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domingo, 11 de maio de 2014

Ter opinião sem ter a informação não é “partidarite”?

Um dos livros mais vendidos nos  EUA no último mês foi um calhamaço com 696 páginas, muitas delas debruçadas sobre as dificuldades com as estatísticas do rendimento e a importância de estimar a elasticidade de substituição entre factores de produção. De onde vem o sucesso do "Capital no século XXI" de Thomas Piketty?
Se o livro tem pontos fortes e fracos, porque é que tem tido tanto sucesso? Porque toca numa das grandes feridas que se abriu nos últimos 20 ou 30 anos: a desigualdade e o que fazer acerca dela.
Um resumo da obra…
Thomas Piketty é a nova estrela da economia mundial. Para o bem e para o mal, o livro do economista francês tem sido, à esquerda, aclamado como inovador ou, à direita, acusado de ser muito ideológico.
Em Portugal, apesar de o livro ainda não ter sido traduzido para português, a discussão sobre o “Capital no século XXI” (do francês Le capital au 21 siècle) já chegou ao meio académico e político.
4 economistas portugueses - da esquerda à direita, todos com passagem pelo mundo da política e por cargos executivos e legislativos – deram a sua opinião sobre o livro.
Francisco Louçã revela que já leu o livro e aconselha a sua leitura. Classifica-o de “interessantíssimo” e considera mesmo que é “um dos melhores contributos para o conhecimento do capitalismo moderno.” “O fundamental do livro é, de facto, o estudo sobre a desigualdade, sobre a forma como tem crescido devastadoramente nos últimos anos”, afirma o antigo coordenador do BE.
Jorge Braga de Macedo admite, por seu turno, que gostou do livro, e aconselha a sua compra “mesmo que não se leia ‘de fio a pavio’ as 700 e tal páginas". “Gostei. Tal como Das Kapital, é um livro monumental - que se compra mais do que se lê”, opina o antigo ministro das Finanças (e militante do PSD). “Esta semelhança vai para além do título: a diferença é que Marx publica um livro focado no século XIX em 1867, ao passo que Piketty parece querer domar um século com pouco mais de uma década”, analisa.
O livro centra-se na temática da desigualdade, uma área que interessa ao deputado do PS João Galamba, que recebeu o livro recentemente e vai começar a lê-lo em breve. “Embora existam outros autores que abordem a desigualdade, este livro parece-me ser inovador pela abrangência, pela metodologia e, sobretudo, pelo impacto que teve, o que também é uma motivação extra para o ler”, disse.
Apesar de não o ter lido, a referência do livro na revista The Economist, despertou a atenção de Miguel Cadilhe. “Um dia destes vou ver se o compro apenas por curiosidade. A interpretação que ele faz da crise atual a crise financeira é que é capaz de me interessar muito”. O antigo ministro das Finanças (e militante do PSD) sublinha que, apesar de estar situado num campo ideológico oposto ao do autor, elogia a “coragem” do autor ao pegar nas “teses marxistas” e de “pô-las nos dias de hoje”.
Um dos pontos que tem levantado mais polémica no livro é a criação de uma taxa sobre a riqueza de forma a redistribuir o rendimento de forma mais igualitária pela sociedade. “Ele reforça muito a ideia, que eu tantas vezes defendi, de um imposto sobre as grandes fortunas, esta é a grande proposta do livro”, elogia Francisco Louçã.
Para Braga de Macedo, esta ideia é “totalmente implausível”. O economista salienta que a taxa "tem sido muito criticada por  ignorar as distorções da tributação demasiadamente elevada e a dificuldade em identificar a matéria coletável de um imposto sobre a riqueza”.
O livro tem sido criticado à direita pela forma como trata a questão da desigualdade.
Para João Galamba, a "economia ortodoxa e o mainstream económico considera que não cabe à economia analisar fenómenos de concentração de riqueza e de aumento das desigualdades”. “No fundo, o Piketty está a dizer é que há um buraco negro na ciência económica tradicional. Portanto, é natural que haja reações críticas a quem se sente diretamente visado por esse argumento do Piketty”, aponta.
Apesar de elogiar o livro, Francisco Louçã não deixa de fazer um reparo sobre a forma como os "conceitos tradicionais" de riqueza são abordados no livro, onde o conceito de capital engloba uma  "mistura de propriedades mobiliárias com poupanças, outros títulos de propriedade", analisa o professor do ISEG. "Eu utilizaria uma definição mais restrita de capital, como o que está diretamente vinculado à capacidade de produzir valor acrescentado, digamos à estrutura produtiva de realização de valor".
Braga de Macedo considera que este é "um livro de combate" e que Piketty elegeu o seu inimigo, à semelhança de Marx. "Ao referir que retirou da sua experiencia de ensino numa ‘universidade de Boston’ mais admiração pelos cientistas sociais europeus do que pelos economistas americanos, define o inimigo como Marx fizera no seu Anti-Duhring mas aqui o título implícito seria Anti-Samuelson, criador da economia moderna no MIT", salienta o professor da Universidade Nova.
Apesar de os 4 economistas divergirem na análise ao livro de Thomas Piketty, existe, pelo menos, um ponto de convergência: independentemente da razão, vale a pena ler o livro para analisar a desigualdade, uma temática bastante relevante.
E a análise do próprio autor
Thomas Piketty - Le capital au XXIe siècle

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