Esta semana, na sequência do acordo em torno do resgate a Chipre, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, deu uma entrevista à televisão pública alemã ZDF e parcialmente reproduzida pelo Die Welt, onde foi questionado sobre as críticas que se multiplicam contra a Alemanha, em particular na Europa do Sul. “Sempre foi assim. É como numa classe [na escola], quando temos os melhores resultados, os que têm um pouco mais de dificuldades são um pouco invejosos", respondeu.
O ministro contestou porém que os alemães sejam "os maus" da Europa, como sugeria o jornalista que o entrevistava. "Não é nada disso. Os outros países sabem muito bem que assumimos as nossas responsabilidades", respondeu, lembrando a implicação dos contribuintes alemães nos diferentes planos de resgate dos países europeus em dificuldade.
Esta solidariedade "é no nosso próprio interesse. Nós beneficiamos com a Europa, com as suas possibilidades de mercados [comerciais], com o seu grande mercado", disse.
Wolfgang Schäuble acrescentou, contudo, que "cada um tem de respeitar os seus compromissos", insistindo: "Cada um tem de pôr os seus orçamentos em ordem. Cada um tem de ser economicamente competitivo. E o que assume os riscos maiores tem também de suportar os custos".
O Presidente do Conselho Económico e Social (CES), o social-democrata Silva Peneda, escreveu uma carta aberta ao ministro alemão das Finanças onde protesta contra o facto de Wolfgang Schäuble ter considerado que as críticas que se fazem à Alemanha decorrem de alguma inveja.
“O sentimento de inveja anda normalmente associado a uma cultura de confrontação e não tem nada a ver com outra cultura, a de cooperação”. Esta declaração de Schäuble “para além de revelar grande ironia, própria dos que se sentem superiores, não é de todo compatível com a cultura de compromisso (…) que tem estado na base do sonho europeu”.
"Quando o ministro das Finanças do mais poderoso estado da União Europeia faz afirmações deste jaez, passa a ser um dos responsáveis para que o projecto europeu esteja cada vez mais perto do fim".
No final da longa carta, Silva Peneda adverte que, esta retórica, leva-o a crer que, tal como referiu Juncker numa entrevista a uma revista alemã, “os fantasmas da guerra que pensávamos estar definitivamente enterrados, pelos vistos só estão adormecidos. Com esta declaração vossa excelência parece querer despertá-los”.
No dia 27 de fevereiro Fez 60 anos que a Alemanha teve perdão de dívida pública de 62%
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