(per)Seguidores

terça-feira, 19 de julho de 2011

Nós não somos os Estados Unidos, nem a Alemanha!

A frase proferida por Barack Obama – “Os Estados Unidos não são a Grécia ou Portugal” – não tem caráter pejorativo e representa uma comparação entre a crise que os norte-americanos enfrentam e as soluções que têm de adotar.
Ao contrário dos dois países europeus, os Estados Unidos da América dispensam “medidas radicais”. Obama justifica a crise da dívida pública com “descida de impostos, o envolvimento em duas guerras e a adoção de medidas de apoio a classes mais fragilizadas, que ainda não foram pagas”.
No entanto, apesar das diferenças gigantescas entre a crise grega e a portuguesa, em comparação com a dos EUA, há muitos pontos que se tocam, destacando-se decisões políticas do passado, que tiveram um preço e cuja fatura ainda não foi paga...
Eis o discurso de Obama:


O embaixador dos Estados Unidos em Portugal, Allan Katz, sublinhou que o governo norte-americano “aplaude as medidas” que estão a ser tomadas pelo governo português face a uma “situação difícil”.
O embaixador norte-americano fez uma declaração sobre as afirmações feitas pelo presidente dos Estados Unidos, a propósito da dívida do país, em que Obama advertiu que o “tempo urge” para aumentar o limite da dívida dos Estados Unidos e evitar o “fim do mundo” do incumprimento, mas ressalvou que os Estados Unidos “não estão nem na situação da Grécia nem de Portugal”.
Nenhum português, penso, gostou de ouvir a referência a Portugal feita pelo Presidente dos EUA, quando este disse que “Os Estados Unidos não são a Grécia ou Portugal”, associando-lhe logo um sentido pejorativo, que nem era necessário, já que ninguém tem dúvidas que os dois países competem em campeonatos diferentes e eles que fiquem com a taça…
No entanto, vários jornais e o próprio Embaixador em Portugal vieram desfazer a “má interpretação”, provavelmente por acreditarem que a iliteracia em Portugal é maior do que nos EUA e, quem sabe, com medo de que lhes declarássemos guerra…
Afinal, Obama só queria dizer que os americanos não seriam obrigados a medidas de austeridade que gregos e nós tivemos que adotar, por imposição de uns usurários, em idade de reforma, que se passeiam pelos salões da UE. Só que, deu-lhe uma branca e "esqueceu-se" da Irlanda com um custo de credit default swaps (cds, seguros financeiros contra o risco de incumprimento) já superior ao português (1217,23 pontos base contra 1213,16 pontos base) e com juros dos seus títulos a 2 anos (que já vão em 23,11%) e a 10 anos (que estão em 14,04%) acima dos das obrigações do Tesouro portuguesas. Será que foi por os irlandeses serem anglófonos?
E quando o embaixador americano sublinha que o seu governo aplaude as medidas “adotadas” por Portugal, mas que não serão aplicadas nos EUA, não está a dizer que são tão más para nós que não servem para eles (e ainda bem para o povo)?
Claro que para os países que estão na mesma situação de dívida, há só dois pontos em comum: um tem a ver com más decisões políticas do passado, o outro é não terem pago as faturas…
E do discurso, anotamos algumas diferenças entre os nossos dois países, elencados por Obama:
1 – Lá desceram os impostos (aos ricos) durante a última década;
2 – Lá implantaram um programa de subsídio de medicamentos para idosos (uma espécie de SNS);
3 – Lá envolveram-se em duas guerras (só?), mais a da Líbia e as que se seguirão;
4 – Lá tiveram uma recessão violenta, que requereu medidas de recuperação, despesas de estímulo financeiro (tipo BPN, multiplicado muiiiitas vezes) e auxílio aos Estados.
Só que, pelo ouvido, como nós e todos os países com dívidas, NÃO PAGARAM as faturas… E acumulando-se os juros, chegaram onde nós e os outros também chegamos.
Clarinho como a água (de outros tempos), é que a grande diferença entre os EUA e Portugal, no que se refere às suas dívidas, pelas diferenças territoriais, demográficas e económico-financeiras, a dos EUA poderá gerar o “fim do mundo” se eles não pagarem, mas se formos nós a não pagar e mesmo pagando, somos nós que sofremos no pelo, com as medidas que eles aplaudem, mas que não adotam…
Por muito que se especule sobre o bom, ou mau conceito que se pode extrair das palavras de Obama, uma coisa é certa, o “cão de água português” é tão bom, ou tão mau, como qualquer cidadão português…
No fundo, americanos, gregos, irlandeses, espanhóis, italianos, ou portugueses e mais os que surgirão SOMOS TODOS CALOTEIROS!

Sem comentários:

Enviar um comentário