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quarta-feira, 20 de julho de 2011

A nova MATRIZ CURRICULAR vem ajudar e muito!

Homem Vitruviano - de Leonardo da Vinci

Tem-se vindo a assistir, desde o início do século XXI, ao fim das humanidades em Portugal. Cada vez menos os alunos escolhem esta área de estudos no ensino secundário. Cada vez menos pretendem tirar uma licenciatura em línguas e literaturas ou em linguística, ou ainda em história ou filosofia. E cada vez menos se interessam pela “cultura” associada à sua língua, literatura, vivências do passado…
Também em certas licenciaturas, como Educação Básica, os docentes confrontam-se com a dificuldade crescente dos estudantes (futuros educadores e professores) em acompanhar os programas de unidades curriculares como cultura portuguesa, literaturas lusófonas, linguística, história.
A que se deve este desinvestimento e este desinteresse (quase repúdio) pelas humanidades?
Em primeiro lugar, pelas várias ideias estereotipadas que se foram criando (e confirmando, de certa forma) de que as humanidades, por si só, não dão emprego a ninguém. Em segundo lugar, pelo sentimento de “perda de tempo” no trabalho gasto com um romance, um ensaio, uma antologia de poemas, um achado arqueológico, um facto linguístico, uma forma diferente de ver o mundo. Finalmente, pelo enorme prestígio social que certas profissões hoje em dia têm, como a de médico (porque escasseiam) ou a de gestor de uma multinacional (porque ganham muito), que contrastam, e bastante, com a de historiador ou a de professor, por exemplo.
Posto isso, percebe-se que a sociedade vá matando as humanidades. Deixou de lhes dar importância, ao não exigir dos que educa, desde o básico, um trabalho de “corpo a corpo” com certos textos de referência sociocultural e literária, considerados “muito difíceis”, “muito puxados”, “muito estranhos” à geração da Playstation e dos Morangos com Açúcar. E aceitou passivamente que a roda económica chamada euro, uma espécie de pesa-papéis calcador das humanidades, marcasse a velocidade da existência.
Postas as humanidades nas prateleiras das bibliotecas mais antigas, dá-se o início inevitável de uma crise humanitária. Sem a leitura, sem a reflexão, sem o pensamento associado ao que fomos, para onde vamos, quem somos, o que queremos, o que é a paz, a guerra, o amor, a vontade, a esperança… transformamo-nos em autómatos. Isto é, desprezando o conhecimento histórico, filosófico, literário, social, o homem deixa de ser criativo, deixa de ser empreendedor, deixa de querer ser independente do Estado, deixa de ser solidário, deixa de conhecer o mundo onde vive, deixa de pensar, deixa de ser competente a ler o que os outros escrevem, a ouvir o que os outros lhe dizem, a escrever as suas opiniões…
Deixa de se amar a si, deixa de amar os outros… deixa de ser homem.
Inês Silva - Doutora em Linguística (Sociolinguística). Professora Adjunta convidada na Escola Superior de Educação de Santarém. Tem realizado estudos sobre a escrita dos alunos. É autora de várias publicações de caráter didático e de caráter linguístico. Na ficção, publicou o romance: A Casa das Heras.

6 comentários:

  1. Pois é! Deixa-se de ser gente (que pensa, ama, desespera, chora, luta, reinventa o futuro)e passa-se a ser máquina (mero factor de produção e de consumo) à mercê dos espertos que controlam e exploram.
    Vou levar.

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  2. Ai se os alunos tivessem lido este texto, que excelente nota teriam tido no tema de cultura geral que versava a importância da leitura e da literatura!

    IBEL

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  3. Elisabete
    Já podia ter dito que tem dois blogues, para eu colocar na minha lista, porque eu gosto de quem gosta de mim. Agora já está e pode levar sempre o que quiser, que isto é a feira franca...
    Pois é! A Educação hoje, é um processo de formatação de gente, preparada para trabalhar para pagar a dívida e calar, por nem saber pensar.

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  4. Anónima Ibel
    Os exames e as datas dos mesmos também fazem parte do que se chama de "circunstâncias"...

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  5. tristes...nem sabem o que perdem!
    abreijo, Miguel, de mim que sou de Humanidades...

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  6. Ema
    E eu que sou de Artes de Humanidades.
    Sabes que no Seminário (onde andei) o curso chamava-se mesmo de Humanidades.

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