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sábado, 30 de julho de 2011

EDUCAÇÃO: um produto de consumo, ou um serviço para a cidadania?

Se não há uma boa base educativa, uma boa metodologia, que some aos conhecimentos que já existem, não haverá mudança, não haverá educação integral, será impossível ter em conta o ser humano na sua totalidade” (César Muñoz Jimenez, em entrevista a ZH 03/04/11).
Estamos na aurora de um tempo em que, no afã de indicar culpados para os problemas da sociedade, alguns são tentados a usar argumentos simplificados e pouco consistentes, maculando as verdadeiras razões para explicar a realidade como ela é. A velocidade dos avanços tecnológicos e científicos e nem a volta aos “velhos métodos” servem de bases de resolução dos nossos problemas humanos atuais. Os mais sóbrios e experientes já aprenderam que para problemas complexos, como da educação (brasileira), não existem soluções simples e de fácil aplicação, ou de aplicação generalizada.
O objeto da educação são as pessoas, por isso a complexidade de tratar, ao mesmo tempo, habilidades como a leitura e compreensão dos contextos e a construção de conceitos com a necessidade da integração dos sujeitos a partir da família, da escola e da comunidade. Este processo é sempre lento, gradual, com princípios que conduzam à realização humana, o que ultrapassa a dimensão mecânica do processo de ensino-aprendizagem.
Os avanços das ideias progressistas (no Brasil) estão associados aos processos de conquista da liberdade, da organização e da democracia (a partir da Constituição Federal de 1988). Neste contexto, estão imbricados as inúmeras conquistas sociais que se materializaram em políticas públicas de saúde, educação, trabalho, moradia, assistência social, proteção às crianças e adolescentes, de inclusão, etc. Desta “caldeira política cultural” emergiram as teorias e compreensões progressistas da educação que foram afirmando a necessidade de construirmos os próprios sujeitos do conhecimento. Igualmente verdadeiro, podendo-se comprovar, as suas proposições estão imprimindo algumas mudanças na gestão da educação, o que não quer dizer que resolveram todos os seus problemas, o que também não era a sua intenção.
As “maiores culpas” que podemos atribuir aos progressistas é que estes conquistaram, junto com o povo (brasileiro), a garantia do acesso às escolas públicas. Finalmente, a escola passa a ser um lugar também considerado pelo povo, pela maioria pobre e desvalida, pelos filhos dos trabalhadores. Outra questão, igualmente nobre de “culpa”, é a contundente teimosia de associar “educação pública com qualidade”: pedagógica, de gestão e de conhecimento. Mas o Estado fez os investimentos públicos necessários para dar conta das novas demandas criadas, seja na qualificação dos espaços físicos, seja em investimentos na gestão escolar e na qualificação profissional dos docentes? Tratou a educação com prioridade?
A nossa escola pública, que se inspira sim em ideais progressistas, é uma escola que seguiu um modelo de educação centrada na lógica da abstração, da memória, do intelecto, sem considerar, de forma consistente, a realidade concreta em que vivem os sujeitos do conhecimento. Sem perceber a gravidade, deixou de trabalhar as dimensões cognitivas de caráter prático como as artes, as técnicas agrícolas, o trabalho com madeira, as atividades domésticas e de culinária, as hortas escolares. Foi tendo dificuldades de incorporar os elementos das novas gerações como a fantasia, a criatividade e a imaginação. Estas sim, razões para uma revisão de propósitos.
O maior risco, neste contexto, é a educação virar mais um produto de consumo, não um serviço e uma política de inclusão, com cidadania. Os progressistas desejam uma educação contextualizada, acreditando que a vida pode ser melhor a partir de oportunidades, do conhecimento e da cidadania ativa. A formação integral, sua bandeira, compreende o ser humano na sua totalidade, investiga as reais necessidades dos sujeitos para então intervir pedagogicamente, desencadeando os processos de aprendizagem.
Nei Alberto Pies, Professor e Ativista de Direitos Humanos

2 comentários:

  1. gostei muito mudou um pouco minha visao

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    1. cleiton
      Ainda bem que mudou, espero que para melhor. O pior é que este conceito de Educação está a ser destruído nos países onde se implementou, por razões ditas economicistas, mas que são de caráter político (neoliberal).
      Abraço e volte sempre

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