A pergunta mais frequente das 250.000
pessoas inscritas no meu curso de liderança online
é "Como posso lidar com o meu chefe
que, além de dissonante, é bastante negativo?" Esses chefes são "dissonantes" no sentido em
que perderam o contacto consigo mesmos, com os outros e com o que os rodeia - e
isso não é nada de novo. Dão a impressão de negativos, centrados em si mesmos,
unicamente preocupados com números, e os empregados sentem-se tratados como
recursos ou propriedades, e não como seres humanos.
Richard E. Boyatzis
Até um líder ou gestor eficaz pode
tornar-se dissonante (i.e. perder contacto com os outros, os clientes, o
ambiente) ao longo do tempo. Normalmente, isso deve-se a serem demasiado
analíticos. Concentram-se em métricas, números e análise de problemas. Ao
fazê-lo, incentivam demasiado um circuito neural chamado "rede positiva da tarefa" que é útil para a concentração,
a resolução de problemas e a tomada de decisões. Sabemos, da neurociência, que
a ativação frequente desta rede suprime a "rede
neural em modo padrão", que é fundamental para estar aberto a ideias
novas, às pessoas e a preocupações morais. As pessoas com uma rede neural em
modo padrão suprimida têm dificuldade em ver o que as rodeia. Por vezes, um
chefe é dissonante por ser uma pessoa negativa ou egocêntrica, ou apenas
assustada e defensiva. Nada disto desculpa os seus comportamentos inadequados,
mas ajuda-nos a compreender porque sofrem de uma síndrome em que o stresse
crónico ou o estar à defesa destruiu a sua capacidade de se renovarem e serem
corteses, agradáveis e quase sempre muito mais eficazes.
Que fazer, então, se o seu chefe caiu
nesta armadilha? Antes de mais, reconheça que esses chefes se estão a diminuir
a si mesmos e à sua capacidade de liderar os outros eficazmente. Podem cumprir
tarefas conhecidas, sobretudo de rotina, mas este estilo tem como retorno um
menor índice de inovação, níveis mais baixos de empenho dos empregados e,
frequentemente, fraco desempenho das equipas.
Em segundo lugar, é fundamental falar
com um chefe destes. Veja se uma conversa franca pode ajudá-lo a entrar naquilo
a que eu e os meus colegas chamamos Processo de Renovação. Durante um café,
almoço ou jantar, peça-lhe que visualize um futuro desejado, colocando-lhe
perguntas como: "Como poderia ser
esta organização dentro de 10-15 anos, se tudo fosse ideal?" Pode
fazê-lo perguntando-lhe qual é o propósito central da organização, ou mesmo a
sua visão nobre. "Qual é o nosso
objetivo?" Não pergunte, "como
estamos?", mas "por que
razão existimos e como servimos a nossa organização e a sociedade?"
Por vezes, podemos chegar ao mesmo resultado se fizermos perguntas acerca de
valores e virtudes fundamentais: "Se
estivéssemos a ser consistentes com os nossos valores, como devíamos agir um
com o outro? Com os nossos clientes/vendedores, comunidade?"
Do ponto de vista da neurociência, tudo
isto estimulará o Sistema Nervoso Parassimpático, ativando o modo padrão, que é
o estado em que o nosso corpo se pode reconstruir e a única maneira de
recuperar do stresse. Sei que estará a pensar que não deve ser o terapeuta do
seu chefe, o que é verdade. Mas pode ser um amigo ou conselheiro valioso, mesmo
para o seu chefe.
Lembre-se de que ele não iniciou um
percurso de negatividade da noite para o dia. Reverter este processo demorará
ainda mais tempo. Porém, conversas breves acerca de temas positivos podem,
parafraseando a ‘Guerra das Estrelas’, "trazê-lo
para o lado luminoso da força". A minha experiência indica que esta
abordagem resulta 20-30% das vezes. E quando resulta, terá reconstruído uma
relação positiva com o seu chefe e tê-lo-á ajudado a ser novamente um líder
eficaz.
Se não resultar, tente a 3.ª opção:
talvez possa arranjar ajuda para o seu chefe. Pergunte-lhe se tem um "coach" ou um conselheiro de
confiança. Com quem fala quando precisa de conselhos ou ajuda? Fale com alguém
dos RH, que seja mais velho e refletido, sobre a possibilidade de ajudar o seu
chefe.
Se nada parecer ajudar, a 4.ª opção é
proteger-se a si próprio e à sua sanidade. Melhore e aumente a frequência de
atividades de renovação positiva na sua vida pessoal e no dia de trabalho
(i.e., meditação, ioga, oração, ajudar os outros, gracejar, sentir esperança no
futuro). A sua missão é proteger-se a si mesmo, assim como ao seu pessoal e à
sua unidade organizacional. Isto, porém, pode ser extremamente cansativo e
esgotante. E, embora de início talvez não veja as consequências, a sua família
pode começar a senti-las. E o trabalho pode tornar-se apenas isso - trabalho -
e não o desafio estimulante e divertido que costumava ser.
Isto conduz a uma opção final - ir-se
embora! Chega uma altura em que tem de proteger a sua criatividade e espírito e
encontrar outra coisa para fazer ou outro sítio onde fazê-la. Porque a vida é
demasiado curta para ser desperdiçada a lidar com um chefe sem contacto com a
realidade.
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