar numa lógica concorrencial com o inglês e até com o próprio espanhol.”
“O modo como vejo o interesse da China em relação ao português tem que ver com uma coisa muito simples: é uma questão de cultura e de mercado,” diz. “O Brasil cresceu muito e tem um grande peso político e peso económico. O mundo sabe que logo que se resolvam os problemas internos de Angola e Moçambique, eles também se vão tornar grandes Estados no contexto africano. O que significa que quem estiver a olhar para o mundo numa escala de 20 anos, reconhece que o português é a língua oficial de um conjunto de países importantes na cena internacional e importantes do ponto de vista económico.”
Neste contexto, Portugal assume pouca importância, pelo menos a nível económico, mas Ascenso André relembra que “é o país-âncora de toda essa lusofonia” e que devemos “assumir com orgulho essa história”, desde que com “com sentido das proporções”.
Se a China tem demonstrado interesse no português, o mesmo não se pode dizer em sentido inverso – pelo menos não na mesma escala. O director da Faculdade de Letras de Coimbra admite que “os portugueses ainda não descobriram a importância estratégica do chinês”, apesar de existirem bastantes cursos livres nas universidades portuguesas. “Talvez pensemos que o inglês resolve os problemas todos, o que não é verdade.”
Em relação ao acordo ortográfico, tão polémico em Portugal, este especialista em literatura é taxativo: “Já não há lugar para discutir o acordo ortográfico. Agora tornou-se inútil: está legislado, está decidido. Portanto, há toda a vantagem em utilizá-lo o mais rapidamente possível. Se está decidido, vamos à prática.”
Sem comentários:
Enviar um comentário