Defendem os mais fracos dos poderosos e corruptos. Denunciam o que o povo quer ouvir e assumem as dores dos oprimidos. Querem retirar aos ricos para distribuir pelos mais pobres, mas já não atacam de arco e flecha. Em vez disso, utilizam as televisões como armas poderosas. Itália, Espanha e também Portugal têm a partir de agora os novos Robins dos Bosques.
João Adelino Faria
Começaram por surgir como uma espécie de loucos sem papas na língua e não receberam qualquer atenção dos partidos. Falavam muito alto, eram o mais politicamente incorretos e nunca, mas nunca mesmo, mostravam medo ou pudor ao enfrentar os poderosos. Tanto barulho fizeram, que se tornaram cobiçados e disputados pelos media. Passaram a ser os protagonistas que as televisões procuravam desesperadamente, para quebrar o cinzentismo da política. Transformaram-se rapidamente em selo de garantia de audiências. Pouco a pouco, graças à televisão, passaram a ser conhecidos e queridos por grande parte da população. Os políticos continuavam a ignorá-los e até a olhá-los quase com desprezo. Fizeram mal e hoje estão seguramente arrependidos. Graças a estes aventureiros mediáticos, o xadrez político de vários países está agora baralhado e as lideranças do PS e do PSOE foram postas em causa.
Até há bem pouco tempo os nomes de Beppe Grillo, Pablo Iglesias ou Marinho Pinto pouco ou nada significavam internacionalmente. Em pouco tempo transformaram-se em fenómenos de popularidade, conquistaram vitórias políticas e tornaram-se incontornáveis em toda a Europa.
Dos 3, o fenómeno mais impressionante chega de Espanha. Um jovem professor universitário de 35 anos fundou um movimento e em 3 meses conquistou 1.200.000 de votos e 5 eurodeputados. O segredo de Pablo Iglesias? Saber comunicar de forma diferente de todos os outros políticos. A rádio e a televisão utilizaram-no para fazer audiências e ele utilizou os media para fazer tremer o sistema partidário espanhol. Em Itália, Beppe Grillo adoptou o mesmo método, mas vestido de excentricidade.
Em Portugal, o fenómeno chama-se Marinho Pinto. Sem meios e num partido sem expressão eleitoral, em 15 dias conseguiu dividir a esquerda e eleger 2 eurodeputados. Não porque tenha uma ideologia ou um programa eleitoral inovador. Apenas porque ao longo dos últimos anos se tornou na figura mais polémica e sem medo nas televisões portuguesas. Talvez involuntariamente foi Manuela Moura Guedes quem lhe deu mais projeção através da famosa entrevista do Jornal Nacional. A partir daí tornou-se imparável. Mesmo quando perdeu o protagonismo como Bastonário da Ordem dos Advogados não perdeu o ecrã. Na RTP Informação conseguiu tornar um programa de Justiça quase tão popular como os debates do futebol.
Depois de tantas semanas a pregar no deserto, Marinho Pinto é a prova de que ser polémico na televisão compensa. De tal forma que agora até já sonha com a Presidência da República. Chamem-lhe louco, chamem!
O mesmo se aplica a todos os políticos “comentadores”, que ganham mérito nos respetivos partidos através da mediatização e popularidade junto dos eleitores. Só com uma diferença, enquanto os “populistas” defendem, valores, os seus e nossos valores, os partidários defendem os interessas dos seus correligionários, que um a um, são os elos que formam a cadeia de interesses que nos manipula e manieta…
Já dizia Emídio Rangel, que era tão fácil vender políticos em TV como se vendem sabonetes. Lembremo-nos de Marcelo, Santana Lopes, Sócrates, Marques Mendes e António Costa (entre tantos outros, que chegaram ao que chegaram, não pelo valor das suas intervenções e diagnósticos, mas por nos entrarem pela casa adentro, pelos ouvidos e pelos olhos, até se alojarem na memória…E se os populistas defendem os mais pobres, os outros não defendem os mais ricos?
E por isso começou a caça aos Robins dos Bosques?
Vivam os populistas!
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