A entidade máxima do futebol precisa por
os pés no chão e fazer com que a Copa do Mundo volte a ser o que era: apenas um
evento esportivo.
Astrid Prange
Finalmente a Copa vai começar! E,
quando a bola rolar, todas as preocupações em torno da organização do
espetáculo desportivo no Brasil serão coisa do passado, é o que esperam muitos
aficcionados pelo futebol. O que interessa são os golos, e o orgulho nacional
dos torcedores cresce a cada vitória das suas seleções.
Mas essa expectativa será cumprida
apenas em parte. Pois essa Copa mudou o Brasil antes mesmo do apito inicial. E
também vai mudar a FIFA. A disposição de sediar uma Copa do Mundo dentro do "padrão FIFA" diminuiu muito,
em todo o mundo, depois dos protestos no Brasil. Justamente no país do futebol,
o padrão FIFA chegou aos seus limites, e é bom que seja assim.
O Brasil questionou o modelo de
negócios da FIFA. Como é possível, indagaram muitos dos 200 milhões de
brasileiros, que a Constituição e a legislação do país sejam parcialmente
suspensas por causa de uma Copa do Mundo? Que uma lei especial aprovada às
pressas suspenda a proibição da venda de álcool nos estádios? Como é possível
que, para patrocinadores e dirigentes, existam leis diferentes daquelas válidas
para a população? E que uma federação desportiva e os seus parceiros fechem contratos
à custa do bem coletivo e restrinjam a liberdade de circulação de milhões de
pessoas?
A população brasileira questionou tudo
isso. E a mensagem chegou ao governo. A presidente Dilma Rousseff não se cansa
de salientar que os gastos com educação e saúde aumentaram, apesar ou
justamente por causa da Copa do Mundo.
Também entre algumas federações que
fazem parte da FIFA, especialmente a UEFA, cresce a opinião de que,
politicamente, megagastos em megaeventos são cada vez mais difíceis de serem
justificados. Especialmente quando custos e lucros são distribuídos de forma
desigual, como agora no Brasil.
Uma Copa do Mundo não é uma cúpula de
chefes de Estado nem uma missão de paz das Nações Unidas. A FIFA deveria pôr um
fim à sua ascensão política e comercial e pôr os pés no chão, deveria lembrar-se
da sua tarefa original e simplesmente realizar um torneio desportivo em cada 4
anos. Os estádios de uma Copa não dependem de sala VIP ou de poltronas
confortáveis para que neles seja jogado um futebol de nível mundial. Um
presidente da FIFA não é um chefe de governo ou de Estado e, portanto, não tem
direito a um tratamento destinado a visitas oficiais.
A população brasileira obrigou a
aparentemente toda-poderosa FIFA e os seus parceiros a reconhecer esses factos.
Os protestos da população acordaram os senhores do futebol do seu sono
bilionário de Bela Adormecida. No futuro, para ser bem-sucedida, uma Copa
deverá ajustar-se às necessidades do respetivo país anfitrião, e não só às
exigências da FIFA. Esta também terá de rever o seu processo de escolha para as
futuras sedes do evento. Certamente tudo isto não prejudicará a qualidade do futebol.
E a Copa do Mundo pode começar. Finalmente!
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