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sábado, 7 de junho de 2014

E são estes “Brutus” que já foram governo, que são e que serão

Quando queremos uma resposta urgente, eles não atendem. Quando precisamos de esclarecer uma questão incómoda, fogem. Quando precisamos deles para um debate complicado, esperam pelo convite mais conveniente. Mas assim que se anuncia uma batalha política pelo poder, tudo muda. Já não somos nós que telefonamos, são eles que agora fazem fila... para falar.
João Adelino Faria
Quando se sentem ameaçados ou querem conquistar o poder, há uma espécie de febre que atinge quase hemorragicamente todos os políticos. A atual batalha pela liderança socialista é um bom exemplo disso. Nos últimos dias temos assistido a uma incontinência verbal que só vai terminar quando um dos adversários cair trucidado. Os jornais e as televisões passaram a ser o ringue de batalha por excelência e a contagem de espingardas faz-se em público. As declarações e os insultos são as munições certeiras. Quem mais disparar (desculpem... falar) ganha!
Ao que assistimos agora no PS já assistimos no PSD e na quase generalidade dos partidos. Nas batalhas pelas lideranças já não se comparam projetos, ideologias, visões, estratégias. Agora corre-se para o Twitter, Facebook e blogues para ver quem ataca mais, melhor e mais rápido. Estamos na época da declaração instantânea e certeira para ferir de morte o adversário. Amigos e antigos camaradas rapidamente passam a inimigos, tentam justificar o injustificável e as traições cozinham-se abertamente sem qualquer pudor na praça pública.
O problema não é só dos políticos. É também, e muito, de quem os publica vertiginosamente desta forma e de quem os escuta e lê ansiosamente. Leia-se jornalistas e público. Estamos no tempo do imediatismo e do efémero. Os jornais e as televisões mais parecem caixas-de-ressonância de tweets. Sucedem-se declarações atrás de declarações, comentário atrás de comentário, mas sempre quanto mais curtos e azedos melhor. É isso que hoje dá audiência, é isso que hoje vende jornais. Não sejamos hipócritas. Somos todos cúmplices nesta situação porque ela é o espelho da sociedade em que vivemos.
Deixámos de refletir, de educar, de ensinar, de tentar compreender para fazer melhor. Parece que não temos tempo nem na política, nem no jornalismo, nem nas nossas vidas para pensar. Apenas queremos fazer e consumir, numa espécie de voragem viciante.
Quantas pessoas nos últimos tempos, na política ou no jornalismo, fizeram uma reflexão madura e séria sobre o que está a acontecer e o que pode acontecer aos partidos e ao país? Não precisamos de filósofos! Precisamos de pessoas como as que em outras épocas refletiam, discutiam ideologias, combatiam por ideais. Não quero ser nostálgico nem quero ter de recorrer à RTP Memória para ver e rever o debate entre Soares e Cunhal. Necessitamos de política e de jornalismo mais reflexivo e de baixa cozedura. Algo que demore a fazer mas que no final saiba melhor e não nos cause indigestão.
Somos capazes e sabemos como o fazer. Ser moderno não é utilizar corretamente e eficazmente o Twitter ou dar bons soundbites. Ser moderno é ter coragem de pensar, discutir e falar acertadamente.

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