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sábado, 14 de junho de 2014

Um desafio em que o povo quer ser o árbitro…

A entidade máxima do futebol precisa por os pés no chão e fazer com que a Copa do Mundo volte a ser o que era: apenas um evento esportivo.
Astrid Prange
Finalmente a Copa vai começar! E, quando a bola rolar, todas as preocupações em torno da organização do espetáculo desportivo no Brasil serão coisa do passado, é o que esperam muitos aficcionados pelo futebol. O que interessa são os golos, e o orgulho nacional dos torcedores cresce a cada vitória das suas seleções.
Mas essa expectativa será cumprida apenas em parte. Pois essa Copa mudou o Brasil antes mesmo do apito inicial. E também vai mudar a FIFA. A disposição de sediar uma Copa do Mundo dentro do "padrão FIFA" diminuiu muito, em todo o mundo, depois dos protestos no Brasil. Justamente no país do futebol, o padrão FIFA chegou aos seus limites, e é bom que seja assim.
O Brasil questionou o modelo de negócios da FIFA. Como é possível, indagaram muitos dos 200 milhões de brasileiros, que a Constituição e a legislação do país sejam parcialmente suspensas por causa de uma Copa do Mundo? Que uma lei especial aprovada às pressas suspenda a proibição da venda de álcool nos estádios? Como é possível que, para patrocinadores e dirigentes, existam leis diferentes daquelas válidas para a população? E que uma federação desportiva e os seus parceiros fechem contratos à custa do bem coletivo e restrinjam a liberdade de circulação de milhões de pessoas?
A população brasileira questionou tudo isso. E a mensagem chegou ao governo. A presidente Dilma Rousseff não se cansa de salientar que os gastos com educação e saúde aumentaram, apesar ou justamente por causa da Copa do Mundo.
Também entre algumas federações que fazem parte da FIFA, especialmente a UEFA, cresce a opinião de que, politicamente, megagastos em megaeventos são cada vez mais difíceis de serem justificados. Especialmente quando custos e lucros são distribuídos de forma desigual, como agora no Brasil.
Uma Copa do Mundo não é uma cúpula de chefes de Estado nem uma missão de paz das Nações Unidas. A FIFA deveria pôr um fim à sua ascensão política e comercial e pôr os pés no chão, deveria lembrar-se da sua tarefa original e simplesmente realizar um torneio desportivo em cada 4 anos. Os estádios de uma Copa não dependem de sala VIP ou de poltronas confortáveis para que neles seja jogado um futebol de nível mundial. Um presidente da FIFA não é um chefe de governo ou de Estado e, portanto, não tem direito a um tratamento destinado a visitas oficiais.
A população brasileira obrigou a aparentemente toda-poderosa FIFA e os seus parceiros a reconhecer esses factos. Os protestos da população acordaram os senhores do futebol do seu sono bilionário de Bela Adormecida. No futuro, para ser bem-sucedida, uma Copa deverá ajustar-se às necessidades do respetivo país anfitrião, e não só às exigências da FIFA. Esta também terá de rever o seu processo de escolha para as futuras sedes do evento. Certamente tudo isto não prejudicará a qualidade do futebol. E a Copa do Mundo pode começar. Finalmente!

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