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terça-feira, 5 de agosto de 2014

As ondas do mar Salgado nas Costas dos “homens do leme”…

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal
11 de Julho - "O BES detém um montante de capital suficiente para acomodar eventuais impactos negativos decorrentes da exposição assumida perante o ramo não financeiro do Grupo Espírito Santo." 
3 de Agosto - "O novo banco continuará a assegurar actividade até aqui desenvolvida pelo BES e suas filiais em Portugal e no estrangeiro. Do ponto de vista dos clientes do BES e filiais, esta transferência em nada afecta a relação com banco." (…) "Fica completamente e inequivocamente afastada uma hipótese de haver perdas para os seus depositantes." 
3 de Agosto - "Nos últimos dias houve um rápido e significativo agravamento da situação do BES […] a evidência de falhas de controlo e actos de gestão danosa agravou a incerteza em relação ao seu balanço, inviabilizando uma recapitalização privada num curto espaço de tempo".
Ou seja, o Governador do BdP foi enganado pela Administração do BES e pelo auditor, mesmo fazendo uma supervisão apertada há um ano e deixou, durante 15 dias, o ouro à guarda do bandido.
E informou outros “homens do leme” de que o mar estava calmo e havia peixe para saciar as necessidades dos “consumidores”…
Passos Coelho, primeiro-ministro
11 de Julho - "Não há nenhuma razão que aponte para que haja uma necessidade de intervenção do Estado" (…) "Os contribuintes portugueses não serão chamados a suportar perdas privadas […] O Estado não intervém para, por exemplo, minimizar as perdas que possam estar associadas a maus investimentos, a más decisões, a maus projectos, a intenções que se revelam enviesadas face àquilo que são as regras de mercado". 
4 de Agosto - "O que é necessário hoje é passar uma mensagem de tranquilidade quanto à solução adoptada. Ela respeita o quadro legal, pelo que o Governo não deixou de a apoiar e é aquela que oferece seguramente melhores garantias que os portugueses não serão chamados a suportar as perdas".
Ou seja, foi informado de que, apesar das evidências, tudo estava tão bem, que até o bandido podia tomar conta do ouro, não se correndo o risco de serem de novo os contribuintes a pagar as fraudes dos artistas da banca…
Azar, ao fim de 15 dias, foi preciso ir ao empréstimo da troika, pago pelos contribuintes, sendo chamados a continuar a suportar perdas privadas, com dinheiro público…
Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças
17 de Julho -  "Não estamos a preparar a recapitalização do BES. Não temos nenhuma informação que uma recapitalização pública seja necessária." 
3 de Agosto - "Os contribuintes não terão de suportar os custos relacionados com a decisão tomada hoje." 
Ou seja, pelo que se depreende pela data da afirmação, o Governador do BdP não informou a ministra das Finanças do desvio do ouro guardado pelo bandido, pelo que não haveria necessidade de dinheiro público para as fraudes dos privados…
Tendo em conta que os contribuintes já estão a pagar a fatia do empréstimo da troika destinada aos bancos, até se pode dizer que não terão de suportar mais custos relacionados com a decisão do Novo Banco…
Cavaco Silva, Presidente da República
21 de Julho - "O Banco de Portugal tem sido categórico a afirmar que os portugueses podem confiar no BES, dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem na parte não-financeira, mesmo na situação mais adversa." 
Ou seja, mesmo tendo em conta a data da afirmação, depois dos 15 dias em que o ouro esteve à guarda do bandido, o governador do BdP continuou a dizer ao Presidente da República, que havia folgas para as fugas…
Desta vez, excecionalmente, o Presidente da República não teve oportunidade de dizer: Eu avisei!
António José Seguro, secretário-geral do PS
9 de Julho - "Os esclarecimentos que obtive por parte do governador do Banco de Portugal são no sentido de diminuir as minhas preocupações". 
30 de Julho - "Manifesto a minha grande preocupação com os números divulgados hoje. Porque não eram estas as informações que eu tinha, nem eram estas as informações, nomeadamente pelo Governador do Banco de Portugal. Os portugueses não podem ter mais surpresas negativas provenientes do sistema financeiro e do sistema bancário português". 
2 de Agosto - "[O BES] não pode transformar-se num novo BPN. Isso tem de ficar muito claro porque é altura de os privados, em particular de os accionistas, assumirem as responsabilidades da sua decisão. Não se pode pedir aos contribuintes portugueses que assumam responsabilidades de más decisões ou alegadas irregularidades, segundo aquilo que tem vindo a público." 
Ou seja, mesmo sendo o único que nada tem a ver com a novela, a não ser ter pedido informações ao Governador do BdP, que o tranquilizou, foi o primeiro e único a dizer que foi enganado pelo Governador do BdP…
Vítor Bento, presidente do Novo Banco
3 de Agosto - "Tenho o prazer de ter sido nomeado para liderar o Novo Banco. Para os nossos clientes e colaboradores apenas uma coisa mudou - o seu banco está agora mais forte e seguro que antes. As incertezas que ameaçavam a instituição nos últimos tempos foram afastadas." 
Ou seja, toda a competência apregoada e o historial de análises sobre a banca e as medidas governamentais, nada resolveu e aceitou presidir a um Novo Banco, limpinho, limpinho, com o dinheiro da troika, que os contribuintes estão a pagar, injustamente e com austeridade e dramas, há 3 anos…
A ministra de Estado e das Finanças, Maria Luís Albuquerque, explicou que este empréstimo vai ser feito a uma taxa de 2,95%, sendo que este juro corresponde ao custo que o Estado paga atualmente pelos 6.400 milhões que sobram do dinheiro da 'troika' reservado ao setor bancário (2,8%) a que se somam 1,5% para custos administrativos. De acordo com a governante, o custo deste empréstimo vai aumentar a cada 3 meses em 0,5%.
Questionada sobre se a taxa não seria muito baixa, Maria Luís Albuquerque afirmou apenas que "este empréstimo não tem risco".
Ou seja, em vez de se emprestar dinheiro à mesma taxa de juro às empresas, que criam riqueza e impostos, “empresta-se” à banca e afirma-se que "este empréstimo não tem risco", mesmo tendo presente todas as fraudes de banqueiros no próximo passado…
Banco Espírito Santo Angola
19 de Julho - O presidente angolano assinou, pelo seu próprio punho, a garantia soberana de  cerca de 4.200 milhões de euros ao Banco Espírito Santo Angola (BESA), para proteger o BES.
4 de Agosto - O Governador do Banco Nacional de Angola (BNA) afirmou que com as “medidas de saneamento extraordinário” que a instituição aplicou ao Banco Espírito Santo Angola (BESA) “será revogada” a Garantia Soberana emitida pelo Estado angolano.
Ou seja, para “colonizar” o colonizador, havia quanzas, para serem de novo “colonizados”, mandou o ex-colonizador pedir para outra freguesia…
Entretanto, os bandidos estão em parte (in)certa, impávidos e serenos, à espera de poderem falar…
Vai ser o mau e o feio!

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